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Fachada voltada para o rio Sena

O prédio da Conciergerie não é oficialmente um castelo ou palácio, mas se levarmos em conta suas dimensões, arquitetura, imponência e história, é impossível não chegarmos à conclusão que é uma construção digna de figurar em qualquer relação do gênero. Situado exatamente no coração da cidade, em plena Ille de la Cité, ela tem sido um dos endereços mais marcantes da história do país, freqüentemente associado a aprisionamentos, torturas e morte. Mas não era para ser assim.

O nome Conciergerie é ouvido com muita freqüência na França, e refere-se simplesmente à recepção de certo estabelecimento, onde trabalha o Concierge, o responsável pela local, que o mantém em ordem, recebe os visitantes e controla sua administração.

   

O prédio teve sua construção iniciada em 1391, com um projeto dos arquitetos Nicolas des Chaumes e Jean de Saint-Germer, e iria tornar-se o primeiro palácio dos Reis da França. A Obra foi executada sob o comando do rei Felipe IV, conhecido como O Justo, neto de Philippe Auguste, que por sua vez entrou para a história como São Luis. 

Para expandir o Palácio existente na Ille de la Cité foram construídos os aposentos da Sala de Guarda, e na parte externa, foram acrescentadas três novas torres, que também permanecem intactas até hoje. Devido a sua forma característica com telhados pontiagudos, elas transformaram-se, visualmente, na marca registrada do palácio. São conhecidas como Torre Cézar, em referência a presença dos Romanos na Antiga Gália (hoje França), Torre de Prata, alusão aos tesouros existentes no palácio, e Torre Bonbec, onde eram feitos os interrogatórios e torturas de prisioneiros.

Por volta de 1350 foram construídas as grandes cozinhas do palácio, bem como seu setor norte. Foi também erigida uma torre retangular, batizada de Torre do Relógio, já que nela foi instalado o primeiro relógio público da França. Algum tempo depois, este primeiro relógio foi substituído por outro mais elaborado, construído pelo famoso relojoeiro Germain Pilon, com alegorias representando a Lei e a Justiça, e que ainda hoje permanece funcionando no mesmo local. Por quase um século o prédio permaneceu como peça integrante do palácio e residência real, o Palais de la Cité. Apenas quando Carlos V, novo rei da França, decidiu transferir sua residência para outro endereço, foram feitas mudanças significativas.

Após a mudança do soberano permaneceram inalteradas as funções já desempenhadas pelo Parlamento e pela Chancelaria, mas foi decidida a criação de um cargo específico, chamado Concierge, que seria ocupado por um importante oficial, designado pelo rei, e que teria como função representar e manter em funcionamento os assuntos diretamente ligados à Coroa. Era um cargo privilegiado, influente e dotado de privilégios, e equivalia ao de um governador e magistrado. O palácio designado para receber o Concierge foi o mais nobre do conjunto de prédios do Palais de la Cité, e graças à função de seu novo ocupante, passou a ser conhecido como Conciergerie.

Mesmo assim, apesar de sua origem nobre, o prédio acabou entrando para a história por razões menos administrativas do que trágicas. Em 1789 é deflagrada a revolução Francesa e o país adentra um período turbulento. Os membros da família real são detidos e trazidos do Palácio de Versalhes para Paris, onde permanecem presos a espera de julgamento. Um tribunal revolucionário é especialmente criado para julgar caso a caso. Entre outras medidas, o tribunal assume o controle da Conciergerie e a transforma na principal prisão da cidade.

O tribunal funciona na sala contígua à prisão, e na maior parte das vezes, as pessoas passam de uma sala direto à outra. Como resultado, mais de 2.700 pessoas sentenciadas a morte passam seus últimos dias trancafiadas em celas da Conciergerie. Nobres, aristocratas, cientistas, lideres políticos, poetas e centenas de desconhecidos. Dentre todos estes, um nome sobressai para a história como a mais famosa prisioneira da Conciergerie: Maria Antonieta, imperatriz da França e irmã do rei da Áustria. Aqui ela permaneceu até a manhã de 16 de outubro de 1793, quando foi levada numa carroça até a Place de La Revolution - atual Place de la Concorde - para ser executada na guilhotina. 

 

Diversos outros famosos condenados também passaram seus últimos dias presos na Conciergerie até serem enviados para a guilhotina, entre eles o poeta André Chénier, vinte e um Girondinos acusados de conspiração contra a República, e até os próprios líderes da revolução francesa Danton, Desmoulins e o temido Robespierre, que viram o terror por eles criado voltar-se contra si próprios. Por estas e outras é que este prédio de arquitetura magnífica, situado num dos locais mais nobres da cidade, tem seu nome até hoje associado a tantas histórias trágicas e a um dos momentos mais terríveis da história da França. 


Sala Gens d'Armes

Com o passar dos anos a aparência da Conciergerie seria parcialmente modificada. Contribuíram para isto a ocorrência de alguns incêndios, o que levou ao desabamento de certos trechos, bem como a construção das novas docas às margens do rio Sena. Como a Conciergerie está localizada diretamente em frente ao rio, estas obras trouxeram novas modificações aos acessos do prédio, embora não tenham afetado sua estrutura original. Ainda assim, o prédio permanece até hoje perfeitamente conservado, e é um dos melhores exemplos da arquitetura medieval. 


Torres Centrais

Em 1914 o prédio da Conciergerie deixou de ser utilizado como prisão, foi declarado Monumento Histórico Nacional, e aberto ao público para visitação. Embora o magnífico Hall de entrada, onde havia uma linha de pilares adornados com esculturas representando os Reis da França já tenha sido destruído pelo tempo, pode-se ainda apreciar os belíssimos salões góticos construídos durante o século 14, pátios internos, diversos outros aposentos e até algumas celas, inclusive a que abrigou Maria Antonieta até o dia de sua execução. No local foi feita uma recriação do ambiente onde ela permaneceu dois meses e meio, com figuras de cera representando a imperatriz, uma cadeira e uma bacia, os únicos confortos de que dispunha em sua cela, e um biombo, atrás do qual ficavam os dois guardas que a vigiavam 24 horas por dia. 

Mas o que mais impressiona os visitantes da Conciergerie é sem dúvida o salão da Gens d'Armes (foto acima). Com 64 metros de comprimento, 27 metros de largura e 85 metros de altura em seu ponto mais elevado, ele foi construído por Enguerrand de Marigny entre 1302 e 1313 e era utilizado com refeitório pelos 2000 soldados e serviçais que atendiam ao rei. 

Para quem visita Paris nada há que justifique deixar de conhecer este local histórico. O prédio da Conciergerie está situado bem no coração da cidade, a poucos passos da Sainte Chapelle e a cinco minutos de caminhada da Catedral de Notre Dame.