Centro de Belfast |
Para
quem cresceu ouvindo falar nos conflitos de Belfast, entre separatistas
e unionistas, ou entre Católicos e Protestantes, pensar em visitar a
capital de Irlanda do Norte era uma idéia no mínimo ousada, e por isso
tínhamos a impressão que em nossa visita estávamos a caminho de nos
meter em confusão na terra dos outros. Mas se assim foi no passado,
hoje não há mais sinais daquela época tumultuada. Nada disso
transparece para quem visita Belfast nos dias de hoje. Pelo contrário,
a cidade irradia uma paz que chega a beirar a monotonia em alguns
trechos. Tipicamente britânica e ao mesmo tempo tipicamente irlandesa,
Belfast é uma cidade de duas faces, mas que aprenderam a conviver em
paz. Para alegria de seus moradores e visitantes. |
E
se a imagem que qualquer lugar transmite começa pela qualidade da
hospedagem, pode-se dizer que Belfast começou com o pé direito. Fizemos
reserva no Ramada Plaza Belfast,
ficamos lá quatro noites e ao partir já tínhamos certeza que
dificilmente encontraríamos no restante da viagem, outro hotel tão bom.
E não encontramos mesmo. A única desvantagem é que ele ficava situado
um pouco afastado do centro, (cinco quilômetros), mas para quem estava
de carro, isto não chegou a ser um problema.
Belfast (em irlandês: Béal Feirste) é a capital da Irlanda do Norte
e segunda maior cidade da ilha Irlandesa. Vale lembrar que a ilha é
dividida em duas partes, Irlanda do Norte (ao norte, e que faz parte do
Reino Unido, junto com Inglaterra, Escócia e País de Gales) e Irlanda
(ao sul, país autônomo). A separação entre as duas Irlandas ocorreu em
1921, logo após a independência da parte sul da ilha, a qual formou um
país autônomo, conhecido simplesmente como Irlanda. A parte norte, que
tinha população majoritariamente unionista, ou seja, que desejava
permanecer integrando o Reino Unido, ganhou o nome de Irlanda do Norte.
Qualquer roteiro turístico por Bellfast deve começar pelo magnífico prédio da City Hall,
centro geográfico e histórico da cidade, e um de seus principais
símbolos. As principais atrações turísticas da cidade estão nesta
região e é muito fácil chegar a todas, pois nada aqui está longe
demais. |
City Hall (prefeitura) de Belfast |
Ainda hoje,
a separação entre as duas Irlandas forma uma situação incomum, porque
embora oficialmente sejam dois países, eles tem o mesmo nome, língua,
tradições e cultura, entre muitas outras semelhanças. E não existem
postos de fronteira entre os dois países, sendo o trânsito de um para o
outro completamente livre. As moedas, no entanto, são diferentes, e
enquanto a Irlanda adotou o Euro, a Irlanda do Norte, como integrante
do Reino Unido, adota a libra esterlina (pound).
Donegall Place |
As
principias áreas comerciais da cidade estão situadas próximas à City
Hall, onde podem ser encontradas as melhores lojas de departamento e o
comércio em geral. Donegall Place (perpendicular à City Hall, ao
norte), Royal Avenue (continuação da Donegall Place, em direção
Norte), Cornmarket e Lisburn Road são as mais lembradas, e aqui estão
filiais das conhecidas Marks & Spencer, Boots, Next e WH Smith,
que fazem a alegria dos turistas. Enquanto isto, ônibus de dois andares
de cores espalhafatosas circulam pelas ruas, lembrando a todos que já
estamos no Reino Unido. Comércio alternativo, lojinhas, curiosidades e
artesanato estão situados principalmente na Donegall Arcade, Spires
Mall, Foutain Centre e ao longo da Dublin Road. Vale também conferir
Queen's Arcade e Lisburn Road, esta última famosa por suas joalherias. |
Vídeo: De carro em Belfast (indo para o centro)
Belfast situa-se às margens do rio Lagan,
o qual deságua na baía de Belfast (Belfast Lough), seguindo então suas
águas até North Channel (canal situado ao norte do Mar da Irlanda) e
depois até o Mar da Irlanda. Esta proximidade com as águas foi
determinante na história de Belfast, fazendo que a cidade se tornasse
um destacado pólo da indústria naval. E não foi por coincidência que
histórico navio Titanic foi construído num estaleiro de Belfast.
Por
esta mesma razão, também não é coincidência que um dos trechos mais
agradáveis da Belfast central - conhecido como Waterfront - esteja
situado próximo ao rio Lagan. Aqui estão alguns dos melhores hotéis da
cidade, um enorme centro de convenções e, junto à uma da pontes de
cruza o Lagan, a criativa escultura de metal conhecida como 'Beacon of
Hope' (farol da esperança), com 19 metros de altura. A imagem feminina
carrega em suas mãos o anel da gratidão, apoiada sobre um globo
terrestre, representando a paz e harmonia sobre a qual deve se apoiar a
gratidão. A escultura, inaugurada em 2007, se tornou um dos símbolos mais
conhecidos de Belfast. |
Beacon of Hope
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Titanic Belfast Museum |
O
transatlântico Titanic foi construído num estaleiro de Belfast e ficou
tristemente famoso, como se sabe, após naufragar em sua viagem
inaugural. Mesmo assim, sua trágica história transformou-se em sucesso
nas telas e no interesse popular, rendendo um blockbuster do cinema e
incontáveis publicações mundo afora. E Belfast não poderia ficar de
fora. Em 2012, exatos cem anos após o naufrágio, foi inaugurado no
mesmo local onde o navio foi construído, o museu Titanic Belfast.
Com seis andares e dotado de modernos recursos tecnológicos, aqui é
oferecida aos visitantes a oportunidade de conhecer praticamente tudo
sobre o famoso transatlântico e sua história. |
Enquanto
visitantes percorrem as nove galerias do museu vai-se aos poucos
voltando ao passado e descobrindo fatos e curiosidades sobre o Titanic.
Desde sua concepção, o lançamento ao mar, a reconstrução de seus
interiores - inclusive o salão de baile e escadaria mostradas no filme
de James Cameron, reconstruídas no centro de conferências do complexo -
até seu naufrágio e o fundo do mar, onde os restos do navio repousam
ainda hoje.
Dispostos em
mais de 12.000 metros quadrados, o Titanic Belfast situa-se na região
de Queen's Island, onde antigamente situavam-se os grandes estaleiros
da cidade. Com o declínio de Belfast como pólo de construção naval os
estaleiros foram fechados e a região abandonada por muito tempo. Após
diversos anos degradada, a área renasceu graças a ousados projetos
urbanísticos, que incluíram a construção de hotéis, áreas de lazer e o
novo museu, após a qual o bairro foi renomeado como 'Titanic Quarter',
em 2001. A idéia era não apenas criar uma atração turística relacionada
à história da cidade, mas também revigorar uma região abandonada. Hoje,
pode-se dizer que o projeto foi um sucesso e Titanic Belfast é uma das
atrações mais visitadas da cidade, além de importante centro de
conferências e eventos especiais.
Onde
quer que se esteja, somente um mercado público pode oferecer a chance
de conhecer as delícias, produtos, sabores, cores e artesanato de uma
cidade. E em Belfast, este lugar é o Saint George Market.
Construído entre 1890 e 1896, todo em tijolinhos vermelhos ao estilo
Vitoriano, este prédio é o último mercado coberto remanescente da
cidade. Durante a segunda guerra mundial, quando Belfast foi
pesadamente bombardeadas pelos nazistas, o mercado foi utilizado até
como necrotério e quase foi demolido no fim do século passado pois
muitos o consideravam ultrapassado. Felizmente a razão foi mais forte
que os interesses comerciais de alguns, e em 1999 o mercado foi
totalmente revitalizado para atender às normas atuais de segurança e
higiene, mantendo suas características históricas originais. E pelo
sucesso que agora faz, deve permanecer em atividade por, pelo menos,
outro século. |
Exterior do Saint George Market |
Cerca de trezentos expositores,
artistas, músicos, artesãos, cozinheiros, doceiras e muitos outros
profissionais de diversas especialidades ocupam seus quiosques
internos, oferecendo produtos que são a própria cara da Irlanda do
Norte. A programação do St George Market é bastante variada, conforme a
hora e dia da semana, e inclui festivais de música, desfiles de moda,
exposições, eventos de caridade, shows com artistas iniciantes e
concursos de danças típicas irlandesas. Os dias mais animados são
sábados e domingos, quando nem sempre é fácil achar uma mesinha livre
para tomar um chá com doces típicos ou beber uma cerveja irlandesa
enquanto se aprecia o show. Mas seja qual foi o dia de sua visita não
deixe de conhecer o Saint George Market, pois ele é um dos lugares mais
agradáveis de Belfast.
Belfast Castle |
É claro que Belfast também tem seu castelo, como quase todas localidades do Reino Unido. O Belfast Castle
teve sua construção iniciada no século XII, no coração da cidade e foi
lar da família Chichester, uma das mais influentes da sociedade local.
Mas não era uma construção de pedra e infelizmente foi destruído pelo
fogo em 1708. Os Chichester decidiram então reconstruir o castelo, mas
desta vez em pedras e numa região mais nobre. Foram escolhidas para
isso as colinas à oeste do centro, de onde se tem uma vista perfeita de
Belfast. A construção foi concluída em 1870 e o castelo permaneceu como
lar da família Chichester até 1934, quando os herdeiros, por não terem
mais condições de arcar com os custos de manutenção, decidiram doar o
castelo à cidade. Devido ao início da guerra, no entanto, o castelo
permaneceu fechado e abandonado por décadas. |
Um dos nomes mais associados ao
castelo é do Marquês de Donegall, renomado membro da família
Chichester, e referências e fotos dele e sua família estão presentes em
vários ambientes do castelo. Até mesmo em outros lugares da cidade
(Donegall Place, Donegall Road e Donegall Square), sua memória é
homenageada. Ainda hoje, sobre a porta de entrada do castelo, o brasão
de armas da família Donegall permanece em destaque.
A partir de 1978 um elaborado e
demorado projeto de restauração interna e externa foi implementado,
permitindo ao castelo voltar a exibir seu esplendor original, e em 1988
o imóvel foi finalmente aberto à visitação pública. Internamente o
castelo assemelha-se a um palácio moderno, com diversos ambientes
refinados, mobílias e louças históricas, salões elegantes e uma
imponente escadaria central. Não deixe de visitar a coffee house
situada no andar inferior, onde são servidos bolos, doces e ótimos
scones, ideais para acompanhar um chá ou café quentinho.
Imponente e magnífica, a propriedade conhecida como Stormont Estate and Parliament Buildings
é uma das que mais impressionam aos turistas. Situada no alto de uma
colina, na extremidade de uma avenida arborizada e ladeada por
impecáveis gramados verdes, este é um daqueles lugares que merecem ser
percorridos com calma, se possível numa ensolarada tarde de domingo, e
com um saquinho de pipocas na mão. Neste complexo funciona o Northern
Ireland Assembly, a assembléia legislativa da Irlanda do Norte. |
Stormont Estate and Parliament Buildings |
Situado à leste do centro, o
complexo de parque e jardins é um dos locais mais agradáveis da cidade
para longas caminhadas em família, seja nos gramados, ou entre as
árvores que se enfileiram nas laterais do acesso principal. Visitas ao
Parlament Buildings podem ser feitas entre 2as e 6as feiras, das 9 à 16
horas, desde que alguma sessão não esteja em andamento Os roteiros são
feitos em grupo, com duração aproximada de 40 minutos, e percorrem os
salões nobres do palácio. Não é permitido entrar de carro no complexo,
e turistas tem que estacionar no lado externo dos portões de acesso.
Também é possível ir até lá de ônibus, pelas linhas 20a e 23, que
partem de Donegall Square.
Uma curiosidade a respeito do
palácio é que durante a 2a guerra mundial, para evitar ser atingido por
bombardeios nazistas, el foi 'camuflado', recebendo pintura à base de
betume e estrume animal. Os bombardeios felizmente nunca aconteceram,
mas após a guerra, para desespero dos parlamentares, a pintura que
deveria ser 'removível' não conseguiu ser completamente retirada e
foram necessários anos de trabalho para limpar o prédio. Mesmo assim,
dizem, o palácio nunca mais voltou a ter a cor original.
Mural político em subúrbio de Belfast |
Poucas
cidades do mundo e suas obras de arte são tão intimamente associadas
quanto Belfast e seus murais políticos. Se eles pudessem falar,
contariam a história deste lugar. E se alguém percorresse e estudasse
todos os murais de Belfast - e são centenas - provavelmente não
precisaria abrir nenhum livro para entender a evolução da cidade nas
últimas décadas, inclusive suas pessoas importantes, eventos
principais, traumas, lutas, comemorações, derrotas e vitórias. Os
murais de Belfast são mais do que um livro de história, e já se
transformaram num dos mais conhecidos símbolos da cidade. Turistas se
inscrevem nas excursões que percorrem os principais murais enquanto
diversos livros e sites catalogam seus autores, localização e
significado. E as casas onde os mesmos foram pintados são motivo de
orgulho para seus moradores e atração turística para visitantes. |
Nomes, figuras, personalidades,
eventos, datas, mitos, armas, referências importantes, está tudo
representado nos murais de Belfast. Eles já foram retratados em vídeos,
viraram locação de filmes e são respeitados e mantidos com respeito
pelos habitantes da cidade. Cerca de dois mil deles já foram
catalogados nas últimas décadas, embora nem todos tenham sobrevivido ao
tempo. Atualmente, estima-se que existam cerca de trezentos murais em
bom estado de conservação espalhados em diversos pontos da cidade.
Nem todos os murais são
políticos, muitos comemoram eventos esportivos ou datas festivas. Na
Irlanda do Norte, no entanto, em áreas onde predominam simpatizantes da
independência os murais de protesto contra esta dominação e a exaltação
dos mártires e figuras importantes que lutaram pela independência, são
predominantes. Alguns exaltam nomes importantes da causa, como Bobby
Sands, ou datas marcantes na luta pela liberdade irlandesa
protagonizadas pelo Irish Republican Army (IRA).
Por
outro lado, em bairros onde os simpatizantes da união com a Inglaterra
são maioria, os murais exaltam principalmente mártires britânicos e
grupos paramilitares que defendem a causa da união, como o Ulster
Defence Association e o Ulster Volunteer Force.
A origem
desta divisão é política, pois, como se sabe, a Irlanda é um país
dividido, entre aqueles que desejam continuar a fazer parte do Reino
Unido (em sua maioria protestantes), e aqueles que desejam a
independência do país (de maioria católica). Felizmente a época dos
atentados e explosões ficou para trás e embora a disputa permaneça, ela
agora se dá principalmente no campo político, sem maiores violências. |
Mural político em subúrbio de Belfast |
Um dos momentos
mais tristes e marcantes desta luta histórica aconteceu em janeiro de
1972, um domingo, durante uma passeata formada por cerca de dez mil
manifestantes que se opunham ao governo simpatizante britânico,
especificamente contra uma lei que, segundo os manifestantes, suprimia
seus direitos. Durante a passeata soldados britânicos abriram fogo
contra os manifestantes e diversas pessoas, inclusive menores de idade,
morreram. O triste episódio marcou o país, gerou uma onda de revoltas e
protestos em toda Irlanda e deu ainda mais força para o exército
republicano irlandês e sua luta pela independência. Foi para relembrar
esta data que a banda U2 gravou, em 1983, a música Sunday Bloody Sunday
(domingo sangrento).
Interessados em
conhecer alguns dos principais Murais de Belfast podem se
inscrever em tours especializados que percorrem os bairros da cidade
onde diversos podem ser vistos e fotografados. Ou então, quem estiver
de carro, pode consultar sites específicos, que mostram a localização
de diversos destes painéis, e ir até lá por conta própria. Vale lembrar
que atualmente todas estas regiões são pacíficas, muitas delas
residenciais, e independente de suas simpatias políticas, ou
predominância de grupos unionistas ou separatistas, todos os painéis
são considerados como obra de arte, e portanto podem ser fotografados e
admirados à vontade.
Prato típico irlandês: Irish Stew |
Procurando
um prato típico irlandês? Se este é seu caso a pesquisa não será
difícil. Embora a Irlanda não seja famosa pela culinária, existem
diversos pratos que, pode-se dizer, tem o sabor típico do país. Nada
muito rebuscado ou sofisticado, é verdade, mas isto é até uma vantagem,
porque permite que os pratos sejam acessíveis e fáceis de preparar e
encontrar em muitos lugares. Entre os pratos típicos famosos destaca-se
o Irish Stew,
tradicionalmente preparado com carne, batatas, cenouras, cebolas e
ervas verdes. Dependendo do lugar pode ser preparado com carne bovina
ou ovina. Geralmente é servido acompanhado por grossas fatias de pão
amanteigado. E batatas e pão são Ingredientes quase sempre presentes nas receitas locais. |
Ulster Fry:
Tradição nos cafés da manhã locais, mas que pode ser uma refeição
pesada para alguns. Consiste num prato com ovos, lingüiça, bacon,
cogumelos, tomates, feijão, black pudding e white pudding (Black
pudding: tipo de lingüiça fatiada, preparada com carne e sangue de
porco. White pudding: semelhante ao anterior, mas não leva sangue.
Inclui aveia e pão. Ambos costumam ser bastante condimentados). O
Ulster Fry é um prato pesado, que fornece energia para todo o dia, mas
não é para qualquer um.
Steak &
Guinness Pies: Muito popular e saboroso. Empadão recheado com carne
bovina ou de frango, legumes, cebolas e temperos diversos. Pedida muito
freqüente em pubs, pois é rápido de preparar e satisfaz.
Champ (em
irlandês Brúitín): Preparado com batatas amassadas misturadas com
cebolinhas verdes, leite, sal e pimenta. A aparência e sabor são
semelhantes a um pirê de batatas incrementado.
Butcher’s
sausages: Lingüiças artesanais, preparadas com ingredientes e temperos
diversos, variando de acordo com o fabricante. Pedida freqüente em pubs
e restaurantes. Ideal para acompanhar uma cerveja.
Boxty (bacstaí
em irlandês): Panquecas de batatas, geralmente servidas com manteiga,
bacon e ovos. Costumam ser preparadas numa chapa quente, como as
panquecas tradicionais. Muito gostosas.
Ardglass Potted
Herring: Arenque marinado, tradicionalmente servido com cebolas e
acompanhado por torradas ou farelo de pão.
Porridge: Um
tipo de mingau, muito popular também na Escócia. Preparado com aveia,
leite e açúcar, é comummente servido em hotéis, no café da manhã. Não
nos apeteceu.
Londres
tem seu Big Ben. Paris tem sua torre Eiffel. E Pisa tem sua torre
inclinada. Misture tudo isto e o resultado é Albert Memorial Clock, uma
monumental torre com relógio, um ícone arquitetônico de Belfast e -
detalhe importante - inclinada para um dos lados em mais de um metro,
mas que se recusa a desabar.
Construído em 1865 em
homenagem ao príncipe consorte da rainha Victoria - Príncipe Albert - o
monumento tem cerca de 37 metros de altura, e em uma das faces é ornado
com uma estátua representando o monarca. Erguido em águas antes
ocupadas pelo rio Farset, afluente do Lagan, as fundações do monumento
não foram executadas como deveriam, o que começou a causar a inclinação
gradual da torre. Com o tempo, a diferença de prumo entre a parte
superior e a base da torre chegou a mais de um metro, o que, se não
fossem tomadas medidas adequadas, acabariam levando ao seu desabamento. |
Albert Memorial Clock |
O Albert
Memorial Clock, embora tenha sido construído em homenagem a um nobre,
acabou associado a uma das regiões mais degradadas da cidade, pois como
foi construído próximo ao porto acabou transformado em local preferido
das prostitutas locais, que freqüentavam a região tentando conseguir
clientes entre os marinheiros que chegavam à Belfast. Em 1992, a torre
foi atingida por uma explosão num prédio próximo, num dos atentados
organizados pelos membros do Irish Republican Army, que lutavam pela
independência do país.
Somente a
partir de 2002, com a implantação de um ousado projeto de estabilização
estrutural e com o reforço de suas fundações, a torre deixou de
adernar. Na ocasião foram executados também diversos reparos
complementares e a área foi revitalizada, acabando com a má fama da
região.
Atualmente a
torre está muito bem conservada e para alguns desatentos, sua
inclinação pode até passar despercebida. Mas basta se posicionar no
lado certo e observar as linhas retas dos prédios vizinhos que será
possível constatar que o Albert Memorial Clock, na verdade, está
inclinado.
Victoria Square Shopping Centrel |
O
termo Belfast (em irlandês Béal Feirste) significa 'Boca dos bancos de
areia', pois na região onde a cidade surgiu, junto à baía de Belfast,
bancos de areia eram uma presença constante. A população do
município de Belfast, de acordo com o último censo, é de
aproximadamente 350 mil habitantes, distribuídos numa área de 115
quilômetros quadrados.
O melhor shopping da cidade é o Castle Court,
localizado no centro
(Royal Avenue). Outro bom shopping é o Victoria Square, bem na região
central. Não deixe de conferir a loja Poundland, onde quase tudo é
oferecido por uma libra. Depois vale visitar também o
Ulster Museum que tem entre seu acervo uma grande coleção de objetos de
arte, numismática, botânica e tesouros diversos. É o maior e mais
importante museu da Irlanda do Norte e foi inaugurado em 1821. |
Além de ter se
estabelecido como importante pólo de construção naval, Belfast também
foi um destacado centro industrial da indústria têxtil durante a maior
parte do século XX. No século passado, principalmente durante os anos
60 e 90, Belfast sofreu muito com as lutas internas, entre unionistas e
separatistas, e esses tumultos passaram a ser conhecidos como Troubles (problemas). Eram lutas, conflitos, atentados e choques
policiais que infelizmente fizeram muitas vítimas. Em 1994 o IRA (Irish
Republican Army) decretou uma trégua e quatro anos. Algum anos depois
foi assinado o tratado conhecido como Good Friday Agreement, essencial
para superar em definitivo a fase dos conflitos. Superada esta fase,
Belfast praticamente renasceu, e nos últimos anos tem se firmado como
pólo comercial, industrial e turístico.
Sugestão
de roteiro pelo centro da cidade, fácil de ser percorrido em uma manhã,
e que permite ver diversos locais importantes: Comece no prédio da City
Hall e depois suba pela Donegall Place. Esta é uma região de comércio
intenso, grandes lojas e muito movimento de pedestres. Siga então pela
Cornmarket (também uma área de pedestres, quase paralela à Donegall
Place), até chegar à High Street / William St. Aproveite para dar uma
passada no shopping Victoria Square Shopping Center, e quem sabe fazer
uma refeição no Nando's (não é especializado em comida irlandesa - na verdade tem origem na comida portuguesa - mas
serve ótimos pratos de frango com batatas). Depois, saia do shopping
pelo lado norte e prossiga até Ann Street (também uma rua de
pedestres), em direção à ponte Bridge End, de onde se tem uma bela
vista da região central. |
Donegall Place |
Depois volte pela Victoria
Street até chegar à base da torre do Albert Memorial Clock, onde poderá
conferir que sua inclinação é mesmo impressionante. A pouca distância
da torre do relógio está o monumento Big Fish, um bom ponto para fotos
divertidas ao lado do peixe gigante.
Big Fish Sculpture
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Big Fish
Sculpture é uma das esculturas mais conhecidas de Belfast, situada no
centro da cidade, a pouca distância do Albert Memorial Clock. O imenso
peixe revestido com cerâmica em diversos tons de azul foi inaugurado em
1999, e logo se tornou uma das marcas registradas da cidade,
principalmente devido à forte tradição de Belfast na indústria
pesqueira. Quem olhar o imenso peixe de perto irá ver que os azulejos
são todos decorados com motivos relacionados à história da
cidade. São centenas de textos, fragmentos de imagens cobrindo um
período que vai do século XV até a época atual e uma leitura atenta
destas informações irá fornecer um relato bastante completo da história
da cidade. O imenso salmão de dez metros de extensão celebra também o
êxito do projeto de recuperação ambiental do rio Lagan e costuma ser um
dos cenários preferidos para fotos do centro da cidade. |
A
ilha irlandesa (Irlanda + Irlanda do Norte) é dividida em quatro
regiões, denominadas Ulster (situada parte na Irlanda do Norte e parte
na República Irlandesa), Connaught, Leinster e Muster (todas três
situadas na Irlanda). A região do Ulster (em irlandês
Ulaidh ou Cúige Uladh) ocupa a maior parte da Irlanda do
Norte, o que faz com que muitas vezes ela seja considerada sinônimo do
país, o que não é verdade. A divisão do Ulster foi conseqüência da
divisão do próprio país, em 1921. Como a maior parte do território
norte irlandês corresponde ao Ulster, a influência desta província nos
costumes, culinária e cultura do país é muito grande. |
Donegall Square |
Vídeo: De carro em Belfast (no centro da cidade)
Black Mountains |
Black
Mountains é o nome que designa o conjunto de morros situado à oeste de
Belfast. Sua altitude máxima não chega a quatrocentos metros, mesmo
assim, num país com poucas elevações topográficas, isto já é o
suficiente para proporcionar um visual muito bonito, e que vale a pena
ser explorado por quem dispuser de mais tempo em sua visita à cidade.
Do alto das Black Mountains toda Belfast pode ser apreciada, e mesmo
mais além, até a Baía de Belfast. Este é um passeio ideal para quem
curte caminhadas ao ar livre, muito verde, paisagens campestres, ar
livre, cheiro de mato, vida selvagem e não se incomoda com um pouco de
frio e vento (ele sopra forte no alto do morro).
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Para fazer o
roteiro das Black Mountains o ideal é escolher um bom calçado e um bom
agasalho. Tome como ponto de partida a Europa Bus Station, como é
conhecido o terminal rodoviário central da cidade. Ao chegar lá pegue o
ônibus da linha Ulsterbus 106 e siga até a parada de 'Divis Road'. O
trajeto de ônibus leva em média vinte minutos. Ao chegar a Divis Road
desça e siga a pé, montanha acima. Existe uma grande variedade de
trilhas, com extensão, grau de dificuldade e visuais diferentes, embora
nenhuma delas seja muito cansativa.
Belfast
está situada bem ao norte (paralelo 54), o que faz com que durante o
verão seus dias sejam longos e o sol brilhe entre 5 da manhã e 22
horas. Durante o inverno, em compensação, os dias são curtos e às 4
horas da tarde já está escuro.
Belfast tem oito pontes
cruzando o rio Lagan e unindo as duas metades da cidade. A Queen's
Bridge, mostrada ao lado, foi inaugurada em 1849, pela rainha Victoria,
e é uma das mais famosas e fotografadas da cidade. |
River Lagan e Queen's Bridge |
A Irlanda do Norte é um país,
embora muitos se refiram a ela como província ou parte do Reino Unido.
É um país, assim como a Escócia, Gales e Inglaterra também são. Tem
autonomia política para decidir sobre diversos assuntos, mas os de
maior peso permanecem sendo decididos pelo governo britânico. Em
paralelo, tem um relacionamento fraternal com sua 'metade gêmea do
sul', a Irlanda, a tal ponto que não existem fronteira ou controles de
qualquer espécie entre os dois países.
O principal aeroporto de
Belfast (e da Irlanda do Norte) é o Belfast International Airport,
também conhecido como Aldergrove Airport, situado a cerca de doze
quilômetros do centro. Belfast também é servida pelo George Best
Belfast City Airport, de onde operam as rotas de curta duração, com
destino à Irlanda e outras cidades do Reino Unido. Assim como em outras
cidades britânicas, Belfast também tem seus ônibus de dois andares
(embora não sejam vermelhos) e os tradicionais taxis pretos.
Não espere encontrar muito calor em Belfast. A média das temperaturas máximas do verão é na faixa
dos 17 graus (junho, julho e agosto) e a maior temperatura registrada
na cidade foi 30 graus, em 1983. Por outro lado, seus invernos
são frios, com temperaturas médias na faixa dos 4 graus (dezembro,
janeiro e fevereiro), sendo que a menor temperatura registrada chegou a
oito graus abaixo de zero. A cidade tem, em média, dez dias de neve por
ano. Em compensação, chuvas são freqüentes, sendo que o mês mais
chuvoso é outubro e os menos chuvosos são abril e maio.
River Lagan e Belfast Waterfront
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Erguida
às margens do rio Lagan, Belfast tem uma grande área banhada pelo rio,
considerada sua região nobre, onde estão localizados hotéis de luxo e
centros de convenções. A cidade tem também muitos parques e áreas
verdes, sendo que o 'Botanic Gardens' é o mais famoso. Não é uma cidade
que se destaque pela arquitetura, mas é um lugar agradável, com um povo
receptivo e simpático. Turistas que queiram ter uma idéia básica da
cidade devem programar uma visita de ao menos dois dias, o que será
suficiente para conhecer o principal, mas se possível, programe ficar
mais tempo, o que permitirá conhecer melhor a cidade e também os
arredores. Belfast foi uma cidade que nos surpreendeu, e acabou se
revelando bem melhor e mais agradável que nós esperávamos. Uma visita
que valeu a pena. |
Mural em Belfast
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