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Ao visitar esta região do Canadá, lembrei-me de um conto antigo, passado no Tibet, e abro este relato sobre minha visita fazendo um paralelo entre as duas regiões. A palavra Diging, no idioma falado no Tibet, tem o significado de ‘região auspiciosa’. No passado aqui conviveram de forma harmônica diversas etnias onde os conflitos sociais eram meros relatos do que acontecia no mundo externo de Diging. Guerras, problemas econômicos, violência e outras mazelas urbanas não permeavam o espaço social na Região de Diging.

   

Em sua obra de 1925, Horizonte Perdido, o autor, James Hilton, inspirado na Região de Diging, descreve para o mundo ocidental, uma sociedade chamada de Changri-la ou Xangri-lá. No seu livro, Xangri-lá está localizada junto a paisagens deslumbrantes, onde a sociedade vive em paz e harmonia e completa felicidade, onde o tempo tem outro sentido para os habitantes, as pessoas não envelhecem em Xangri-la, enfim, a felicidade é eternizada. Provavelmente, Hilton nunca colocou os pés no Canadá, mas se sua obra fosse escrita hoje, este país seria o candidato perfeito para uma obra sobre a ‘Sociedade Ideal’.

 

Tomei a decisão de conhecer o Canadá em 2012, e o caminho escolhido daquela vez teve início em Montreal. Foi uma jornada de seis mil e quinhentos quilômetros, atravessando o país de costa a costa  dirigindo pela rodovia Trans-Canada Highway. Na segunda visita ao país, feita em 2014, embora não tenha feito o mesmo roteiro da primeira ida, resolvi repetir alguns lugares deslumbrantes que tinha conhecido da primeira vez.

Ao lado, a avenida central da agradável cidade de Banff.

 

Vou iniciar o relato de minha experiência nos Parques Nacionais de Banff e Jasper, localizados na província de Alberta, locais que tive a necessidade de ir duas vezes, mas ainda com vontade de voltar, graças a riqueza natural a ser contemplada. Não há aeroporto de aviação comercial de grande porte em Banff e a cidade mais próxima e bem servida de aeroporto é Calgary. Outra maneira de chegar até lá é por via rodoviária partindo de Vancouver, situada a aproximadamente 850 quilômetros de êxtase natural ao longo da rodovia. Tive a oportunidade de fazer as duas opções.


Cadeia de montanha que margeia a rodovia entre Calgary e Banff

 

Com neve este roteiro não é recomendado pois as constantes  nevascas, embora causam sensação de êxtase, trazem também preocupação. Apesar do belíssimo espetáculo, existem riscos, ainda mais considerando que há trechos bem sinuosos.  Marcas de avalanche podem ser percebidas facilmente em alguns trechos da rodovia.

Ao lado, imagem do Parque Jasper e uma das diverfsas quedas de água de Athabasca Falls.

 

Banff: Este nome deve ser guardado na memória como um dos espetáculos geológicos que a natureza disponibiliza. Na minha primeira ida, depois de 120 quilômetros, cheguei a Banff vindo de Calgary. No caminho até lá já somos brindados com muita neve e belos visuais das montanhas. A geografia e a vegetação mudam em ralação a Calgary, pois chegamos a uma região de altitude superior a 1200 metros.  Chegando no parque, é necessário pagar uma taxa de 20 dólares canadenses para que seja permitido o acesso de carro. Felizmente começamos a nossa viagem pela costa leste, e caso tivéssemos optado pela costa oeste, talvez tivéssemos ficado por este lado do Canadá mesmo e ter perdido a chance de conhecer as belezas da costa leste. Somente o que existe de beleza em Banff já justifica uma ida ao Canadá.


Lake Lousie completament congelado em abril

 


Château Lake Louise hotel às margens do deslumbrante Lake Louise

A natureza foi generosa milhões de anos atrás com a região de Banff, tanto que aqui bati meu recorde de clics na máquina e quase esgotei a memória do meu cartão de 8G, tantas foram as fotos que fiz em pouco tempo. Um confortável hotel com diária de 80 dólares canadenses para o apartamento duplo e uma belíssima vista emoldurada pela natureza. A Cidade de Banff é pequena porém oferece excelentes acomodações e atrações, dentre elas uma subida ao Monte Sanson Peak com seus 2.337 metros de altura, de onde podemos vislumbrar a região e outros picos, como o Mt Temple com seus 3.543 metros de altitude.

 

A subida ao Sanson Peak é feita por um teleférico com cabines ao estilo de gôndolas, e a visão que se tem de lá é deslumbrante. Na base do Monte é possível também fazer passeios pelos glaciares em fantásticos veículos adaptados para a neve. Na segunda ida a Banff em 2014, não foi possível subir novamente, pois a neblina era tão forte que tornou impossível sequer observar o Monte Sanson, da Cidade de Banff.

 

Banff é um lugar ideal para uma viagem romântica, e a hospedagem no hotel Banff Springs, corrobora essa idéia. Outra opção romântica de hospedagem, está no Château Lake Louise às margens do deslumbrante Lake Louise.  Tanto no rigoroso Inverno canadense ou no verão, a beleza do Lake Louise é impactante. A primeira vez no Lake Louise aconteceu em abril, nem por isso o frio aliviou (4 graus centígrados) mas a sensação térmica era de um frio ainda mais intenso.

Ao lado, imagem de Lake Louise no inicio do outono canadense. Esse lago fica completamente congelado durante o inverno.

 

Na segunda vez era início do outono a temperatura chegava a  dez graus abaixo de zero. Nem todos os lagos e atrações são acessíveis quando há neve em Banff, portanto quem não se dá bem com o frio deve evitar ir nessas épocas. Para quem dispõem de tempo, sugiro uma ida até a cidade de Jasper, a qual dá o nome ao parque nacional situado aproximadamente a 300 quilômetros de Banff. Este local é outro show da natureza, e o cenário formado pela cadeia de montanhas acompanha todo trajeto até lá, ao longo do qual se sucedem inúmeros lagos e geleiras.  Sugiro, no entanto, evitar fazer o caminho se houver neve na estrada, pois a dirigibilidade fica difícil e tomei um susto com duas rodopiadas na estrada na segunda ida a Banff.

 


Vista cinematográfica do Sanson Peak, em Banff

A exemplo de Banff, o caminho até Jasper, deve ser feito com tempo suficiente, pois é praticamente obrigatório fazer paradas nos diversos pontos de observações existentes ao longo da rodovia, os quais permitem admirar a força da natureza local. Dentre as várias atrações de Jasper, destacam-se Maligne Canyon e Athabasca Falls. Lá podemos constatar as maravilhas que as águas do degelo das neves são capazes de esculpir nas rochas ao longo do tempo. Procure fazer os passeios com um bom par de tênis, pois é necessário caminhar por trilhas que nem sempre são regulares. Lembre ainda que existem ursos na região, o que é lembrado por diversos avisos no local.

 

No inverno as atrações de Jasper também ficam comprometidas, por exemplo o teleférico Sky Tram que leva ao topo da montanha de 2.277 metros junto a Jasper oferece uma visão belíssima da região não funciona no inverno. A vida animal é mais visível em certas estações, sendo que no outono e inverno poucos animais são vistos. Mesmo assim não é difícil deparar com cervos em qualquer época do ano. 

 

O Canadá superou minhas expectativas como turista, não é possível esgotar a riqueza natural e cultural desse admirável país em uma única visita, e olha que percorri seis mil e quinhentos quilômetros na primeira viagem. Assim como tenho hábito de repetir os lugares que já visitei, alguns até mesmo próximo de dez idas, o Canadá estará sempre na minha agenda de possível regresso. Não há uma região no país que retrate a cultura canadense, e cada província tem sua riqueza cultural e turística a ser contemplada. A região de Banff é apenas um desses tesouros garimpados nas minhas viagens. O melhor período para desbravar o Canadá é entre abril e outubro, pois no inverno rigoroso as condições climáticas restringem muito a contemplação da riqueza natural canadense.

 

Silva Romeu, autor das fotos e texto acima, é colaborador do VI. Mais detalhes em Colaboradores do VI