Inicio
Banff Natl Park
Calico Ghost Town
Carcassone
Carlsbad Caverns
Grand Canyon
Ilhas Gregas
Loch Ness
Mammoth Cave
Canal da Mancha
Monument Valley
Niagara Falls
Painted Desert
Rio Reno
Route 66
Mont Saint Michel
Sequoia Natl Park
Stonehenge

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

Foi assistindo o programa Fantástico que vimos, pela primeira vez, imagens deste lugar. Infelizmente a reportagem estava terminando, e não deu para ouvir onde ficava nem qual era o nome daquele lugar tão surrealista, com um cenário que lembrava uma paisagem lunar ou um cenário de outra dimensão. Mas as imagens eram tão fortes, belas e impressionantes, que não descansamos até descobrir o nome do local sobre o qual havia sido feita a reportagem. E seu nome era Monument Valley.  Assim era chamada, descobrimos, aquela remota e árida região dos Estados Unidos, situada no estado de Utah, quase divisa com Arizona. Naquele mesmo instante, então, começaram os planos para nossa visita àquele lugar. Decidimos que tínhamos que montar um roteiro pelos Estados Unidos passando por Monument Valley.

   

Mas na verdade foi necessário bastante imaginação para montar um que passasse por Monument Valley. E a razão é que este é um lugar afastado de praticamente tudo. Ninguém passa por Monument Valley para ir a lugar algum. Quem vai até lá tem por objetivo conhecer Monument Valley. E pronto. A estrada que corta esta região atravessa a divisa entre os estados de Utah e Arizona, uma das localidades mais áridas e desérticas do país. O lugar é freqüentado por indígenas (esta é uma reserva Navajo), turistas, pesquisadores e os poucos moradores desta parte do país. Mas não deixe isto lhe desanimar. Vale a pena, e muito, encarar algumas horas de estradas desertas para conhecer este lugar, e à medida que nos aproximávamos, estranhas formações rochosas surgiam em volta e todo o cenário começava a mudar, tínhamos a impressão que estávamos iniciando uma jornada em outro planeta.


 

Para não dizer que não há cidade alguma na região existe Kayenta. Esta pequena localidade de cinco mil habitantes faz parte da Nação Navajo, uma grande reserva indígena que ocupa uma boa fatia do estado do Arizona e abriga os descendentes da tribo que, antes da chegada do homem branco, era a dona absoluta destas terras. Assim, costuramos um roteiro que, saindo de Flagstaff, Arizona nos levasse pela estrada 163, onde pernoitaríamos em Kayenta, e que serviria como ponto de partida para nossa visita ao Monument Valley, e de onde seguiríamos em frente até Salt Lake City. Kayenta está situada cerca de trinta quilômetros ao sul do vale, tem poucos hotéis, restaurantes e mercados, mesmo assim é um verdadeiro oásis em meio a estas terras desérticas, fornecendo quase todos os serviços essenciais aos turistas.

 

Por estar situado dentro de uma reservas indígena, Monument Valley não pode ser visitado por conta própria. Os próprios Navajos organizam e exploram a visitação turística do local. As melhores excursões tem como ponto de partida o hotel Goulding's Lodge, situado praticamente de frente para a entrada de Monument Valley. Não ficamos hospedados lá, mas de manhã bem cedo deixamos o confortável Best Western Wetherill Inn, situado em Kayenta, percorremos os trinta quilômetros até Goulding's Lodge e nos inscrevemos numa das excursões diárias que percorrem a reserva indígena. Existem excursões completas, de dia inteiro e excursões de meio dia, de forma a oferecer opções para todos os visitantes.

Fomos os primeiros a chegar no local de saída e o tempo parecia que não ia ajudar muito, pois de manhã bem cedo estava tudo encoberto e até começou a chover. Logo pensamos: Será possível vir de tão longe, numa viagem planejada há tempo para ficarmos aqui embaixo de chuva? Mas o guia Navajo que iria acompanhar nossa excursão nos esclareceu que o tempo aqui é assim mesmo, durante a noite esfria muito, pode até chover de madrugada, mas com o correr das horas começa a aquecer e o sol sempre aparece com toda força. Coisas de deserto.

 

Saímos do Goulding's Lodge por volta de sete horas, um pequeno grupo de turistas, quase todos americanos, além de um casal de alemães e nós dois. Nosso veículo era um pequeno caminhão, com a parte de trás adaptada com banquinhos sob uma cobertura de lona. Um veículo rústico, mas qualquer coisa diferente iria destoar do cenário que nos aguardava. Além do mais, somente a estrada principal era asfaltada, daí para a frente todas as rotas eram de terra batida, portanto um veículo parrudo e com tração nas quatro rodas seria essencial para agüentar o tranco que vinha pela frente.

A primeira parada, antes de deixarmos a estrada asfaltada, foi numa pequena cabana típica Navajo construída às margens da via (veja foto 12 desta página), onde uma índia com pele tão enrugada como uma lixa separava as fibras de algodão e as inseria num tabuleiro, para tecer os fios. Seu rosto enrugado, mas de uma dignidade comovente parecia refletir as agruras da cultura Navajo. Inevitável sentir um certo constrangimento ao ver aquela mulher precocemente envelhecida cercada por câmeras digitais e filmadoras, sem sorrir nem olhar diretamente para nenhum dos presentes. Talvez ela estivesse pensando no passado da poderosa nação Navajo, que em pouco mais de cem anos, passou de dona destas terras a uma simples lembrança ou curiosidade turística, com suas mulheres tendo que ganhar o sustento com a venda de artesanatos e tapetes.

Deixando a cabana Navajo para trás penetramos nas terras selvagens do Monument Valley. No idioma Navajo esta região é conhecida como "Tse' Bii' Ndzisgaii", significando "Vale das Rochas", tendo permanecido durante décadas praticamente esquecida. Foi graças às produções de Hollywood que o lugar acabou redescoberto, como com o famoso filme de John Ford, Stagecoach (No tempo das Diligências) rodado em 1939 e que logo iria se tornar um clássico dos Westerns. Índios, cowboys, diligências perseguidas por Apaches eram temas freqüentes de John Ford, e a maior parte destas produções teve como cenário as rochas de Monument Valley. O lugar também serviu de locação para outros filmes, como De volta para o Futuro III, Forest Gump (a cena em que ele decide parar de correr), além de muitas séries de televisão e um número infindável de capas de livros, DVDs, desenhos do Papa Léguas e até mesmo games diversos.

Monument Valley está situado a uma altitude de mil e setecentos metros acima do nível do mar, portanto, apesar de ser deserto é comum fazer frio à noite, sendo que no inverno a temperatura pode chegar a zero grau. Tudo aqui é feito pelos Navajos, desde a cobrança da taxa no portão de entrada, como a venda de artesanato, tapetes, aluguel de cavalos, e a organização dos tours diários.

 

Ao lado uma imagem feita na estradinha de acesso ao interior do parque. Mais adiante a estrada fica ainda pior. Estes verdadeiros castelos de rocha são conhecidos como "Butte" enquanto os castelos de topo plano são chamados de "Mesa". As três rochas que aparecem na imagem ao lado formam o conjunto símbolo de Monument Valley, e costuma aparecer em muitas imagens de divulgação turística, sendo que a rocha à esquerda da foto foi batizada de Mitchel Butte. Praticamente todas rochas por aqui tem nomes próprios, como Merrick Butte, Clay Butte, Elephant Butte, Sentinal Mesa, Wetherill Mesa, e assim por diante.

 

O conjunto sem igual de Buttes e Mesas, todos imensos, como se fossem monumentos erigidos pela própria natureza acabou dando ao lugar o nome de Vale dos Monumentos, ou Monument Valley, em Inglês. A trilha de terra batida que percorre parte do vale tem vinte e sete quilômetros de extensão, mas quem quiser ver ainda mais pode optar por acampar no local. Neste caso os interessados podem optar pelo Mitten View Campground, que dispõe de diversas facilidades. É cobrada uma taxa em função do número de pessoas no grupo e um adicional para pernoite. Ao lado, uma diligência semelhante à tantas outras que costumavam passar por aqui a caminho do oeste.

 

Os pontos turístico mais famosos de Monument Valley são formações rochosas estranhas e imensas, conhecidas como Merrick Butte, Elephant Butte, Three Sisters, John Ford's Point, Camel Butte, The Hub, Totem Pole, Sand Springs, Artist's Point, North Window e the Thumb, todos capazes de fornecer imagens espetaculares.

 

Imagem feita a partir um mirante no topo de uma das rochas, local onde os Navajos gostam de levar os turistas interessados em fazer fotos panorâmicas do vale. Esta área é formada por um planalto do rio Colorado, que percorre grande parte do centro-oeste americano. As marcas registradas de Monument Valley são as imensas formações rochosas como as que aparecem na imagem ao lado, algumas com mais de trezentos metros de altura. A coloração avermelhada das rochas é conseqüência da presença de óxido de ferro misturado a outros elementos, encontrados com facilidade no solo sedimentar desta região.

 

Ao lado, foto de nosso guia Navajo. Toda excursão por Monument Valley tem que ser acompanhada por um guia destes. A escolha do roteiro ou roteiros a percorrer depende de sua disposição e do tempo que você dispõe para a visita. Roteiros de um dia inteiro vão mais longe e permitem conhecer mais. Roteiros de algumas horas a cavalo permitem acessar lugares mais remotos, onde veículos não podem chegar, subir em pontos elevados e fazer fotos incríveis de todo o vale. Um destes locais é conhecido como Agathla Peak, um antigo vulcão, mas que agora não oferece maior perigo. Ao longo dos passeios o guia vai explicando o significado de cada nome, detalhes sobre cada Butte ou cada Mesa, fala sobre a importância da vegetação encontrada por ali, dos locais considerados sagrados pelos Navajos, conta detalhes sobre sua cultura e civilização, seus rituais e estilo de vida. Vemos também ruínas da civilização Anasazi, petróglifos e arcos naturais de pedra. Ele nos lembra também que Monument Valley, ao contrário do que muitos pensam, não é somente mais um parque nacional administrado pelo governo, mas sim uma reserva indígena, uma terra considerada sagrada pelos Navajos e que devemos respeitar este solo e suas rochas, assim como os Navajos sempre fizeram.

 

Ao lado uma típica residência Navajo. Geralmente elas tem somente uma abertura, que funciona como porta. Entre os ensinamentos que o guia nos transmitiu estava a recomendação para somente entrarmos se formos convidados, já que muitos descendentes Navajos continuam morando aqui como seus antepassados e podem não gostar de ter suas casas invadidas por turistas barulhentos. A residência tem o formato que lembra um iglu, mas totalmente coberta de barro endurecido.

Em tempo, a pronúncia correta do nome é Návarro.

 

Cada monumento de Monument Valley tem um nome. O mais alto, que aparece na imagem à esquerda é conhecido como Toten Pole e tem duzentos e setenta metros de altura (equivalente a um prédio de noventa andares), e diâmetro no cume suficiente para estacionar um automóvel. Nosso guia Navajo contou, entre risadas, que o ator George Kennedy fez um filme em que era colocado de helicóptero naquele local, mas quando chegou a hora só aceitou rodar a cena depois de beber meia garrafa de whisky.

 

Uma das coisas mais fantásticas neste lugar é a capacidade que ele tem de mudar de aparência, como se fosse um camaleão. Dependendo da hora, do ângulo de incidência da luz do sol ou das nuvens tudo pode mudar. O nascer e o por do sol, quando as sombras se esticam no chão, costumam ser os momentos mais dramáticos, e que fazem a alegria dos fotógrafos. Não há qualquer serviço no interior do parque, portanto não deixe de levar uma ou duas garrafas de água e protetor solar. Caminhadas por perto das trilhas são permitidas, mas é sempre bom tomar onde se pisa.


Vídeo: Visitando Monument Valley

Nossa visita ao Monument Valley durou dois dias, mas não acampamos no lugar, fizemos o roteiro tradicional, levado pelos Navajos, e no dia seguinte exploramos um pouco mais o local, por conta própria. Ainda assim foi uma visita tão diferente e marcante que mesmo com o passar do tempo nos lembramos de cada detalhe e permanece difícil descrever a sensação que experimentamos neste lugar intocado pelo tempo, onde rochas majestosas lembram catedrais milenares e onde o silêncio e paz absolutos dos desertos contrastam com o agito e o estresse das cidades onde vivemos. Formas estranhas e misteriosas, vultos e sombras, que nos dão a impressão que há algo mais para saber sobre este lugar, mas que não é contado aos turistas. Dizem os Navajos que deuses habitam estas rochas. Com certeza Monument Valley é um lugar para reverenciar e nunca mais esquecer.

Vídeo: Partindo de Monument Valley pela estrada 163


Jovem Navajo