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Vista aérea do centro histórico

Porque ir a Colonia del Sacramento? O que há de especial para se ver por lá? E onde fica? Bem, vamos por partes. Colonia del Sacramento fica no Uruguai, junto às margens do Rio da Prata. O que há para ver lá é um legado arquitetônico único, mesclando influências portuguesas e espanholas, perfeitamente preservadas pelo tempo, numa cidade que é quase um museu ar livre. E ir lá vale muito a pena, porque ela lembra um lugar de sonho. Aquela pequena cidade, pouco mais que uma vila, tem um toque romântico impossível de não perceber quando se caminha por suas ruas calçadas com pedras, por entre sobrados coloridos onde agora funcionam bares, acolhedores restaurantes e pousadas, por entre vielas arborizadas onde circulam carrinhos elétricos, ao lado de carros dos nos 40 que agora servem como floreiras. Acrescente boa comida, vinhos e cervejas incríveis, música ao longe, um farol antigo e uma tranqüilidade deliciosa, onde se pode ouvir passarinhos cantando e pronto, já deu para ter uma idéia de como é Colonia del Sacramento.

   

O que fez de Sacramento um lugar especial foi sua história. Ela nasceu com os portugueses, que tinham interesse em ficar de olho em seus vizinhos espanhóis, estabelecidos na margem oposta do Rio da Prata, e sua história é um ótimo exemplo das lutas e guerras travadas entre portugueses e espanhóis pela conquista das Américas. Fundada pelo português Manuel Lobe em 1680, logo no ano seguinte foi invadida pelos espanhóis. Em 1681, com a assinatura de um Tratado Provisório em Lisboa, Sacramento voltou a pertencer aos portugueses, mas em 1704, foi novamente atacada pelos espanhóis e praticamente arrasada.

Um novo tratado foi assinado em 1715, e novamente os portugueses voltaram, dando início à reconstrução da cidade e a um ciclo de ouro, quando se tornou destacado porto comercial e cultural ao norte do Rio da Prata. Mas então... novamente os espanhóis voltaram, em 1735 e depois em 1762. Mas então... os portugueses voltaram em 1763, após a assinatura de mais um tratado de paz. Como já naquela época tratados de paz não tinham valor algum, em 1777 os espanhóis voltavam uma vez mais, e agora para ficar. Mas então... já existia entre os uruguaios um forte desejo pela independência, e desta vez foram eles que decidiram enfrentar os espanhóis, o que levou finalmente ao nascimento de mais uma nação, o Uruguai. Como resultado, a história de Sacramento é um valioso mosaico da história de três nações, suas disputas, história e culturas, ao longo dos três últimos séculos.



Carro Floreira e Torre da basílica

Como curiosidade vale lembrar que Colônia do Sacramento, assim como todo território uruguaio (sob o nome de Província Cisplatina) fez parte do território brasileiro entre os anos de 1822 (ano em que o Brasil se tornou independente de Portugal) e 1828 (ano em que o Uruguai conquistou sua independência).


Margens do Rio de la Plata

A jóia da coroa de Sacramento é seu centro histórico, mostrado nas duas fotos acima. Esta é uma área com pouco mais de um quilômetro quadrado, facilmente percorrida a pé, e que pode ser conhecida com calma em um dia, sem pressa. Fica a cerca de duas horas de estrada de Montevidéu, e praticamente em frente a Buenos Aires, a pouco mais de uma hora de viagem a bordo do Buquebus. Na verdade, muita gente vem a Sacramento de manhã, passa o dia, e no final da tarde volta a BA. Mas, a não ser que você esteja com muita pressa e realmente sem tempo, isto não é uma boa idéia. Como todos os lugares especiais, este também não comporta correrias, e o ideal é vir para cá de manhã, aproveitar a tarde, curtir os incríveis visuais do sol, aproveitar a night, voltar ao centro histórico na manhã seguinte e somente partir na tarde do segundo dia. Sacramento merece.

 

Não nos hospedamos no centro histórico. Depois de pesquisar bastante sobre hotéis e preços encontramos um que reunia boa situação, instalações espaçosas e preço aceitável, o Costa Colonia Riverside, situado a cerca de um quilômetro do centro. O hotel, que nos parecia ser bom, acabou se revelando ótimo e ficamos muito satisfeitos com as instalações, limpeza e serviço. Pela manhã, depois do café, pegávamos o caminho às margens do Rio da Prata e em pouco mais de vinte minutos já estávamos chegando ao centro. Ao longo do trajeto era possível apreciar as praias do Rio da Prata, que embora não animem muito a entrar na água, são bonitas e bem cuidadas. As principais praias de Colonia são a Playa las Delicias, Playa el Alamo e Playa de Oreja de Negro, todas situadas no litoral oeste da cidade, acima do bairro histórico.



Litoral norte, próximo ao bairro histórico

 


Típicos lampiões

O centro histórico da Sacramento, tem área de somente doze hectares, e situa-se na chamada Península de San Gabriel, banhada pelas águas do Rio da Prata. Percorrer suas ruas com calma, num ritmo lento, como quase tudo acontece por aqui, é uma delícia, em em cada esquina encontra-se uma lojinha, um lampeão antigo, um barzinho, café acolhedor ou lojinhas oferecendo produtos típicos locais, artesanato, malhas, doces e otras cositas más. Geralmente os hotéis oferecem aos hóspedes mapinhas da cidade, que ajudam a gente a organizar a caminhada e não deixar de ver os locais mais importantes. Tome como referência a rua 18 de Julio, que corta o centro no sentido leste-oeste, porque tudo que há para ver está próximo dela. Comece, por exemplo, visitando a Basilica del Santissimo Sacramento, erguida no mesmo local onde antes existiu uma igreja menor, datando de 1860. A basílica que hoje se vê foi ampliada a partir do século 18, atingida por um raio no século seguinte e mais uma vez reconstruída durante os séculos 19 e 20. Sua torre é a construção mais proemimente do centro histórico. Depois siga até a Plaza Mayor, também conhecida como Plaza 25 de Mayo, considerada o centro do centro, e ao redor da qual vários prédios importantes ainda podem ser vistos, como a Casa de Lavalleja, Casa de Nacarello, Museu Municipal e o Museu Português.

 

Siga depois em frente até o farol, um dos locais mais famosos da cidade, construído a partir de 1857 junto às ruínas do antigo Convento Franciscano, destruído pelo fogo no século 18. Subir os 118 degraus do farol pode ser cansativo, em compensação fornece a melhor vista possível do centro histórico e arredores, inclusive do Rio da Prata. Quase em frente situam-se o Museu Casa de Nacarello e o Museu Municipal, que também merecem uma visita. A Casa de Nacarello, construção do século 18 com somente um pavimento, ganhou este nome em memória de seu antigo proprietário. No interior da mesma encontram-se diversos móveis do período de colonização portuguesa, e que nos fornecem uma idéia de como era uma típica residência do período.


Farol e ruínas do Convento Franciscano

 


Hotel situado em casarão do centro histórico

Por outro lado, o 'Museo Municipal' é um sobrado que teve a função de abrigar a sede do governo português, e mais tarde, do espanhol. Em 1833 foi cedido ao almirante Guillermo Brown, como reconhecimento aos serviços prestados pelo mesmo às tropas uruguaias que lutavam pela independência, lideradas por José Artigas. O acervo do museu conta com peças militares, indígenas e uma interessante coleção de fósseis e animais empalhados.

 

Carros antigos são vistos permanentemente estacionados em vários locais da cidade, geralmente posicionados de propósito pelas ruas, para dar um certo clima de antiguidade à cidade (como se fosse preciso). Mas quem quer mesmo um veículo para percorrer Sacramento (como se fosse preciso) pode aproveitar para ao mesmo tempo se divertir, optando por seus pequenos carros elétricos, que lembram muito aqueles típicos carrinhos de golfe. A diária custa cerca de sessenta dólares, eles são fáceis de manobrar e principalmente adequados para transitar pelas ruas pavimentadas com pedras e muitas vezes íngremes, pouco apropriadas para outros tipos de veículo. Estacionar em qualquer lugar é muito fácil, o transito pelo centro é quase nenhum, mas não esqueça de levar sua habilitação para alugar um destes carrinhos. E se você vai andar mesmo a pé, não esqueça de dar preferência à calçados não derrapantes. 


Calle de los Suspiros

 


No lado norte da cidade situa-se o Pier de Colonia, cercado por pequenas embarcações e alguns iates, um bom lugar para fotos do por do sol. Dando as costas para o pier e seguindo pela Cale de España chega-se em dois minutos ao antigo prédio da prefeitura, construção de 1870, e logo após, seguindo pela mesma rua, ao Museo Español, um sobrado do século 18, que tem em exposição diversas vestimentas, cerâmicas e obras de arte pertencentes ao período colonial.

Vídeo: Colonia del Sacramento

Fotos em alta resolução: Colonia del Sacramento

 

Algumas sugestões de bons restaurantes situados no centro histórico: La Florida (Calle Odriozola 215: peixes e mariscos), Marlo (Calle del Comercio 168: carnes e parrijas), Parrillada El Portón (Av General Flores 333: parrijas), Candela (Calle Ituzaingo 190: pratos típicos), El Mesón de la Plaza (Calle Vasconcelos 153: massas e pizzas) e La Bodeguita (Calle del Comercio 167: pratos rápidos e massas).  

Quem preferir matar a fome com algo mais rápido, a opção certa será pedir um 'Chivito', como são conhecidos os típicos sanduíches uruguaios preparados com carne, ovo frito, tomate, alface e bacon. São encontrados praticamente em qualquer lugar e são uma delícia.

Não deixe de conhecer o que é talvez a rua mais famosa de Colonia, conhecida como 'Calle de los Suspiros'. Não se tem certeza sobre a origem exata do nome, mas os moradores contam que ele se deve aos suspiros e gemidos que se ouviam à noite em uma famosa residência desta rua, onde, não por acaso, funcionava um famoso bordel. Hoje em dica a Calle de los Suspiros é super família, mas o nome ficou, e serviu para batizar alguns de seus estabelecimentos, como o restaurante 'El Bon Suspiro', especializado em queijos e vinhos. Ao fazer uma refeição peça uma taça de vinho Tannat, feito com a uva símbolo do país, enquanto curte o ambiente e as árvores balançando com o ventinho gostoso que vem do rio.



Lojas de produtos típicos

 


Ladeira próxima ao rio

Quem já conhece Parati, no estado do Rio de Janeiro, com certeza vai ver muitas semelhanças entre as duas cidades, inclusive quanto ao calçamento das ruas, feito com pedras muitas vezes irregulares, e que, principalmente nas ladeiras, obrigam a gente a andar com atenção para não tropeçar.

Uma forma prática de visitar todos os museus da cidade é com o bilhete passe único, que pode ser comprado no Centro de Informações Turísticas. O preço é baratinho, e com ele tem-se acesso aos Museu do Azulejo, Museu Espanhol, Arquivo Histórico Regional, Museu Municipal, Museu Português e também à Casa de Nacarello. São todos museus pequenos, que podem ser visitados em menos de meia hora cada um. Mesmo quem não é muito fan de museus, não deve deixar de passar ao menos por dois ou três, porque eles nos permitem conhecer em detalhes algumas curiosidades, fatos marcantes e também um pouco da história conturbada da pequena Colonia, que apesar do tamanho diminuto, foi disputada pelas duas maiores potências globais da época.

 

Uma das coisas mais interessantes que se tem ao percorrer as ruas de Colonia é a impressão de que quase todo mundo na cidade é turista. O fluxo de visitantes é grande e concentrado numa área pequena, por isso  o que o que mais se vê por aqui são pessoas com máquinas fotográficas penduradas no pescoço, grupos de estudantes de uniforme guiados por suas professoras, gringos consultando seus mapinhas ou sentados em mesas de bares rindo e bebendo cerveja. Não deixe de experimentar duas bebidas típicas uruguaias, o Medio y Medio (tipo de vinho branco espumante) e o Grapamiel (mistura licorosa de mel com grapa, uma fruta típica).



Prédios da Plaza Mayor

 


Plaza Mayor

Cartões de crédito são bem aceitos em quase todos estabelecimentos comerciais, assim como reais e dólares, mas se quiser mesmo pagar com outra moeda que não o peso uruguaio, é conveniente antes certificar-se que a cotação do cambio é justa. 

Vale passar também pela feira de artesanato, situada entre as ruas Lavalleja e Fosalba, para dar uma conferida nos artigos de artesanato, cuias e bombas de chimarrão, couros, malhas e experimentar ou matar as saudades de alguns doces típicos do Uruguai, como o famoso Dulce de Leche e seus queijos artesanais.

Como se sabe, no Uruguai o jogo é permitido, razão pela qual Colonia também tem seus cassinos. O mais badalado é anexo ao Radisson Colonia Hotel, bem próximo ao bairro histórico, onde os interessados podem tentar a sorte na roleta, pôquer, Black Jack etc, mas também existe outro, menos luxuoso, chamado Sala de Colonia Centro, situado na Avenida General Flores.

Vídeo: Colonia del Sacramento

 

Não esqueça de conhecer também o Portão do Campo, um trecho remanescente da antiga muralha que cercava a cidade. Junto ao portão existe ainda uma ponte levadiça, com correntes e tudo, e ambos são um testemunho das antigas fortificações que muravam a cidade, no período de disputa entre portugueses e espanhóis. Outros resquícios do período colonial podem ser vistos na Plaza Mayor, onde as fundações de pedra da Casa do Governador estão parcialmente preservadas. Ela era a residência oficial do administrador português da cidade, e foi destruída pelos espanhóis quando estes assumiram o controle de Colonia.



Portão do Campo

 


Mapa do centro histórico

O mapinha ao lado reproduz o centro histórico de Sacramento, situado na Península de San Gabriel e circundado pelas águas do Rio da Prata. Quem chegar de ônibus vindo de Montevidéu ou de Buquebus vindo de Buenos Aires vai desembarcar bem próximo, já que a rodoviária e o porto situam-se a uma curta caminhada. Táxis costumam ficar estacionados nesta região, esperando para levar turistas para seus hotéis, e a corrida não é cara. Quem tem bagagem leve e se hospeda no centro nem vai precisar de transporte, porque a distância é pequena até lá e dá para fazer a pé sem problemas. O mesmo vale para quem vem passar somente um dia por aqui.

Quem vem a Sacramento a partir de Montevidéu, pode pegar um dos onibus que partem todos os dais do terminal rodoviário de Montevideo, o Terminal Tres Cruces. Foi assim que viemos para cá e o serviço merece nota dez. Os onibus são super confortáveis, com ar condicionado, e tem diversos horários por dia ligando as duas cidades. A estrada que liga Montevidéu a Colonia é uma das principais vias do país, bastante movimentada e com boa pavimentação.

 

Outra razão para não ficar somente um dia em Sacramento é que assim se poderá ir um pouco além, e conhecer seus arredores, e boas razões não faltam para isso. Aproveite para visitar, por exemplo, o vinhedo de Cerros de San Juan, situado a cerca de trinta quilômetros do centro, na confluência dos rios San Juan e de la Plata, onde se pode conhecer uma autêntica 'Bodega de Elaboración', percorrer os vinhedos e almoçar no restaurante. Outra sugestão é ir até Calera de las Huérfanas, um complexo de ruínas jesuíticas de 1700, época em que as colonizações evangélicas espanholas subiam os rios Uruguai e Parana.  Ela está situada a oitenta quilômetros de Colonia, e a melhor forma de chegar lá e fazer um acerto com motoristas de taxi credenciados por seu hotel, para um passeio de meio dia.

Quem preferir não se afastar muito da cidade pode aproveitar o final de tarde para ir até a Plaza de Toros, afastada três quilômetros do centro. Era aqui onde, entre 1910 e 1912, eram disputadas touradas em dias festivos. Embora o estádio esteja agora abandonado e fechado ao público, é interessante observar por fora a típica arquitetura das arenas mouriscas espanholas. E na volta aprecie o por do sol ao longo da Rambla de las Americas, como é conhecido o trecho de cinco quilômetros que margeia o Rio de la Plata.

Um dos lugares mais gostosos para se estar no fim da tarde é junto ao Puerto Viejo, ou quem sabe num barzinho no final da Calle Santa Rita, em frente ao Rio. Peça uma cerveja, uma taça de vinho, ou (se você é gaúcho) prepare um mate amargo. Enquanto isso, dá para ver ao longe os imensos ferries da Buquebus partindo rumo a Buenos Aires. E os passarinhos fazem revoadas antes de se recolher. E o sol pinta de dourado o horizonte. E a gente pensa: Como seria bom se o tempo  pudesse agora parar...


Fim de tarde no centro histórico

 


Por do Sol na Rambla de las Americas / Rio da Prata

A visão do por do sol nas águas do Rio de la Plata é um daqueles momentos mágicos de Colonia e neste instante é quase impossível não se sentir tocado pelo espetáculo da natureza, ouvindo os pássaros se despedir do dia enquanto o sol desaparece por trás do Rio - Quase Oceano - de La Plata, e as cores do céu assumem mil tonalidades entre o ouro e o azul. Só este momento já seria suficiente para justificar ao menos uma noite em Colonia. Caso seu hotel não tenha uma boa visão do rio, vá até o cais, a praia, não importa onde, mas não deixe de ficar junto à água neste momento do dia. E depois, quando já estiver escuro, volte para o centro histórico e vá curtir a noite. Alguns bares e restaurantes tem música ao vivo e funcionam até tarde, por isso nosso conselho é que você aprovete bem cada minuto disponível. Deixe para voltar para seu hotel quando tudo já estiver fechando. Colonia merece. E garantimos, você vai guardar ótimas lembranças de cada momento que passou aqui.