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Dijon, a Capital das Mostardas. Bem, pelo menos é isto que vem à mente de quase todos quando pensam neste local, mas a verdade é que, como uma das principais cidades da França, seria ingenuidade supor que Dijon se resume apenas às muitas variedades do famoso condimento amarelo e marron. Dijon tem história (foi sede do Ducado da Borgonha), cultura (diversos museus e festivais de música), arquitetura (rico patrimônio histórico tombado), excelentes vinhos (route des Grands Crus), castelos, vilas, vilarejos e principalmente uma gente que parece ter descoberto o segredo de curtir a vida com sabedoria, um dia de cada vez, e que até criou um lema para representar este estado de espírito: 'Viver como um Bourguignon'. Dijon, capital da Borgonha, é o coração de todas as descobertas e prazeres que se oferecem, generosamente, aos que aqui chegam.

   

Visitantes que chegarem à cidade de trem irão desembarcar na Gare SNCF, situada ao lado do centro histórico e de todas suas atrações. E quem não tiver reserva de hotel, o ideal é ir até o Office de Tourisme, onde poderão lhe ajudar com reservas, fornecer mapas e dar informações úteis. 

Na época romana, Dijon era conhecida como Divio, vocábulo que séculos mais tarde daria origem ao nome atual da cidade. Após o declínio do império romano Dijon cresceu muito em importância, a tal ponto que, no período compreendido entre os séculos XI e XV havia se transformado na capital do Ducado da Borgonha (na época, o mesmo que um reino, onde o soberano detinha o título de Duque da Borgonha), com grande poder e influência sobre o resto da Europa, além de destacado centro de artes, conhecimento e riquezas.   

Na imagem ao lado é possível ver a flexa da igreja Notre Dame de Dijon. Considerada como uma das principais obras de arquitetura gótica do século XIII, sua construção, estima-se, foi concluída por volta de 1250 e um de seus tesouros é a imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança (Notre-Dame de Bon-Espoir), antigamente conhecida como a Virgem Negra, devido à sua coloração. Junto com a Corujinha (ler mais abaixo), ela é considerada um dos principais símbolos da cidade.


Rue de la Chouette

 


Rue de la Liberté

A Rue de la Liberté, junto com a Rue Rameon formam as principais vias comerciais de Dijon. Com menos de um quilômetro de extensão, ao longo das duas estão situadas diversas lojas, butiques, cafés, restaurantes, farmácias, patisseries, boulangeries etc. Vale a pena percorrer estas ruas com calma, descobrindo suas curiosidades, gostosuras e, quem sabe, descobrir aquela comprinha que não dá para deixar de fazer. Vale percorrer ainda as ruas perpendiculares, como a Rue de la Liberté, Rue du Chapeau Rouge, Rue du Chateau, Rue Bossuet e também as paralelas, Rue de la Poste e  Place Grangier. 

Dijon tem um dos mais bem conservados centros históricos medievais da Europa, e em certos locais, se não olharmos para os modernos letreiros das lojas, dá até para imaginar que voltamos no tempo até o século XV.

 

Dijon também tem seu Arco do Triunfo, conhecido como Porte Guillaume, situado na extremidade oeste da Rue de la Liberté. Este monumento, construído durante o século XVIII foi erguido no mesmo local onde, durante a idade média, estava situada uma das portas de acesso à antiga cidade murada. Inaugurado em 1788, o monumento homenageia o Príncipe de Condé, razão pela qual foi batizado de Porte de Condé. Após a revolução francesa o monumento foi renomado como Porte de la Liberté, e ainda mais tarde como Porte Guillaume, em homenagem ao religioso Guillaume de Volpiano, monge beneditino e reformador litúrgico italiano.


Porte Guillaume

 


Palácio dos Duques da Borgonha

O palácio dos antigos Duques da Borgonha (imagem ao lado) constitui o conjunto arquitetônico mais bonito e imponente da cidade. Localizado no coração da cidade, o endereço agora abriga a Pefeitura (Hotel de Ville) e o Museu de Belas Artes de Dijon. Em frente ao complexo, uma área de pedestres, em forma de semi-círculo e que atende pelo nome de Place de La Liberation, reúne restaurantes, cafés e algumas brasseries, algumas com mesinhas nas calçadas. Este é o ponto ideal para aquela pausa estratégica quando os pés já estão doendo de tanto caminhar, sentar e beber alguma coisa, enquanto as crianças se divertem correndo entre as fontes do calçadão.

Partindo daqui e seguindo na direção leste pela rue Rameau chega-se à bela Église de Saint Michel. E em direção contrária, seguindo reto pela rue de la Liberté, chega-se à principal área comercial da cidade, exclusiva de pedestres, onde fica a praça conhecida como Jardins Darcy e seu grande arco.

Quer uma dica de loja de bom preço e com muita variedade de artigos? Experimente a Monoprix. Esta rede tem lojas em todo o país, e entre outras coisas, merece destaque seu departamento de cremes e loções, onde estão algumas das melhores marcas.

 

A Place de la Libération é o coração histórico e geométrico de Dijon, e todas as ruas da cidade parecem convergir para cá. Com forma semi-circular, ela foi projetada como um espaço público frente ao palácio dos Duques da Borgonha, para que sua beleza e imponência pudesse ser apreciada sem impedimentos. Era praticamente uma extensão dos domínios reais, e não por acaso, em seu centro existe uma estátua eqüestre de Luiz XIV, o Rei Sol. Após a revolução francesa e a queda da família real, a praça foi renomeada como 'Place d'Armes', a estátua foi destruída e teve seu metal derretido e utilizado na fabricação de canhões.


Place de La Liberation

Mas o novo nome não durou muito, e em 1804 ela foi novamente rebatizada como 'Place Impériale', e mais tarde (1814) como 'Place Royale', e depois (1831) como ' Place d'Armes', e depois (1941) 'Place du Maréchal Pétain', e finalmente, em 1944 ' Place de la Libération', em homenagem à liberação da França pelas tropas aliadas, ao fim da segunda guerra mundial.  Em 2006 foi transformada em área exclusiva de pedestres, com a instalação de fontes no trecho central e desde então é um dos lugares mais freqüentados por turistas.

Ao visitar o Palácio dos Duques da Borgonha, em frente à Place de la Liberation, não deixe de subir até o topo da torre conhecida como Tour Philippe le Bon, de onde, do alto de seus 46 metros de altura, se tem uma vista privilegiada. Fronçois I, rei da França, disse certa vez, se referindo à Dijon: 'C'est la ville aux cent clochers', ou seja, é a cidade com cem campanários. Efetivamente, quem subir esta torre e olhar em volta verá que, mesmo que eles não cheguem a uma centena, são muitos, e conferem à capital da Borgonha uma silhueta incomparável.


La Chouette (a corujinha) de Dijon

Um dos símbolos mais conhecidos de Dijon é sua pequena coruja (chouettte), que pode ser vista em placas fixadas ao chão e em fachadas de prédios. Conta-se que a origem deste símbolo remonta ao século XV, quando, atendendo a um desejo da família Chambellan - uma das mais ricas e influentes da cidade na época - uma pequena escultura de coruja foi incorporada à fachada externa oeste da igreja Notre Dame, junto à passagem pública.

Não se sabem os motivos que levaram a família a escolher este símbolo (uma das razões seria devido à coruja, tradicionalmente, simbolizar a inteligência e o saber), mas o fato é que com o tempo a escultura havia se tornado popular e adquirido fama de dar sorte aos que a acariciavam. Com o passar dos séculos a corujinha se tornou praticamente um símbolo de Dijon, e hoje em dia muita gente que passeia pelo centro histórico, ao lado da igreja, tem o hábito de passar suavemente a mão esquerda sobre a desgastada escultura, o que dizem, faz com que se concretize um grande desejo.

Muitos séculos depois, quando a prefeitura decidiu criar um roteiro que passasse pelos principais pontos históricos da cidade e demarcar esta trilha no chão, o símbolo escolhido foi, claro, a corujinha de Dijon. Hotéis e estabelecimentos comerciais oferecem, gratuitamente, um mapinha da cidade, onde a trilha é mostrada, e para conhecer o centro histórico basta seguir as diversas placas metálicas com a imagem da corujinha, todas numeradas (imagem ao lado). O roteiro não é longo e em cerca de duas ou três horas, conforme a velocidade de cada um, pode ser percorrido com facilidade.

 

Quem aprecia o circuito de museus não vai ficar decepcionado, e poderá escolher entre o Musée des Beaux-ArtsMusée d'Art Sacré, Musée Magnin e o Musée Archéologique de Dijon.

Outras visitas que não devem ser esquecidas: Musée de la Vie Bourguignonne (Rue Ste Anne 17), que dá uma boa idéia de como era a vida das pessoas na época medieval. Musée de la Moutarde (Quai Nicolas Rolin 48), que como o nome informa, conta tudo sobre a história da mostarda e de sua evolução à categoria de arte culinária. Cathedrale St-Benigne (Rue du docteur Maret), onde está a sepultura de Saint Bénigne, padroeiro da cidade. Sua cripta, situada no subsolo da catedral, é considerada o mais antigo santuário cristão da França.

Desde sempre a Borgonha tem sido conhecida como a região da França onde melhor se come e bebe, e esta reputação tem origem ainda na época dos conquistadores romanos, quando a culinária local e seus bons vinhos já eram muito apreciados. Conta-se até mesmo que os 'bourguignons' forjaram sua arte culinária inspirados pela natureza que os rodeava, composta por colinas, vales e matas. Poesia, claro, mas com um inegável fundo de verdade. 


Halles Centrales de Dijon, o mercado municipal

O mercado central da cidade, conhecido pelo nome de Les Halles Centrales de Dijon foi inaugurado em 1875. É uma estrutura metálica com mais de quatro mil metros quadrados e treze metros de altura, composto por quatro pavilhões, formando uma cruz. Passear por aqui, pela manhã, é uma festa para os olhos e para o paladar, e é quase impossível não ficar tentado pelos mil tipos de queijos, vinhos, salames, carnes, frutas, vinhos, mostardas e muito mais que se oferecem por suas mais de duzentas lojas e setecentas bancas internas e externas. Quem quiser pode puxar um banquinho e degustar algumas de suas delícias aqui mesmo, ou então levar para o hotel.

Vídeo: Marchée des Halles

Como curiosidade, descobrimos que o Halles Centrales de Dijon tem até uma banca especializada em carne de cavalo (Viande de Cheval - para quem não sabe, esta é uma iguaria muito apreciada na França), onde pode se comprar coração, rins, fígado de cavalo ou até mesmo mortadela de carne de cavalo.

Todos os anos, sempre no outono, Dijon organiza sua Feira Gastronômica Internacional, considerada uma das dez mais importantes da França, e que conta com, em média, quinhentos exibidores, atraindo um público estimado de duzentas mil pessoas. E outra curiosidade é que este mercado foi projetado pelo engenheiro Gustave Eiffel (o mesmo que construiu a famosa torre de Paris). Gustave era natural de Dijon.

O simpático largo mostrado na imagem ao lado é um dos recantos mais charmosos e turísticos da cidade,  conhecido como Place François-Rude. Apesar do aspecto medieval, este simpático recanto surgiu somente em 1904, quando outras construções foram demolidas.  No centro da praça destaca-se a escultura ‘Le Vendangeur’, representando um viticultor esmagando cachos de uvas com os pés, sobre uma cuba. Graças a esta escultura, a praça passou a ser conhecida também como Place du Bareuzai, pois a palavra Bareuzai é usada nesta região para designar as pessoas que, nos vinhedos, tem a função de esmagar as uvas para a produção do vinho. Uma carrocinha de sorvetes e o sempre presente carrosel completam o cenário perfeito da praça. Foi aqui, no acolhedor restaurante 'Au Moulin à Vent' que almoçamos neste dia e é preciso dizer que o restaurante não nos decepcionou. Quem quiser, poderá até pedir um prato de carne de cavalo...


Place François-Rude

 


Potinhos de mostarda em quiosque da Rue de la Chouette

Em Dijon, a mostarda não é considerada apenas um condimento, mas sim uma necessidade, uma tradição e até mesmo uma arte. Plinio, o Velho (escritor e filósofo romano do século I AC) costumava dizer que com um pouco de mostarda, qualquer mulher fria se transforma na amante ideal. A fama da mostarda é antiga, e, além dos romanos, ela já era apreciada nos primórdios da civilização por gregos e egípcios. Mas foi na França, em particular em Dijon, que ela atingiu a perfeição. Produzida a partir dos grãos de uma planta da família brassicaceae, a mostarda de Dijon é feita basicamente com grãos pretos e amarelos,  adição de vinagre, suco de uvas verdes, sal e ácido cítrico, entre outras especiarias e ingredientes que os principias fabricantes preferem manter em segredo.

A produção de mostarda de Dijon atinge cem toneladas por ano, sendo grande parte exportada para mais de duzentos países. É de longe a mostarda mais consumida na Europa e tem dezenas de variações, como por exemplo, com adição de alho, vinho branco, figos, mel, estragão, nozes e muitas outras. É deliciosa, ideal para acompanhar carnes, molhos ou com pão, mas também é muito forte e deve ser consumida com moderação.

Para quem procura mostardas finas e especiais, o local certo para ir é a Maille, situado na Rue de la Liberté 32. Esta empresa, fundada em 1747, representa para mostardas o que a Rolls Royce representa para automóveis. A história desta empresa começou ainda em Marselha, quando o comerciante Antoine Maille decidiu começar a produzir e vender uma receita própria de condimento. Em poucos anos sua receita já era um sucesso, o que o levou a abrir uma lojinha em Paris, fazendo com que, em pouco tempo, seu produto caíssem também no gosto da nobreza européia. Tornou-se fornecedor oficial dos reis da Hungria, Áustria, Rússia e até Luiz XV da França caiu de amores pelos produtos de monsieur Maille. Após a morte do fundador, seu filho assumiu a frente dos negócios, e em 1845 decidiu abrir uma lojinha em Dijon, na rue de la Liberté.


Loja da Maille na rue de la Liberté

Originalmente a mostarda era servida em bombas (como as usadas até hoje para servir cerveja nos pubs ingleses) e bombeada para os clientes em jarros de porcelana de vários tamanhos. Atualmente a Maille tem, além da loja em Dijon, filiais em Paris, Londres e New York onde é possível comprar a famosa mostarda em vidrinhos, ou bombeada em potes maiores, como manda a tradição. E até hoje a receita original da Maille é um segredo de família. 

Mas, embora seu nome tenha se tornado sinônimo de mostardas de qualidade, não foi Maille o responsável por tornar famosa a mostarda de Dijon. O principal responsável pelo surgimento da tradicional mostarda de Dijon, segundo conta a história, foi Jean Naigeon, nascido nesta cidade, e que um dia teve a idéia de substituir um dos componentes originais da mostarda (o Verjus, como é conhecido o suco ácido obtido a partir de uvas verdes não maturadas) por vinagre. Esta aparentemente pequena alteração resultou num produto menos ácido, de sabor mais intenso e que logo se tornou um sucesso.

Atualmente, a mostarda tradicional de Dijon tem entre seus componentes verjus, vinagre, vinho branco, sal, grãos de mostarda amarela e marrom e outros ingredientes. Sua coloração característica é amarela, e tem consistência cremosa.

Mas, ao contrário do que acontece, por exemplo, com vinhos espumantes, onde somente os produzidos na região de Champagne, França, podem receber o nome Champagne (e os demais não podem ter esta denominação), a mostarda de Dijon não tem 'denominação de origem protegida', o que significa que qualquer lugar do mundo pode produzir mostarda de Dijon.

A produção local de mostarda é de cem toneladas por ano, e quiser conhecer mais sobre o assunto deve visitar o Museu da Mostarda, onde sua história, desde os tempos egípcios até nossa época é contada, incluindo técnicas de fabricação, aspectos culturais, curiosidades e até receitas onde a mostarda é um ingredientes essencial.


Centro Histórico

Na imagem do lado pode-se ver um trecho de um típico telhado multicolorido de Dijon, os quais se tornaram uma das marcas registradas da cidade. Conhecidos como Toits Bourguignons, estas coberturas são elaboradas com cerâmica vitrificada dispostas em padrões geométricos, com predominância do verde e amarelo e podem ser vistas em diversos prédios históricos da região central, embelezando telhados quase sempre muito inclinados.

O estilo arquitetônico predominante na cidade mescla influências diversas, tanto da Dinastia Capetiana como dos períodos Gótico e Renascentista, sendo que muitas destas construções datam do século XVIII. Dijon teve a sorte de ter sido pouco afetada pelos combates ocorridos durante a Guerra Franco-Prussiana (1870) e também durante a segunda guerra mundial (1940), o que permitiu que muitos de seus prédios históricos sobrevivessem e possam, ainda hoje, ser apreciados.

Algumas sugestões de pratos típicos locais: Bœuf Bourguignon (um dos mais tradicionais da região,  preparado com carne ao molho de vinho tinto, cebolas e lardons - um tipo de folhinhas verdes). Lapin à la Dijonnaise (coelho cozido em molho de mostarda de Dijon). Les 'Escargots de Bourgogne" (caracóis cozidos na manteiga ao alho). Pôchouse (preparada com matelote - tipo de peixe, ao molho de vinho branco, alho e cebolas). Les Gougères (massa com formato de bolinhas, recheada com queijo quente, geralmente gruyère ou conté, muito comum para acompanhar vinhos grands crus brancos, como o corton ou chablis), Meurette (molho grosso, preparado com vinho aromatizados, temperos, manteiga e farinha, usado no acompanhamento de ovos pochê e peixes). Saupiquet (molho ao vinho branco, muito usado para acompanhar presunto servido em fatias. Sandre (peixe de água doce, muito saboroso, servido com molho à base de cebolas e vinho tinto)..

Além da mostarda, Dijon é famosa também por seu Crème de Cassis, produzido a partir das frutinhas de groselha negra, muito comum na região. A bebida é uma delícia, assim como também são as geléias, doces e licores preparados com Cassis. Especialmente famosa é a bebida conhecida como 'Kir', que ganhou este nome graças a Félix Kir, herói de guerra e prefeito de Dijon por mais de vinte anos. Conta-se que ele adorava esta receita, e exigia que fosse preparada sempre misturando creme de cassis com vinho branco tradicionalmente elaborado com uvas aligoté (características desta região). Com o tempo, outras variações surgiram, como o Kir Royal, onde o vinho branco foi substituído por Champagne.  

Frutos de Cassis Campos de mostarda Taça de Kir

 

As melhores ruas comerciais da cidade são a Rue de la Liberté, Rue du Bourg e Rue Bossuet e devem ser percorridas a pé. Turistas que pretendem usar transporte coletivo, visitar museus e outras atrações podem fazer alguma economia comprando o Dijon City Card, cartão que por um preço fixo, dá direito a transporte e visitas ilimitadas, durante um, dois ou três dias.

Dijon está situada no centro de uma planície, e é banhada pelos rios Suzon e Ouche. Suas temperaturas médias situam-se entre 3 e 10 graus durante o inverno (novembro a março) e 17 e 25 graus durante o verão (junho a agosto).

Outras sugestões de passeios: Promenade de l'Ouche, também conhecida como Coulée verte, ideal para quem curte longas caminhadas ou pretende alugar uma bicicleta. Esta trilha começa próximo à rue du Faubourg Raines e segue ao longo do rio Ouche até o Lago Kir. Este lago artificial também é um recanto muito popular, especialmente freqüentado durante os dias quentes de verão e tem até uma praia.

Para quem curte áreas verdes mas prefere não se afastar da região central, vale a pena tirar uma hora para conhecer Jardin Darcy, um agradável parque situado próximo à estação de trens. Também este, durante os meses quentes, é um lugar muito freqüentado pelos habitantes da cidade, que tem o hábito de vir ao parque e deitar na grama para pegar sol, sozinhos ou acompanhados.

Dijon está situada no leste da França, região de Bourgogne (Borgonha) e departamento de Côte-d'Or. De acordo com o último censo, sua população intra-murs (como é conhecida a região central da cidade) é de pouco mais de cento e cinqüenta mil habitantes. Seus habitantes são conhecidos como Dijonnais e está situada a 310 quilômetros de Paris.

Dijon mistura tradição e arte com modernidade e isto pode ser sentido com facilidade ao circular pelo centro histórico. Lá está o famoso Grand Théâtre, construído em 1828 para abrigar concertos e óperas, bem próximo a modernos e silenciosos bondes (trams). Estes veículos percorrem duas linhas, sendo a T1 no sentido este-oeste, com nove quilômetros de extensão e a T2 no sentido norte sul, com doze quilômetros. Automóveis são desaconselhados na região central, pois grande parte das ruas é exclusiva de pedestres, e as demais são estreitas e oferecem poucas vagas para estacionar. Quem estiver de carro deve mesmo deixá-lo na garagem do hotel.

Vídeo: Centro Histórico

Para quem, como nós, aprecia queijos, Dijon será um paraíso e ao mesmo tempo uma tortura, tantas são as opções, o que, em compensação, pode fazer com que a escolha se transforme num dilema.  Mas neste caso, para ajudar a tirar as dúvidas, uma boa opção é fazer um 'test drive de queijos', num dos restaurantes que oferecem 'plateaus de fromages'. Nestes locais o cliente pode pedir um prato de queijos, que vem com cerca de vinte variedades diferentes. São delícias como o le Brillat Savarin, le Saint-florentin, le Petit Creux, le Bouton de Culotte, le Palet de Bourgogne, L'ami du Chambertin, le Cendré de Vergy, le Soumaintrain e muitos outros. Impossível dizer qual o melhor. Cada um deve decidir por si próprio.


E para acompanhar tantos queijos, claro, nada como um bom vinho, só que aí encontramos outra dificuldade, pois as opções são quase infinitas. Se isto serve como indicador de qualidade, os vinhos mais caros do mundo são produzidos na Borgonha e nenhuma outra região da França tem tantos AOC (appellations d’origine contrôlée – denominação de origem controlada) como a Borgonha. São mais de cem AOC, de onde saem nomes mundialmente famosos, como Romanée-Conti, Dugat-Py, Gevrey-Chambertin e Armand Rousseau. Mas nem por isso alguém precisa pagar centenas de Euros para apreciar um bom vinho da Borgonha. Diversos outros, de boas safras, podem ser encontrados por preços ao alcance de praticamente qualquer um. Conta-se que na França uma garrafinha de vinho é mais barata que uma lata de coca cola, e isso, freqüentemente é verdade. Vinhos tintos produzidos a partir de uvas pinot noir ou gamay e brancos, produzidos a partir de uvas chadornay e aligoté são característicos da região, costumam ser conhecidos como 'Vins de Bourgogne' e são acessíveis praticamente a qualquer bolso.

Durante nossa visita nos hospedamos no impecável Hotel Mercure Centre Clémenceau, situado a pouca distância do centro histórico, e de manhã, após tomar o café, seguíamos a pé pelo Boulevard Georges Clemenceau,passávamos pela Place de La Republique e em menos de quinze minutos já estávamos no centro histórico. Tudo a pé, como deve ser a visita a qualquer cidade histórica.

Algumas pessoas que visitam Dijon aproveitam para ir fundo na Borgonha, e literalmente, colocar os pés na terra. Se você pertence a este grupo, uma das melhores opções é um programa de bicicleta. Claro que este é um roteiro indicado principalmente para quem tem disposição física, porque uma jornada de um dia inteiro pedalando requer, antes de mais nada, boas pernas. Mesmo assim, poucas coisas proporcionam um mergulho tão intenso na região quanto este meio de transporte. A melhor forma de fazer um roteiro destes é se unindo a um grupo conduzido por um conhecedor da região. Mas antes você precisará sair de Dijon e chegar até uma das localidades dos arredores, onde são organizados passeios deste tipo. Vá, por exemplo, até Beaune, situada somente a 35 minutos de carro de Dijon, seguindo pela estrada A31. Ao chegar lá, estacione e vá direto à Bourgogne Evasion, pequena empresa que organiza passeios guiados pelos arredores, percorrendo trilhas ao longo de vinhedos, pequenas propriedades, campos e caves, intercalados com degustações em locais selecionados. Ah sim, e quem preferir, poderá encontrar, também em Beaune, empresas que organizam passeios em carroças puxadas a cavalo ou até mesmo a pé.


Vinhedos de Beaune

Diversas fotos em alta resolução: Dijon

 


Canal de Bourgogne

O Canal de Bourgogne é um curso artificial de água que corta a região sul da França. Com mais de 250 quilômetros de comprimento e largura média de cinco metros, ele foi construído a partir de 1775, e quase sessenta anos foram necessários à conclusão dos trabalhos. Atravessando cidades, bosques e vilas, ele serpenteia sempre em frente, sendo que na região sul de Dijon, quase todo seu percurso é em linha reta. O objetivo de obra tão demorada foi comercial, pois quando concluído, ele iria conectar rios, ligando o Atlântico ao Mediterrâneo e proporcionando transporte rápido e eficiente de mercadorias. Embora o sucesso comercial não tenha atingido o esperado pelos projetistas, mesmo assim o canal colaborou muito com a economia local, e até hoje embarcações diversas deslizam por suas águas. Turistas interessados num passeio original poderão encontrar empresas que fazem cruzeiros pelo canal e até algumas que alugam barcos, alternativa ideal para grupos ou famílias que querem evitar carros e hotéis. Não fizemos este passeio, mas fica aqui a dica para quem quiser apreciar a Borgonha a partir de um ângulo diferente e parando onde quiser nas localidades ao longo do canal.

E ainda falando de vinhos, lembre que não é necessário entender para apreciar. Se estiver em dúvida sobre o que escolher, peça uma sugestão ao garçom e não tenha vergonha de antes perguntar o preço. Depois escolha uma boa mesa, de preferência na calçada, para poder curtir o movimento da cidade ao crepúsculo. E quando a tábua de queijos chegar e o garçom abrir a garrafa e servir sua taça, diga merci, recoste na cadeira, brinde a ocasião e curta aquele momento, sem pressa alguma. Porque, muito provavelmente, este momento nunca mais sairá de suas lembranças.

Partimos de Dijon num sábado de manhã, com a certeza que tínhamos feito bem ao incluí-la em nosso roteiro daquele ano. Ela é, sem dúvida, uma cidade tipicamente francesa, e exemplos disso estão em todos os lugares, assim como nos hábitos e maneirismos de seus habitantes. Mas ao mesmo tempo e de alguma forma, ela é diferente das outras cidades do país, e isso não se limita somente ao aspecto arquitetônico. Há algo especial na alma desta cidade, que talvez provenha das ruas históricas tão bem preservadas, que dão a impressão de guardar segredos não contados. Ou talvez o especial venha das pessoas, do orgulho dos habitantes da Borgonha por suas terras, vinhedos, queijos e tradições. Ou quem sabe mesmo, no fundo a diferença seja causada simplesmente por um tempero que é a marca registrada deste lugar. Afinal, se uma boa mostarda é ingrediente essencial para dar um toque marcante a qualquer prato, com certeza ela pode tornar ainda mais especial uma cidade que normalmente já seria difícil de esquecer.


Centro histórico ao cair da noite

 


Mostarda de Dijon