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Dijon,
a Capital das Mostardas. Bem, pelo menos é isto que vem à mente de
quase todos quando pensam neste local, mas a verdade é que, como uma
das principais cidades da França, seria ingenuidade supor que Dijon se
resume apenas às muitas variedades do famoso condimento amarelo e
marron. Dijon tem história (foi sede do Ducado da Borgonha), cultura
(diversos museus e festivais de música), arquitetura (rico patrimônio
histórico tombado), excelentes vinhos (route des Grands Crus),
castelos, vilas, vilarejos e principalmente uma gente que parece
ter descoberto o segredo de curtir a vida com sabedoria, um dia de cada
vez, e que até criou um lema para representar este estado de espírito: 'Viver como um Bourguignon'. Dijon, capital da Borgonha, é o coração
de todas as descobertas e prazeres que se oferecem,
generosamente, aos que aqui chegam. |
Visitantes que chegarem à cidade de trem irão desembarcar na Gare SNCF, situada ao lado do centro histórico e de todas suas atrações. E quem não tiver
reserva de hotel, o ideal é ir até o Office de Tourisme, onde
poderão lhe ajudar com reservas, fornecer mapas e dar informações úteis.
Na
época romana, Dijon era conhecida como Divio, vocábulo que séculos mais
tarde daria origem ao nome atual da cidade. Após o declínio do império
romano Dijon cresceu muito em importância, a tal ponto que, no
período compreendido entre os séculos XI e XV havia se transformado na
capital do Ducado da Borgonha (na época, o mesmo que um reino, onde o
soberano detinha o título de Duque da Borgonha), com grande poder e
influência sobre o resto da Europa, além de destacado centro de artes,
conhecimento e riquezas.
Na
imagem ao lado é possível ver a flexa da igreja Notre Dame de Dijon.
Considerada como uma das principais obras de arquitetura gótica do
século XIII, sua construção, estima-se, foi concluída por volta de 1250
e um de seus tesouros é a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança
(Notre-Dame de Bon-Espoir), antigamente conhecida como a Virgem Negra,
devido à sua coloração. Junto com a Corujinha (ler mais
abaixo), ela é considerada um dos principais símbolos da cidade. |
Rue de la Chouette |
Rue de la Liberté |
A
Rue de la Liberté, junto com a Rue Rameon formam as principais
vias comerciais de Dijon. Com menos de um quilômetro de extensão, ao
longo das duas estão situadas diversas lojas, butiques, cafés, restaurantes, farmácias, patisseries, boulangeries etc.
Vale a pena percorrer estas ruas com calma, descobrindo suas
curiosidades, gostosuras e, quem sabe, descobrir aquela comprinha que
não dá para deixar de fazer. Vale percorrer ainda as ruas perpendiculares, como a Rue de la Liberté,
Rue du Chapeau Rouge, Rue du Chateau, Rue Bossuet e também as
paralelas, Rue de la Poste e Place Grangier.
Dijon
tem um dos mais bem conservados centros históricos medievais da Europa,
e em certos locais, se não olharmos para os modernos letreiros das
lojas, dá até para imaginar que voltamos no tempo até o século XV. |
Dijon também tem seu Arco do Triunfo, conhecido como Porte Guillaume,
situado na extremidade oeste da Rue de la Liberté. Este monumento,
construído durante o século XVIII foi erguido no mesmo local onde,
durante a idade média, estava situada uma das portas de acesso à antiga
cidade murada. Inaugurado em 1788, o monumento homenageia o Príncipe
de Condé, razão pela qual foi batizado de Porte de Condé. Após a
revolução francesa o monumento foi renomado como Porte de la Liberté, e
ainda mais tarde como Porte Guillaume, em homenagem ao religioso
Guillaume de Volpiano, monge beneditino e reformador litúrgico italiano. |
Porte Guillaume |
Palácio dos Duques da Borgonha |
O
palácio dos antigos Duques da Borgonha (imagem ao lado) constitui o
conjunto arquitetônico mais bonito e imponente da cidade. Localizado no
coração da cidade, o endereço agora abriga a Pefeitura (Hotel de Ville) e o Museu de Belas
Artes de Dijon. Em frente ao complexo, uma área de pedestres, em forma
de semi-círculo e que atende pelo nome de Place de La Liberation, reúne
restaurantes, cafés e algumas brasseries, algumas com mesinhas nas
calçadas. Este é o ponto ideal para aquela pausa estratégica quando os
pés já estão doendo de tanto caminhar, sentar e beber alguma coisa, enquanto as crianças se divertem
correndo entre as fontes do calçadão.
Partindo
daqui e seguindo na direção leste pela rue Rameau chega-se à bela
Église de Saint Michel. E em direção contrária, seguindo reto pela rue
de la Liberté, chega-se à principal área comercial da cidade, exclusiva
de pedestres, onde fica a praça conhecida como Jardins Darcy e seu
grande arco.
Quer uma dica de loja de bom preço e com muita variedade de artigos? Experimente a Monoprix.
Esta rede tem lojas em todo o país, e entre outras coisas,
merece destaque seu departamento de cremes e loções, onde estão algumas das
melhores marcas. |
A
Place de la Libération é o coração histórico e geométrico de Dijon, e
todas as ruas da cidade parecem convergir para cá. Com forma
semi-circular, ela foi projetada como um espaço público frente ao
palácio dos Duques da Borgonha, para que sua beleza e imponência
pudesse ser apreciada sem impedimentos. Era praticamente uma extensão dos
domínios reais, e não por acaso, em seu centro existe uma estátua
eqüestre de Luiz XIV, o Rei Sol. Após a revolução francesa e a queda da
família real, a praça foi renomeada como 'Place d'Armes', a estátua
foi destruída e teve seu metal derretido e utilizado na fabricação de
canhões. |
Place de La Liberation |
Mas o novo nome não durou
muito, e em 1804 ela foi novamente rebatizada como 'Place Impériale', e
mais tarde (1814) como 'Place Royale', e depois (1831) como ' Place
d'Armes', e depois (1941) 'Place du Maréchal Pétain', e finalmente, em
1944 ' Place de la Libération', em homenagem à liberação da França
pelas tropas aliadas, ao fim da segunda guerra mundial. Em 2006
foi transformada em área exclusiva de pedestres, com a instalação
de fontes no trecho central e desde então é um dos lugares mais
freqüentados por turistas.
Ao visitar o Palácio dos Duques
da Borgonha, em frente à Place de la Liberation, não deixe de subir até
o topo da torre conhecida como Tour Philippe le Bon, de onde, do alto de
seus 46 metros de altura, se tem uma vista privilegiada. Fronçois I,
rei da França, disse certa vez, se referindo à Dijon: 'C'est la ville
aux cent clochers', ou seja, é a cidade com cem campanários.
Efetivamente, quem subir esta torre e olhar em volta verá que, mesmo
que eles não cheguem a uma centena, são muitos, e conferem à capital da
Borgonha uma silhueta incomparável.
La Chouette (a corujinha) de Dijon |
Um
dos símbolos mais conhecidos de Dijon é sua pequena coruja (chouettte),
que pode ser vista em placas fixadas ao chão e em fachadas de prédios.
Conta-se que a origem deste símbolo remonta ao século XV, quando,
atendendo a um desejo da família Chambellan - uma das mais ricas e
influentes da cidade na época - uma pequena escultura de coruja
foi incorporada à fachada externa oeste da igreja Notre Dame, junto à
passagem pública.
Não se sabem os motivos que levaram a
família a escolher este símbolo (uma das razões seria devido à coruja, tradicionalmente,
simbolizar a inteligência e o saber), mas o fato é que com o tempo a
escultura havia se tornado popular e adquirido fama de dar sorte aos
que a acariciavam. Com o passar dos séculos a corujinha se tornou
praticamente um símbolo de Dijon, e hoje em dia muita gente que passeia
pelo centro histórico, ao lado da igreja, tem o hábito de passar
suavemente a mão esquerda sobre a desgastada escultura, o que dizem,
faz com que se concretize um grande desejo.
Muitos séculos depois, quando a prefeitura decidiu criar um roteiro
que passasse pelos principais pontos históricos da cidade e demarcar
esta trilha no chão, o símbolo escolhido foi, claro, a corujinha de
Dijon. Hotéis e estabelecimentos comerciais oferecem, gratuitamente, um
mapinha da cidade, onde a trilha é mostrada, e para conhecer o centro
histórico basta seguir as diversas placas metálicas com a imagem da
corujinha, todas numeradas (imagem ao lado). O roteiro não é longo e em
cerca de duas ou três horas, conforme a velocidade de cada um, pode ser
percorrido com facilidade. |
Quem
aprecia o circuito de museus não vai ficar decepcionado, e
poderá escolher entre o Musée des Beaux-Arts, Musée d'Art Sacré, Musée Magnin e o Musée Archéologique
de Dijon.
Outras visitas que não devem ser esquecidas: Musée de la Vie Bourguignonne (Rue Ste Anne 17), que dá uma boa idéia
de como era a vida das pessoas na época medieval. Musée de
la Moutarde (Quai Nicolas Rolin 48), que como o nome informa, conta
tudo sobre a história da mostarda e de sua evolução à categoria de arte
culinária. Cathedrale St-Benigne (Rue du docteur Maret),
onde está a sepultura de Saint Bénigne, padroeiro da cidade. Sua
cripta, situada no subsolo da catedral, é considerada o mais antigo
santuário cristão da França. |
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Desde
sempre a Borgonha tem sido conhecida como a região da França onde melhor se
come e bebe, e esta reputação tem origem ainda na época dos
conquistadores romanos, quando a culinária local e seus bons vinhos já
eram muito apreciados. Conta-se até mesmo que os 'bourguignons'
forjaram sua arte culinária inspirados pela natureza que os rodeava,
composta por colinas, vales e matas. Poesia, claro, mas com um
inegável fundo de verdade.
Halles Centrales de Dijon, o mercado municipal |
O mercado central da cidade, conhecido pelo nome de Les Halles
Centrales de Dijon foi inaugurado em 1875. É uma estrutura metálica com mais de
quatro mil metros quadrados e treze metros de altura, composto por quatro
pavilhões, formando uma cruz. Passear por aqui, pela manhã, é uma festa para os
olhos e para o paladar, e é quase impossível não ficar tentado pelos mil tipos
de queijos, vinhos, salames, carnes, frutas, vinhos, mostardas e muito mais que
se oferecem por suas mais de duzentas lojas e setecentas bancas internas e
externas. Quem quiser pode puxar um banquinho e degustar algumas de suas delícias
aqui mesmo, ou então levar para o hotel.
Vídeo: Marchée des Halles |
Como curiosidade, descobrimos que o Halles Centrales de Dijon tem até uma banca especializada em carne de cavalo (Viande de Cheval - para quem não sabe, esta é uma iguaria muito apreciada na França), onde pode se comprar coração,
rins, fígado de cavalo ou até mesmo mortadela de carne de cavalo.
Todos
os anos, sempre no outono, Dijon organiza sua Feira Gastronômica Internacional, considerada uma das dez mais importantes da França, e
que conta com, em média, quinhentos exibidores, atraindo um público
estimado de duzentas mil pessoas. E outra curiosidade é que este mercado
foi projetado pelo engenheiro Gustave Eiffel (o mesmo que construiu a
famosa torre de Paris). Gustave era natural de Dijon.
O
simpático largo mostrado na imagem ao lado é um dos recantos mais
charmosos e turísticos da cidade, conhecido como Place
François-Rude. Apesar do aspecto medieval, este simpático
recanto surgiu somente em 1904, quando outras construções foram
demolidas. No centro da praça destaca-se a escultura ‘Le
Vendangeur’,
representando um viticultor esmagando cachos de uvas com os pés, sobre
uma
cuba. Graças a esta escultura, a praça passou a ser conhecida também
como Place
du Bareuzai, pois a palavra Bareuzai é usada nesta região para designar
as
pessoas que, nos vinhedos, tem a função de esmagar as uvas para a
produção do
vinho. Uma carrocinha de sorvetes e o sempre presente carrosel
completam o cenário perfeito da praça. Foi aqui, no acolhedor
restaurante 'Au Moulin à Vent' que almoçamos neste dia e é preciso dizer que o restaurante não nos decepcionou. Quem quiser,
poderá até pedir um prato de carne de cavalo... |
Place
François-Rude |
Potinhos de mostarda em quiosque da Rue de la Chouette |
Em Dijon, a mostarda não é considerada apenas um condimento, mas sim uma necessidade, uma tradição e até mesmo uma arte. Plinio, o Velho (escritor
e filósofo romano do século I AC) costumava dizer que com um pouco de mostarda,
qualquer mulher fria se transforma na amante ideal. A fama da mostarda é
antiga, e, além dos romanos, ela já era apreciada nos
primórdios da civilização por gregos e egípcios. Mas
foi na França, em particular em Dijon, que ela
atingiu a perfeição. Produzida a partir dos grãos de uma planta da
família
brassicaceae, a mostarda de Dijon é feita basicamente com
grãos pretos e amarelos, adição de vinagre, suco de uvas
verdes, sal e ácido
cítrico, entre outras especiarias e ingredientes que os principias
fabricantes
preferem manter em segredo. |
A produção de mostarda de Dijon atinge cem
toneladas por ano, sendo grande parte exportada para mais de duzentos
países. É
de longe a mostarda mais consumida na Europa e tem dezenas de
variações, como
por exemplo, com adição de alho, vinho branco, figos, mel, estragão,
nozes e
muitas outras. É deliciosa, ideal para acompanhar carnes, molhos ou com
pão,
mas também é muito forte e deve ser consumida com moderação.
Para quem procura mostardas finas e especiais, o local certo para ir é a Maille,
situado na Rue de la Liberté 32. Esta empresa, fundada em 1747,
representa para mostardas o que a Rolls Royce representa para automóveis. A história desta empresa
começou ainda em Marselha, quando o comerciante Antoine Maille decidiu começar
a produzir e vender uma receita própria de condimento. Em poucos anos sua
receita já era um sucesso, o que o levou a abrir uma lojinha em Paris, fazendo
com que, em pouco tempo, seu produto caíssem também no gosto da nobreza
européia. Tornou-se fornecedor oficial dos reis da Hungria, Áustria, Rússia e
até Luiz XV da França caiu de amores pelos produtos de monsieur Maille. Após a
morte do fundador, seu filho assumiu a frente dos negócios, e em 1845 decidiu
abrir uma lojinha em Dijon, na rue de la Liberté.
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Loja da Maille na rue de la Liberté |
Originalmente a mostarda era
servida em bombas (como as usadas até hoje para servir cerveja nos pubs
ingleses) e bombeada para os clientes em jarros de porcelana de vários
tamanhos. Atualmente a Maille tem, além da loja em Dijon, filiais em Paris,
Londres e New York onde é possível comprar a famosa mostarda em vidrinhos, ou
bombeada em potes maiores, como manda a tradição. E até hoje a receita original
da Maille é um segredo de família.
Mas, embora seu nome tenha se
tornado sinônimo de mostardas de qualidade, não foi Maille o
responsável por tornar famosa a mostarda de Dijon. O principal
responsável pelo surgimento da tradicional mostarda de Dijon, segundo
conta a história, foi Jean Naigeon, nascido nesta cidade, e que um dia
teve a idéia de substituir um dos componentes originais da mostarda (o
Verjus, como é conhecido o suco ácido obtido a partir de uvas verdes
não maturadas) por vinagre. Esta aparentemente pequena alteração
resultou num produto menos ácido, de sabor mais intenso e que logo se
tornou um sucesso.
Atualmente, a mostarda
tradicional de Dijon tem entre seus componentes verjus, vinagre, vinho
branco, sal, grãos de mostarda amarela e marrom e outros ingredientes.
Sua coloração característica é amarela, e tem consistência cremosa.
Mas, ao contrário do que
acontece, por exemplo, com vinhos espumantes, onde somente os
produzidos na região de Champagne, França, podem receber o nome
Champagne (e os demais não podem ter esta denominação), a mostarda de
Dijon não tem 'denominação de origem protegida', o que significa que
qualquer lugar do mundo pode produzir mostarda de Dijon.
A produção local de mostarda é de cem toneladas por ano, e quiser conhecer mais sobre o
assunto deve visitar o Museu da Mostarda, onde sua história, desde os
tempos egípcios até nossa época é contada, incluindo técnicas de
fabricação, aspectos culturais, curiosidades e até receitas onde a
mostarda é um ingredientes essencial.
Centro Histórico |
Na
imagem do lado pode-se ver um trecho de um típico telhado multicolorido de
Dijon, os quais se tornaram uma das marcas registradas da cidade.
Conhecidos como Toits Bourguignons, estas coberturas são elaboradas
com cerâmica vitrificada dispostas em padrões geométricos, com
predominância do verde e amarelo e podem ser vistas em diversos
prédios históricos da região central, embelezando telhados quase sempre
muito inclinados.
O estilo arquitetônico
predominante na cidade mescla influências diversas, tanto da Dinastia Capetiana como dos períodos Gótico e Renascentista, sendo que muitas destas construções
datam do século XVIII. Dijon teve a sorte de ter sido pouco afetada
pelos combates ocorridos durante a Guerra Franco-Prussiana (1870) e
também durante a segunda guerra mundial (1940), o que permitiu que
muitos de seus prédios históricos sobrevivessem e possam, ainda hoje,
ser apreciados.
Algumas sugestões de pratos típicos locais: Bœuf Bourguignon (um dos mais
tradicionais da região, preparado com carne ao molho de vinho tinto,
cebolas e lardons - um tipo de folhinhas verdes). Lapin à la
Dijonnaise (coelho cozido em molho de mostarda de Dijon). Les
'Escargots de Bourgogne" (caracóis cozidos na manteiga ao alho).
Pôchouse (preparada com matelote - tipo de peixe, ao molho de vinho
branco, alho e cebolas). Les Gougères (massa com formato de bolinhas,
recheada com queijo quente, geralmente gruyère ou conté, muito comum
para acompanhar vinhos grands crus brancos, como o corton ou chablis),
Meurette (molho grosso, preparado com vinho aromatizados, temperos,
manteiga e farinha, usado no acompanhamento de ovos pochê e peixes).
Saupiquet (molho ao vinho branco, muito usado para acompanhar
presunto servido em fatias. Sandre (peixe de água doce, muito
saboroso, servido com molho à base de cebolas e vinho tinto).. |
Além da mostarda, Dijon é
famosa também por seu Crème de Cassis, produzido a partir das frutinhas de groselha negra, muito comum na
região. A bebida é uma delícia, assim como também são as geléias, doces e
licores preparados com Cassis. Especialmente famosa é a bebida
conhecida como 'Kir', que ganhou este nome graças a Félix Kir, herói de
guerra e prefeito de Dijon por mais de vinte anos. Conta-se que ele
adorava esta receita, e exigia que fosse preparada sempre misturando
creme de cassis com vinho branco tradicionalmente elaborado com uvas
aligoté (características desta região). Com o tempo, outras variações
surgiram, como o Kir Royal, onde o vinho branco foi substituído por
Champagne.
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Frutos de Cassis |
Campos de mostarda |
Taça de Kir |
As melhores ruas comerciais da cidade são a Rue de la Liberté, Rue du Bourg e Rue Bossuet e devem ser percorridas a pé. Turistas
que pretendem usar transporte coletivo, visitar museus
e outras atrações podem fazer alguma economia comprando o Dijon City Card, cartão
que por um preço fixo, dá direito a transporte e visitas ilimitadas,
durante um, dois ou três dias.
Dijon está situada no centro de uma planície, e é banhada pelos rios
Suzon e Ouche. Suas temperaturas médias situam-se entre 3 e 10 graus
durante o inverno (novembro a março) e 17 e 25 graus durante o verão
(junho a agosto). |
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Outras sugestões de passeios:
Promenade de l'Ouche, também conhecida como Coulée verte, ideal para
quem curte longas caminhadas ou pretende alugar uma bicicleta. Esta
trilha começa próximo à rue du Faubourg Raines e segue ao longo do rio
Ouche até o Lago Kir. Este lago artificial também é
um recanto muito popular, especialmente freqüentado durante
os dias quentes de verão e tem até uma praia.
Para quem curte áreas verdes
mas prefere não se afastar da região central, vale a pena tirar uma
hora para conhecer Jardin Darcy, um agradável parque situado
próximo à estação de trens. Também este, durante os meses quentes, é um
lugar muito freqüentado pelos habitantes da cidade, que tem o hábito de
vir ao parque e deitar na grama para pegar sol, sozinhos ou
acompanhados.
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Dijon
está situada no leste da França, região de Bourgogne (Borgonha) e
departamento de Côte-d'Or. De acordo com o último censo, sua população
intra-murs (como é conhecida a região central da cidade) é de pouco
mais de cento e cinqüenta mil habitantes. Seus habitantes são
conhecidos como Dijonnais e está situada a 310 quilômetros de Paris.
Dijon
mistura tradição e arte com modernidade e isto pode ser sentido com facilidade ao circular pelo centro
histórico. Lá está o famoso Grand Théâtre, construído em 1828
para abrigar concertos e óperas, bem próximo a modernos e silenciosos
bondes (trams). Estes veículos percorrem duas linhas, sendo a T1 no sentido
este-oeste, com nove quilômetros de extensão e a T2 no sentido norte
sul, com doze quilômetros. Automóveis são desaconselhados na região
central, pois grande parte das ruas é exclusiva de pedestres, e as
demais são estreitas e oferecem poucas vagas para estacionar. Quem estiver de carro deve mesmo deixá-lo na garagem do hotel.
Vídeo: Centro Histórico |
Para quem, como
nós, aprecia queijos, Dijon será um paraíso e ao mesmo tempo uma
tortura, tantas são as opções, o que, em
compensação, pode fazer com que a escolha se transforme num dilema.
Mas neste caso, para ajudar a tirar as dúvidas, uma boa
opção é fazer um 'test drive de queijos', num dos restaurantes que
oferecem 'plateaus de fromages'. Nestes locais o cliente pode pedir um
prato de queijos, que vem com cerca de vinte variedades
diferentes. São delícias como o le Brillat Savarin, le Saint-florentin,
le Petit Creux, le Bouton de Culotte, le Palet de Bourgogne, L'ami du
Chambertin, le Cendré de Vergy, le Soumaintrain e muitos outros. Impossível dizer qual o melhor. Cada um deve decidir por si próprio.
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E
para acompanhar tantos queijos, claro, nada como um bom vinho, só que aí encontramos outra
dificuldade, pois as opções são quase infinitas. Se isto serve como indicador de qualidade, os vinhos mais caros do mundo são produzidos na
Borgonha e nenhuma outra região da França tem tantos AOC (appellations
d’origine contrôlée – denominação de origem controlada) como a
Borgonha. São mais de cem AOC, de onde saem nomes mundialmente famosos,
como Romanée-Conti, Dugat-Py, Gevrey-Chambertin e Armand Rousseau. Mas
nem por isso alguém precisa pagar centenas de Euros para apreciar um
bom vinho da Borgonha. Diversos outros, de boas safras, podem ser
encontrados por preços ao alcance de praticamente qualquer um. Conta-se
que na França uma garrafinha de vinho é mais barata que uma lata de
coca cola, e isso, freqüentemente é verdade. Vinhos tintos produzidos a
partir de uvas pinot noir ou gamay e brancos, produzidos a partir de
uvas chadornay e aligoté são característicos da região, costumam ser
conhecidos como 'Vins de Bourgogne' e são acessíveis praticamente a
qualquer bolso. |
Durante nossa visita nos hospedamos no impecável Hotel Mercure Centre Clémenceau, situado a
pouca distância do centro histórico, e de manhã, após tomar o café,
seguíamos a pé pelo Boulevard Georges Clemenceau,passávamos pela Place de La Republique e em menos de
quinze minutos já estávamos no centro histórico. Tudo a pé, como deve ser a visita a qualquer cidade histórica.
Algumas
pessoas que visitam Dijon aproveitam para ir fundo na
Borgonha, e literalmente, colocar os pés na terra. Se você pertence a
este grupo, uma das melhores opções é um programa de bicicleta. Claro
que
este é um roteiro indicado principalmente para quem tem disposição
física, porque uma jornada de um dia inteiro pedalando requer, antes de mais nada, boas pernas. Mesmo assim, poucas
coisas proporcionam um mergulho tão intenso na região quanto este meio
de transporte. A melhor forma de fazer um roteiro destes
é se unindo a um grupo conduzido por um conhecedor da região.
Mas antes você precisará sair de Dijon e
chegar até uma das localidades dos arredores, onde são organizados
passeios deste tipo. Vá, por exemplo,
até Beaune, situada somente a 35 minutos de carro de Dijon, seguindo
pela estrada A31. Ao chegar lá, estacione e vá direto à Bourgogne
Evasion,
pequena empresa que organiza passeios guiados pelos arredores,
percorrendo trilhas ao longo de vinhedos, pequenas propriedades,
campos e caves, intercalados com degustações em locais selecionados. Ah
sim, e quem preferir, poderá encontrar, também em Beaune, empresas que
organizam passeios em carroças puxadas a cavalo ou até mesmo a
pé. |
Vinhedos de Beaune |
Diversas fotos em alta resolução: Dijon
Canal de Bourgogne
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O
Canal de Bourgogne é um curso artificial de água que corta a região
sul da França. Com mais de 250 quilômetros de comprimento e largura
média de cinco metros, ele foi construído a partir de 1775, e quase
sessenta anos foram necessários à conclusão dos trabalhos. Atravessando cidades, bosques e vilas, ele serpenteia sempre em
frente, sendo que na região sul de Dijon, quase todo seu percurso é em
linha reta. O objetivo de obra tão demorada foi comercial, pois quando
concluído, ele iria conectar rios, ligando o Atlântico ao Mediterrâneo e
proporcionando transporte rápido e eficiente de mercadorias. Embora o
sucesso comercial não tenha atingido o esperado pelos projetistas,
mesmo assim o canal colaborou muito com a economia local, e até hoje
embarcações diversas deslizam por suas águas. Turistas interessados num
passeio original poderão encontrar empresas que fazem cruzeiros pelo canal e até algumas que alugam barcos,
alternativa ideal para grupos ou famílias que querem evitar carros e
hotéis. Não fizemos este passeio, mas fica aqui a dica para quem quiser
apreciar a Borgonha a partir de um ângulo diferente e parando onde
quiser nas localidades ao longo do canal. |
E ainda falando de vinhos, lembre que não é necessário
entender para apreciar. Se estiver em dúvida sobre o que
escolher, peça uma sugestão ao garçom e não tenha vergonha de antes
perguntar o preço. Depois escolha uma boa mesa, de preferência na
calçada, para poder curtir o movimento da cidade ao crepúsculo. E quando a tábua
de queijos chegar e o garçom abrir a garrafa e servir sua taça, diga
merci, recoste na cadeira, brinde a ocasião e curta aquele momento, sem
pressa alguma. Porque, muito provavelmente, este momento nunca mais sairá de
suas lembranças.
Partimos
de Dijon num sábado de manhã, com
a certeza que tínhamos feito bem ao incluí-la em nosso roteiro
daquele ano. Ela é, sem dúvida, uma cidade tipicamente francesa, e
exemplos disso estão em todos os lugares, assim como nos hábitos e
maneirismos de seus habitantes. Mas ao mesmo tempo e de alguma forma,
ela é diferente das outras cidades do país, e isso não se limita
somente ao aspecto arquitetônico. Há algo especial na alma desta
cidade, que talvez provenha das ruas históricas tão bem preservadas,
que dão a impressão de guardar segredos não contados. Ou talvez o
especial venha das pessoas, do orgulho dos habitantes da Borgonha
por suas terras, vinhedos, queijos e tradições. Ou quem sabe mesmo, no
fundo a diferença seja causada simplesmente por um tempero que é a
marca registrada deste lugar. Afinal, se uma boa mostarda
é ingrediente essencial para dar um toque marcante a qualquer
prato, com certeza ela pode tornar ainda mais especial uma cidade que
normalmente já seria difícil de esquecer. |
Centro histórico ao cair da noite
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Mostarda de Dijon
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