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Visitamos Southsea Castle quando estivemos em Portsmouth, cidade situada no litoral sul da Inglaterra, e praticamente gêmea da cidade vizinha de Southsea, e logo que chegamos lá descobrimos que este castelo nasceu graças à vontade do rei Henrique VIII casar-se novamente. Estranho como pareça, o que era para ser um simples evento, desencadeou uma reação em cadeia que levaria à construção de castelos e guerras. Henrique VIII, que entrou para a história como um rei impiedoso, que mandava matar ou incriminar suas mulheres cada vez que queria uma nova esposa, desejava ardentemente um filho para lhe suceder no trono. Suas mulheres, no entanto, só tinham lhe dado filhas, e com isto ele não se conformava. Era necessário um herdeiro real, e para isso, ele precisava de uma mulher fértil. |
Era preciso divorciar-se e providenciar um novo casamento até que alguma mulher lhe desse o tão desejado filho. Ocorre que a igreja Católica não admitia o divórcio, e tampouco concordava em anular seu casamento para que ele pudesse tentar um filho legítimo com outra mulher. Enfurecido com a igreja católica em geral e com o Papa em particular, ele tomou uma decisão radical. Extinguiu a igreja católica na Inglaterra, apropriou-se de suas terras, botou os padres para correr e criou uma nova igreja para vigorar no país, que, é claro, considerava o divórcio plenamente aceitável. Nascia neste momento a Igreja Anglicana, que até hoje predomina na Inglaterra. Mas nascia também a revolta da Europa católica, que passou a considerar um ultraje inaceitável a atitude de Henrique VIII.
Guerras religiosas não eram incomuns naquela época, e cada lado se considerava como o verdadeiro portador da palavra de Deus, e os outros nada mais que hereges que tinham desvirtuado a palavra do Senhor. Católicos e Protestantes foram responsáveis por violentas guerras, onde cidades inteiras foram arrasadas e milhares mortos, devido unicamente à intolerância religiosa. Assim, não seria uma afronta daquele tamanho por parte dos ingleses que iria passar em branco. Aquele ultraje monumental só poderia ser redimido com a invasão da Inglaterra. Isto iria remover o rei herege do trono, e restaurar o poder da Santa Igreja Católica naquela ilha rebelde.
Henrique VIII sabia que era isto que os católicos europeus pensavam, e enquanto completava a reforma da igreja, tratou também de tomar providências para se defender da esperada invasão católica, a ser consumada pelos exércitos de França e Espanha, eternos inimigos. O invasores viriam pelo mar, assim as cidades em frente ao Canal da Mancha deveriam ser as primeiras a estar bem protegidas, e Southsea era uma delas. Situada praticamente de frente para a França, logo foi estabelecido um plano para a construção de um castelo à beira mar.
Site oficial: Southsea Castle |
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Até então, todas as fortalezas deste tipo eram dotadas de torres redondas, pois resistiam melhor aos ataques. O castelo de Southsea, no entanto, teve um projeto revolucionário. Ele tinha feitio angular, repleto de arestas. Este projeto dava aos seus defensores a vantagem de poder utilizar canhões para atacar com precisão uma área muito maior ao seu redor. A construção foi iniciada em 1544, como parte de um elaborado sistema defensivo costeiro.
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Mas o que salvou os ingleses da invasão não foram seus castelos, e sim as águas do Canal da Mancha, que se mostraram, uma vez mais, intransponíveis para uma invasão em larga escala. Mesmo assim, considerando a posição vulnerável da cidade, a construção do castelo foi em frente, e ao longo do tempo recebeu diversos reforços. Foi das muralhas do castelo de Southsea que Henrique VIII viu afundar seu navio mais importante, o Mary Rose (assim nomeado em homenagem à irmã do rei. Quatrocentos anos mais tarde o Mary Rose seria retirado do fundo do mar e exposto à visitação no museu naval de Portsmouth.
Como os inimigos que Southsea esperava nunca vieram, este é um castelo que enfrentou poucas batalhas. Entre os pontos mais marcantes de seus quase quinhentos anos de vida figuram o incêndio de 1627, quando sua torre principal foi quase destruída. Praticamente a única ação militar ocorrida foi durante a guerra civil inglesa, quando chegou a ser cercado pelas tropas parlamentaristas. |
Conta-se que naquela noite, ao ser intimado a render-se, o comandante do castelo pediu aos seus oponentes para esperarem até a manhã seguinte, enquanto ele tomava uma decisão. É claro que eles não esperaram, e o ataque começou imediatamente.
Em 1729 uma explosão acidental destruiu diversas partes do castelo. Com o tempo, a construção original foi bastante modificada, sendo que a maior parte do que hoje pode ser visto foi construída a partir de 1860, quando foram incorporadas grandes baterias de canhões. Entre os trechos construídos durante o século XIX, são especialmente impressionantes o túnel subterrâneo (Counterscarp Gallery), em volta do fosso. O farol preto e branco do castelo (foto acima) é a única coisa que parece destoar do conjunto. Ele foi construído em 1820 para ajudar a navegação e até hoje permanece em uso. A impressão que transmite é a de um peixe fora da água, algo que deveria ter sido construído em qualquer outro lugar, mas nunca ali.
Em 1960 o castelo aposentou-se da vida militar e foi incorporado ao patrimônio histórico da cidade de Southsea. Agora há no local um pequeno museu com de figuras de cera representando soldados com roupas de época, dos eventos que se seguiram ao naufrágio do Mary Rose, cenas da guerra civil, da explosão do castelo, e do período em que foi utilizado com prisão. Uma audiovisual está também à disposição dos turistas, mostrando aspectos da rotina do castelo durante os períodos Tudor (linhagem de Henrique VIII) e da época Vitoriana. No castelo ocorrem regularmente shows com a Fort Cumberland Guard, guarnição militar que faz apresentações com marchas, bandas de música e encenações de combate que contam inclusive com canhões. |
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