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Pouco lembrado em termos turísticos, pelo menos por quem não é americano, o estado de South Carolina é mais ou menos como um estado meio campo. Um pouco ao norte da Florida (e todas suas atrações) e um pouco ao sul de New York (e todas suas tentações). Nós passamos por aqui meio de passagem, mas a verdade é que a visita acabou nos revelando uma injustiça turística, porque há muito para se ver neste estado e talvez nós é que pouco sabíamos disso. Sua economia apoia-se principalmente na produção de soja, arroz e nas indústrias de carne de frango, gado e laticínios e também são importantes no estado a produção de produtos químicos, maquinarias e indústria têxtil. E o turismo, principalmente interno, é também uma importante fonte de renda para a economia local. South Carolina ainda não foi descoberta pelos turistas de outros países, o que é uma grande injustiça.

Ao contrário do que se poderia imaginar, o nome do estado não foi dado para homenagear alguma Carolina, mas sim para honrar o rei Charles I, da Inglaterra. (Em latim Charles escreve-se Carolus, o que acabou resultando no nome Carolina, em inglês). Este é um autêntico estado do sul americano, com todas implicações histórias e políticas que isto significa. Foi o primeiro estado a votar pela separação do resto do país (a chamada 'Union', e fundador dos Estados Confederados da America, o que acabaria levando os Estados Unidos à guerra civil, em 1861).

A principal cidade de South Carolina é Charleston, mostrada na foto ao lado. Fundada em 1670, ela cresceu graças ao seu porto, que logo se tornou um dos principais da região. O trecho mais atraente da cidade é ao longo da avenida Murray, margeando a foz do rio Ashley. Lá estão as mais imponentes mansões em estilo clássico, alinhadas lado a lado. Charleston é mesmo muito bonita, não somente seu trecho de frente para a baía, mas também seu centro histórico merece ser conhecido a pé e com calma. Mais ainda mais gostoso é fazer este roteiro a borde de típicas carruagens de época, o que contribui para deixar ainda mais forte aquele clima de século 19, época do apogeu da Charleston, devido à riqueza trazida pelas fazendas de plantação de algodão.

 

Ao lado uma imagem do Capitol de Columbia, situada no centro do estado e capital estadual desde 1786. Este é o local mais importante de Columbia, situado no centro de um belo gramado. É a partir dele que se irradiam as principais ruas da cidade, sendo o setor comercial da cidade ao longo da Main Street. Como quase toda capital estadual americana, Columbia é basicamente uma cidade administrativa, e percebemos que muitos funcionários do governo estadual aproveitam a hora do almoço para, após comer uma pizza ou hot dog, calçar um par de tênis e sair a caminhar pelas calçadas em volta do prédio do Capitólio estadual. Ao passar por aqui turistas devem aproveitar para conhecer o prédio do State Capitol (foto acima) e ainda o Columbia Museum of Art, Carolina Museum e McKissick Museum.

Chamou nossa atenção, logo que chegamos ao estado, o número de vezes que víamos a palavra 'Palmetto' escrita em diversos todos lugares. Eram coisas como Palmetto Hospital, Palmetto Street, Palmetto Association etc. Mas a razão, logo descobrimos, é que o apelido de South Carolina é 'Palmetto State' (terra da palmeira), e tudo, desde as placas de automóveis até os símbolos estaduais ostentam uma palmeira branca como símbolo estadual.

 

Ao lado, fachada da Magnolia Plantation, uma das mais famosas do estado. Nessas fazendas era plantado principalmente algodão, o maior sustento da economia sulista. Como tantas outras Plantations espalhadas pelo sul do país, essa também foi transformada em atração turística. Enquanto nas fazendas estabeleceu-se uma sociedade rica e aristocrática, os campos eram trabalhados por escravos trazidos da África. Seu número era tão grande que em 1720 eles já constituíam a maior parte da população de South Carolina. O resultado dessa equação foi que, já em 1800 o estado era totalmente dependente da mão de obra escrava para sua economia.

Assim, quando a escravidão foi abolida pelo presidente Lincoln, o estado foi o primeiro a não aceitar a nova lei e em 1860 decidiu separar-se na União (o resto do país). Nos anos seguintes outros estados que também dependiam da mão de obra dos escravos para sua economia aderiram ao movimento iniciado pela South Carolina. Este movimento separatista foi o estopim da guerra civil, que iria durar de 1861 a 1865. O primeiro combate entre tropas do sul contra o exército federal (União), aconteceu com o ataque à Fort Sumter (veja abaixo). Daí em diante, estava declarada a guerra civil. 

Os resultados da guerra foram desastrosos para South Carolina. Um quinto da população estadual de homens brancos estava morta em 1865. A economia ficou destruída e as Plantations e casarões da capital Columbia foram incendiados pelas tropas vitoriosas do exército nortista.

As décadas seguintes foram de desespero e muita luta, tentando reerguer a economia do estado. Ao mesmo tempo, embora os escravos tivessem sido libertados, formava-se entre brancos e negros um sombrio e destruidor preconceito racial, que iria atravessar décadas e causar muitas vítimas de ambos os lados. Após a abolição a política de segregação racial continuou a vigorar oficialmente em muitos estados durante décadas, fazendo com que ônibus, banheiros públicos, restaurantes e diversos outros lugares do dia a dia fossem destinados exclusivamente a brancos ou a negros, sem mistura.

Apos a derrota dos estados do sul na guerra civil a economia das Carolinas entrou em colapso. Foi muito lentamente, e graças ao estabelecimento de indústrias têxteis e mais tarde ao turismo, que South Carolina conseguir reerguer-se economicamente. Apenas a partir dos anos 60, graças a lideres como Martin Luther King, a discriminação racial terminou e hoje os americanos em geral e sulistas em particular podem conviver num país com menos injustiças raciais. 

A região ao longo das margens de Santee River parece um refúgio do agito das grandes cidades. Desde quando Carolina era povoada apenas por índios, essa era uma região onde a pesca desempenhava a atividade principal. Passeios de caíque são um programa turístico muito comum nesta área. Já entre os moradores locais a atividade predominante é voltada para a pesca, e o que domina a paisagem são os pequenos barcos pesqueiros, e das pessoas que parecem passar essa atividade de pai para filho. Conhecemos pessoas por aqui que nunca saíram de seu estado, pessoas de bom humor e riso fácil mas que não tem a mínima idéia do que acontece no mundo fora de sua terrinha, e que nem imaginam onde fica o Brasil.

 

Ao lado, imagem de uma igreja protestante, situada à beira da estrada 76, que corta parte do estado no sentido leste-oeste. É interessante observar a imensa quantidade desses templos religiosos espalhados pelo interior do país, praticamente todos com o mesmo estilo arquitetônico, um prédio moderno, discreto e com uma alta torre desprovida da Cruz. Quando fizemos essa foto ela estava vazia, mas quem passar nesse mesmo lugar numa manhã de domingo poderá ver que o estacionamento estará invariavelmente repleto de carros de todos os tamanhos. Mesmo vivendo no campo, todos vem de carro à igreja nos domingos de manhã, uma das mais fortes tradições americanas do interior.

Em 1629 o território que hoje corresponde às Carolinas do Sul e Norte era uma das treze colônias originalmente estabelecidas em território americano. Algum tempo depois o território foi dividido em duas partes, e nasciam assim os estados de Carolina do Sul e Carolina do Norte.

Bem próximo de Charleston está um local que vale a pena ser visitado. Conhecido como Patriot Point. Lá estão reunidos e abertos à visitação o porta-aviões Yorktown, o submarino Clamagore, o destróier Laffey, o navio da guarda costeira Ingham e diversos aviões da marinha. Quem gosta de navios e aviões não pode deixar de visitar este lugar, pois pode-se conhecer por dentro cada sala e compartimento dessas embarcações

 

Custa a acreditar que navios tão grandes e poderosos possam ser considerados obsoletos pelo governo americano, a ponto de serem encostados em definitivo e abertos à visitação, sem qualquer preocupação com eventuais segredos militares, etc. Por pouco nossa visita não aconteceu, pois naquele dia faltava luz no Patriot Point e a visitação só foi reiniciada quando estávamos nos preparando para ir embora. Ao lado, uma foto que fizemos junto aos propulsores de um caça da marinha, no convés do Yorktown. Impossível não lembrar daquele filme com Tom Cruise, Top Gun / Ases Indomáveis...

 

Outra imagem de uma das mansões de Charleston. Percorra a Rainbow Road, visite a South e East Battery, conheça o parque Middleton Place, a mansão de Drayton Hall e depois vá jantar em algum restaurante de Shem Creek. Lá estão dezenas de restaurantes especializados em Sea Food, e lá está também o melhor por do sol da cidade.

 

South Carolina tem quarenta e seis parques estaduais, onde se pode apreciar a paisagem dessas terras ao natural. Entre os pontos que mais atraem turistas no interior do estado são sempre lembrados o Carolina Sandhiils, quase na divida com a North Carolina, Lake Marion, o maior lago do estado e junto a ele o Santee Park e também a Sumter National Forest, a oeste, onde a topografia é montanhosa. Todos são lugares onde se pode passar desde algumas horas até alguns dias. Ao lado, imagem do centro histórico de Charleston.

 

Ao lado, uma imagem de Fort Sumter, forte histórico localizado numa pequena ilhota, ao sul da cidade de Charleston. O passeio até lá é feito em barcos turísticos que partem de um ancoradouro ao lado do 'South Carolina Aquarium'. Nesse forte foi dado o tiro inicial da guerra civil americana, quando as tropas sulistas tomaram a guarnição até então comandada pelo exército federal da União. A visita ao forte é uma interessante aula de história sobre a guerra civil e lá estão diversos objetos que ajudam a recriar o clima daquele período turbulento.

 

Imagem de praia da cidade de Myrtle Beach, um dos resorts turísticos mais procurados por americanos de diversos estados, graças ao clima agradável e boa temperatura durante grande parte do ano. Situada quase na divisa com o estado de North Carolina, estas areias brancas cobrem uma extensão de aproximadamente cem quilômetros, e atraem cerca de quatorze milhões de visitantes por ano. Como toda cidade turística, o local oferece diversos tipos de atrações, desde parques temáticos até simpáticos restaurantes, desde imensos hotéis até praias desertas.

 

Em resumo, South Carolina ficou em nossa memória como um lugar para quem não tem pressa. Ela é para quem gosta de cidades pequenas, calmas e gosta de caminhar por uma praia deserta. O semi abandonado farol de Morris Island, na imagem ao lado, ficou para nós como um dos símbolos desta terra. É um lugar para relaxar, sentir o vento no rosto e passear de mãos dadas, descalço na areia ao lado de alguém especial. Se você é este tipo de pessoa pode estar certo que vai gostar de South Carolina.

 

 

Hold up the glories of thy dead;
Say how thy elder children bled,
And point to Eutaw's battle-bed.
Carolina! Carolina!

Throw thy bold banner to the breeze!
Front with thy ranks the threatening seas
Like thine own proud armorial trees,
Carolina! Carolina!


Bandeira de South Carolina