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As primeiras imagens que um dia vi daquele lugar foram num calendário da Air France, não me lembro mais de que ano, ainda quando criança. As imagens daquela fortaleza medieval ilhada no meio de lugar nenhum me fascinavam, e eu era capaz de passar horas olhando para aquele imenso pôster pendurado na parede, sonhando com o que, na época, me parecia tão distante e impossível de visitar como a própria lua. Eu não sabia onde era aquele lugar nem como se chamava, mas isso não importava. Eu sabia que era um lugar mágico, único, e que quem tivesse a oportunidade de um dia visitá-lo, nunca mais seria o mesmo daí para a frente.

O ano acabou, o calendário foi retirado da parede, mas antes de ir para o lixo eu separei e guardei aquela página. Ela ficou enrolada no armário, bem guardada, esperando a hora certa de surgir novamente.

   

O tempo passou, os anos correram e um dia, inesperadamente e sem aviso prévio, a imagem surgiu novamente, fazendo meu coração disparar como se reencontrasse uma antiga paixão. Ela não era mais um pôster de calendário, mas permanecia radiante e bela, numa página daquele folheto turístico. E dessa vez ela tinha nome, sobrenome e endereço: Mont Saint Michel, noroeste da França. Começavam então, nesse mesmo dia, os planos para finalmente conhecer ao vivo aquele lugar mágico, numa futura viagem à Europa.

Anos depois, quando estacionamos em frente ao monte, finalmente aquele antigo fascínio à distância, exercido através de imagens, se transformaria no fascínio de encontrar ao vivo a secular abadia medieval construída no Mont Saint Michel, divisa entre Bretanha e Normandia, um dos lugares turísticos mais visitados da França, e patrimônio universal da humanidade.

 

O Mont Saint Michel situa-se a relativamente pouca distância de Paris, aproximadamente quatro horas de carro, ou um pouco menos, dependendo de sua pressa em chegar lá. Por duas vezes, em dois anos diferentes, tivemos chance de visitá-lo, da primeira vez a visita foi num dia pesado e chuvoso, e à medida que nos aproximávamos e a silhueta do morro se tornava visível no horizonte, o céu cinzento das primeiras hora da manhã conferiam uma dramaticidade extra ao local.

Da segunda vez que lá estivemos, dois anos depois, o tempo era exatamente o contrário de nossa primeira visita, e tivemos a sorte de contar com um sol radiante e um céu azul de ponta a ponta. Cenário bem menos dramático com certeza, mas bem mais agradável para um programa turístico. A imagem ao lado foi feita em nossa primeira visita, quando chovia, e a imagem logo acima, feita quando voltamos à St Michel dois anos depois, num dia de sol.

 

O que torna o Mont Saint Michel especial, diferente de qualquer outro lugar, tão procurado por turistas dos quatro cantos do mundo, completamente fascinante e capaz de deixar visitantes de boca aberta, embevecidos ao chegar, não é somente o fato de tratar-se de uma abadia secular construída na parte mais alta de uma cidadela medieval, mas o local encanta a todos também pelo cenário em volta. A costa desta região francesa, pelas suas características, é o lugar do mundo onde ocorrem os maiores desníveis entre marés altas e baixas, podendo a diferença chegar a quinze metros.

Ou seja, dependendo da época do ano, das fases da lua, da influência solar etc a cidadela e sua abadia medieval podem situar-se no meio de um areal sem fim, a dez quilômetros de distância do mar, ou então completamente envolvidas pelas águas, como se fosse uma ilhota, ligada à terra firme somente por uma estradinha, que impede que o local fique isolado durante as marés cheias (como mostrado na primeira imagem desta página). Em outras palavras, o mesmo local, dependendo da hora ou do dia de sua visita poderá assumir um visual e situar-se num cenário completamente diferente.

Vídeo: Primeira visita ao Mont Saint Michel

A origem exata da cidadela, ou das razões que levaram à sua construção num local de tão difícil acesso, não são conhecidas em detalhes, mas foram um mistura de motivos religiosos, políticos e militares, com maior ou menor predominância de alguns sobre outros, conforme a época. Iniciando no ano 709, quando surgiu a primeira igrejinha sobre o rochedo, obras diversas foram contribuindo para que, ao longo dos séculos, o local assumisse a forma que possui em nossos dias.

O nome do local - Mont Saint Michel - foi motivado, conta-se, porque naquele distante ano, o arcanjo São Miguel teria feito uma aparição para o bispo da cidade de Avranches, determinando que fosse construída, no topo daquele rochedo isolado à beira mar, uma capela para honrar o Senhor. A tarefa difícil seria uma prova de fé, e representaria também uma proteção espiritual para todos.

A tarefa foi cumprida, a capela foi erguida, e no topo da mesma foi colocada uma imagem do arcanjo São Miguel. O mosteiro passou então a abrigar religiosos, sendo que com o tempo nas encostas do morro surgiram outras construções, residências e estabelecimentos comerciais. Posteriormente foram erguidas muralhas e torres fortificadas, destinadas a manter afastados invasores mal intencionados, em especial os ingleses.

Vídeo: Segunda visita ao Mont Saint Michel (parte 1: chegada e área de comércio)

Há excursões de ônibus partindo de Paris até Mont St Michel, mas nas duas vezes que lá estivemos estávamos de carro. À medida que nos aproximamos do litoral a paisagem muda, com a predominância de campos planos, ovelhas pastando e uma estreita estradinha (prolongamento da D-976) conduz os visitantes até a base do morro. Nas últimas centenas de metros, já com a silhueta da abadia visível ao longe, a estrada segue bem acima do nível do terreno, em meio a terrenos pantanosos, e é fácil ver que a região é sujeita a freqüentes alagamentos. Diariamente o local recebe muitos turistas, vindos em centenas de automóveis e dezenas de ônibus, que estacionam ao longo desta estrada, portanto quanto mais cedo você chegar melhor, pois precisará caminhar menos de seu carro até a entrada da cidadela.

Na imagem ao lado, um trecho interno das escadarias que conduzem à parte superior da cidadela, onde encontra-se a abadia. Prepare suas pernas, pois como seria uma heresia instalar elevadores ou planos inclinados em Saint Michel, os visitantes do século 21 tem que fazer a mesma coisa que os antigos monges do século 10, ou seja, subir a pé os incontáveis degraus morro acima. Mas relaxe, porque vale a pena, nós garantimos.

O conjunto de construções e ambientes que compõem o monte Saint Michel, forma um verdadeiro labirinto, que deve ser explorado por inteiro. Existem visitas guiadas em várias línguas, mas também é possível percorrer o local por conta própria, e ir descobrindo aos poucos os salões, corredores, escadarias, câmaras escuras, portais, passagens, esculturas, e toda uma variedade de detalhes e ambientes medievais que fazem desse local algo único no mundo.

 

Ao lado outra imagem feita durante nossa subida para a abadia. Observe ao fundo a parte superior de umas das torres de proteção da cidadela, com turistas apreciando a vista na direção da baía. Mais além é possível ver também o imenso areal que envolve o morro nas horas de maré baixa. Muitos visitantes, além de percorrer cada recanto da cidadela aproveitam também para caminhar pelo areal. Neste caso é recomendável dispor de botas de borracha de cano longo, porque as pernas afundam muito na areia molhada. E principalmente é importante conferir os horários de maré alta, porque a velocidade das águas é muito rápida. Conta-se que diversos visitantes distraídos foram surpreendidos pela velocidade da águas subindo, não conseguiram voltar e os resultados foram trágicos. É comum os moradores da região dizerem que aqui a maré sobe "com a mesma velocidade de um cavalo galopando".

Mesmo em momentos de maré baixa há alguns trechos com areia movediça, portanto se quiser mesmo caminhar pelo imenso areal entre o morro e o mar peça para ser acompanhado por um guia local. Geralmente guias podem ser contratados no escritório da administração, situado na entrada da cidadela, e eles organizados grupos de 10 a 5 pessoas para explorarem a região além das muralhas.

Vídeo: Segunda visita ao Mont Saint Michel (parte 2 / Chegando ao topo do monte)

Ao lado uma imagem da torre da abadia do Mont St Michel. Bem no alto, na pontinha da agulha, quase imperceptível na fotografia, há uma escultura São Miguel, em metal dourado, situada 170 metros acima do nível do solo.

A primeiras construções ao pé da abadia surgiram no século IIX, e por muitos anos a economia local subsistiu graças aos peregrinos religiosos, principalmente até a época da revolução francesa. A partir do século 19 o local começou a atrair também pintores românticos, como Guy de Maupassant, fascinados pelo cenário sem igual. Com o passar do tempo, a propaganda difundida pelos trabalhos artísticos dos pintores, e a melhoria das estradas, Mont St Michel ganhou notoriedade em toda a França e até mesmo além dela. Atualmente, cerca de três milhões de pessoas visitam anualmente o monte, das quais um terço faz a peregrinagem completa, subindo o morro até a abadia. Em dias festivos ou épocas de férias, o número de visitantes diários chega em média a vinte mil pessoas.

Vídeo: Segunda visita ao Mont Saint Michel (parte 3: Abadia e mosteiro)

Com tantos visitantes vindos de tantos lugares do mundo o comércio logo se estabeleceu em Mont St Michel, e você perceberá isto logo ao chegar lá. Ao atravessar o portão de acesso à parte interior das muralhas os visitantes seguem por uma simpática e estreita ruela de aparência medieval (imagem 5 desta página, acima), repleta de lojinhas oferecendo tudo que seria possível imaginar sobre o local, com a imagem gravada ou com a forma do monte. São milhares de pratinhos, porcelanas, chaveiros, ímãs, guardanapos, calendários, camisetas, pôsteres, postais, vinhos, biscoitos, doces, chocolates, publicações, DVDs etc. Inevitável levar para casa algum tipo de lembrança. Sugerimos experimentar os famosos "Galettes Bretonnes", um delicioso biscoitinho típico da Bretanha que parece derreter na boca (tente encontrar o artesanal, bem melhor que o industrializado, presente em todos os lugares). 

Depois de atravessar cerca de duzentos metros de comércio começa a subida propriamente dita ao monte, e nesse percurso estão alguns hotéis (sempre lotados) e bons restaurantes. Mais adiante, após o trecho comercial, atravessando uma imponente porta de madeira, chega-se à área religiosa do monte, onde então uma nova seqüência de escadas conduzem os visitantes à plataforma superior, de onde se tem acesso à basílica. 

 

A parte superior do monte é dominada pela abadia de Saint Michel, (imagem ao lado), pequena e rústica, mas de uma beleza comovente. De tão bela, a abadia passou a ser conhecida como "La Merveille", ou seja, A Maravilha. Mas se você pensa que ao chegar aqui já terá visto tudo engana-se. A abadia é somente uma das belezas que o monastério guarda para os visitantes. O roteiro interno, após visitar a abadia prossegue por diversos ambientes belíssimos. Salões, arcadas, colunatas, câmaras escuras, rampas, jardins internos, o refeitório dos monges e outros ambientes, todos em pedra, que nos dão a nítida impressão de ter voltado mil anos no tempo, e estarmos percorrendo um local que parou no tempo, em plena Europa medieval (e pensando bem, é isto mesmo).

Os trechos fortificados de Mont St Michel são igualmente impressionantes. Destacam-se as grandes torres (tour Claudine, tour du Nord, tour de la Liberté, tour de l’Arcade, tour du Roi e tour Boucle) que flanqueiam as muralhas da cidadela e o caminho de ronda, que faz o contorno da cidadela, e oferece visuais belíssimo. 

 

Um dos locais mais belos do monastério é seu claustro, onde fizemos a foto ao lado. Está situado num dos planos mais elevados de St Michel, e o acesso até ele situa-se logo após um pátio interno, na saída da abadia. Para percorrer os ambientes internos da abadia, duas horas serão suficientes. Esta é uma parte menos cansativa da visita, porque se o acesso à abadia é feito por uma pronunciada subida, a descida acontece no sentido descendente, portanto bem mais agradável. Nem todos os ambientes costumam estar abertos à visitação todos os dias, e em nossas duas visitas encontramos diversos lugares que tínhamos visto da primeira vez fechados, enquanto outros que não tínhamos podido visitar da primeira vez estavam agora abertos.

 

À medida que se vai percorrendo a abadia e os diversos ambientes vão se sucedendo ao longo do trajeto, vamos também nos aproximando da porta de saída da abadia, e depois de algum tempo estamos novamente na área comercial de Mont St Michel. A esta hora todo mundo já está com fome, e com certeza você vai querer aproveitar a oportunidade de conhecer alguns pratos típicos da cozinha local. Entre os mais lembrados estão sempre "Agneau de pré-salé" (carne de ovelha assada ou grelhada, geralmente acompanhada por batatas) ou o famoso "Omelette de la Mère Poulard", especialidade do restaurante Mère Poulard, um dos mais tradicionais de St Michel. Mas mesmo tendo almoçado no Mère Poulard, nossa pedida foi outro prato tradicional da região, as "Tripes à la Mode de Caen" (um tipo de dobradinha ou mondongo), muito suculento. Desnecessário dizer que um vinho será essencial para acompanhar sua refeição, mas quanto à isto fique tranqüilo, porque mesmo o simples vinho da casa é ótimo.

 

Ao lado, outra imagem aérea da região de Saint Michel, mostrando o momento em que as águas começam a subir, envolvendo o monte. Quem quiser ver o local completamente ilhado, deverá se informar sobre as datas das grandes marés da região. Geralmente elas acontecem durante os períodos de equinócio e solstício, cerca de 50 vezes por ano. Nos outros dias o espetáculo também é impressionante, mas as águas não avançam tanto. O local não tem importância apenas religiosa, ou arquitetônica, mas também estratégica. Conta-se que no século 12, durante a Guerra dos Cem Anos, entre França e Inglaterra, 119 cavaleiros franceses se encastelaram aqui e não permitiram que os ingleses tomassem o monte. Eventos como este contribuíram para tornar o Mont St Michel um dos mais fortes símbolos da história e identidade francesas.

 

Mont Saint Michel consiste numa rocha de puro granito com 84 metros de altura, sendo que a pequena ilhota tem diâmetro de oitocentos metros. O melhor lugar para se hospedar na região é na cidade vizinha de Saint Malô, a meia hora de carro de Saint Michel (veja também a página St Malo, no setor Europa). 

É difícil escolher adjetivos para descrever bem este lugar. É improvável sair daqui sem estar deslumbrado com sua beleza. E é impossível deixar de ter certeza que os momentos passados aqui nunca mais serão esquecidos.  Mont Saint Michel não é somente um pedaço da Europa medieval que sobreviveu, mas é também um monumento de fé, construído num local de beleza única e dramática. Uma visita para se lembrar para sempre.


Reprodução da escultura dourada de Saint Michel existente na flecha de sua abadia