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Vista dos telhados de Bordeax

O que nós sabíamos sobre Bordeaux antes de chegar lá? Nada. Ou melhor, sabíamos que a cidade é famosa em todo o mundo graças a seus excelentes vinhos. Mas era só. Mesmo assim, como estávamos percorrendo a Aquitaine, seria impensável passar aqui e não conhecer a capital do departamento da Gironde. E sem conhecer a Vieille Ville... E sem degustar alguns de seus vinhos... Assim, fizemos reserva num hotel próximo ao centro, programamos o GPS e lá fomos nós, animados e curiosos com o que nos esperava pela frente.

E foi ótimo estarmos com um GPS, porque, chegando sem problemas do sul da França pela Autoroute de Deux Mers, e a seguir acessando o anel rodoviário que envolve a cidade, tudo depois se transformou num labirinto de avenidas, ruas estreitas, traçados confusos, rotatórias mal sinalizadas e nomes de ruas que não conseguíamos ler. Mas, justiça seja feita, nosso Garmin nos levou direitinho até a entrada do hotel. Estacionamos o carro na garagem, e lá ele ficou até o dia que deixamos a cidade.

Sim, esqueça o carro quando visitar Bordeaux. Toda região do centro histórico, mostrada na foto acima, pouco mudou nas últimas décadas, e para usar um termo atual, poderíamos dizer que esta parte da cidade não é car-friendly. Ande a pé, utilize o excelente e moderno Tram, alugue uma bicicleta (todo mundo usa), mas deixe o carro na garagem.

Bordeaux situa-se a três horas de trem de Paris, e a estação ferroviária da cidade (Gare Saint Jean) está a quatro quilômetros do centro, de onde se pode pegar um ônibus, bonde (a linha C segue até o centro) ou táxi até o destino final. Quem chegar à cidade de avião desembarcará no Aeroport de Bordeaux-Merignac, situado cerca de dez quilômetro a oeste da cidade, ligado à estação de trens e ao centro por ônibus, trens e taxis.

Depois de deixarmos as coisas no confortável Novotel Centre Meriadeck saímos a caminhar em direção ao centro histórico, apreciando a arquitetura de seus prédios, e foi impossível não perceber a semelhança da arquitetura da cidade com Paris. Com justiça, descobrimos logo depois que Bordeaux é conhecida como Petite Paris (pequena Paris), graças às suas semelhanças com a capital. Ao mesmo tempo, circulando entre os prédios de arquitetura clássica, passava a todo momento por nós o moderno trem urbano, conhecido como Bordeaux Tramway. Mas, como Bordeaux é uma cidade plana e onde nada é longe demais, a melhor forma de conhecer seus pontos principais ainda é andando. Carros, nem pensar, pois embora o trânsito seja tranqüilo, estacionar no centro é caro e difícil. Escolha de preferência um hotel situado na zona central, situada próxima às margens do La Garonne, o qual banha a cidade, e a rue Saint Sernin, que corre paralela a este rio.


Uma das linhas de Tram da cidade

Além de 'Petite Paris', Bordeaux também é conhecida como 'La Perle d'Aquitaine' (A pérola da Aquitaine) e 'La Belle Endormie' (a Bela Adormecida).


Tour Pey-Berland

A caminho do centro histórico, o primeiro marco arquitetônico que visitamos foi a torre mostrada ao lado, conhecida como Tour Pey-Berland. Sua construção ocorreu entre 1440 e 1500, por iniciativa do arcebispo da cidade, e por isto ela ganhou seu nome. Situada em frente à Cathédrale Saint-André, a decisão de construi-la em separado foi tomada para proteger a catedral da vibração dos pesados sinos, um procedimento usual na época. O curioso é que, após a construção da catedral, conta-se que a igreja não tinha dinheiro para a compra dos imensos sinos, o que fez com que a torre permanecesse sem desempenhar a função para a qual havia sido projetada até 1790, quando a fundição dos sinos foi finalmente providenciada. Somente em 1851 eles foram instalados na torre. No alto foi colocada uma estátua dourada, consagrada à Virgem Maria com o menino Jesus, conhecida como Notre-Dame d'Aquitaine. O acesso à parte superior da torre é feito através de uma escadaria de 232 degraus, nem sempre aberta ao público.

E claro, como a torre está situada frente à Cathédrale Saint-André, não deixe de visitar também este belo templo, consagrada pelo Papa Urbano II em 1096. Da construção original, somente uma muralha permanece intacta, sendo que seu portão foi construído no século 13 e o restante entre os séculos 14 e 15. Nesta catedral foi celebrado, em 1137, o casamento de Aliénor d'Aquitaine, que na época tinha quinze anos, com Luiz VII, futuro rei da França.

Quase em frente à Catedral e à Tour Pey-Berland, situa-se também a prefeitura da cidade (Hotel de Ville). A entrada não é aberta ao público, mesmo assim não deixe de apreciar a fachada do belo prédio.

Em termos históricos e turísticos, o melhor da cidade situa-se à leste do La Garonne e, já que a cidade é plana, o transporte de bicicletas é muito utilizado, principalmente entre moradores. Praticamente não existem prédios altos em Bordeaux e a paisagem urbana é dominada por imponentes mansões de pedras e terraços, o que reforça sua semelhança com Paris, inclusive quanto à coloração dos prédios, onde a tonalidade ocre amarelada predomina. Vielas, ruas estreitas, becos, passagens para pedestres e avenidas convivem harmonicamente, como a nos convidar a explorar cada recanto da cidade. A cidade é famosa por seu vibrante cenário cultural e musical e não figura entre as mais caras do país.


Rua de Vieille Ville

 


Restaurante frente ao l'Hotel de Ville

O centro histórico de Bordeaux situa-se entre o La Garonne (à leste), as rues Saint Sermin / Cour d'Albret (oeste), a Cour Arnozan (norte) e a Place de la Victoire (ao sul). Bares e restaurantes, claro, estão em todo lugar, com suas mesinhas redondas, onde se pode pedir um café, vinho ou o que preferir, e ficar curtindo o movimento nas calçadas o tempo que quiser. Como em praticamente qualquer cidade francesa, em Bordeaux há uma grande variedade de restaurantes, cafés e bistrôs, portanto encontrar um lugar adequado para uma refeição nunca é difíci.Quanto à escolha do prato isto também não é problema pois em quase todo lugar se encontra desde o típico 'Plat du Jour' (prato do dia), freqüentemente composto de poullet (frango assado) e pommes frites (batatas fritas) até as sempre presentes 'Formula 3' (onde se escolhe, a partir de uma relação com dez ou vinte itens e por preço fixo, um prato de entrada, um principal e uma sobremesa).

Mas, quem quiser conhecer algo tipicamente local poderá tentar, por exemplo, uma carne preparada 'à la Sauce Bordelaise' (com molho à moda de Bordeaux, preparado com vinho tinto, tutano de boi, manteiga e cebolas, servido usualmente com carnes grelhadas, entrecôte etc). Agneau (carneiro) também é uma pedida constante, geralmente preparado com ervas da estação e alho. Já quem prefere peixes ou frutos do mar poderá optar por uma tradicional 'Lamproie a la Bordelaise' (enguia servida em molho espesso à base de vinho, cebolas e alho) ou pedir as famosas Ostras de Bordeaux. E quanto ao acompanhamento.... bem, estamos em Bordeaux, por isso não há como escolher nada diferente de um bom vinho local. Leia mais sobre este assunto logo abaixo.

É impossível pensar em Bordeaux sem lembrar da rua Sainte Catherine. Ela é seu coração, sua alma e sua artéria principal. Conhecida pelos íntimos como 'Sainte Cath', ela é a rua mais importante da cidade, o lugar para passear, ver e ser visto. Além disso, cruza praticamente todas as vias principais da cidade, o que lhe dá uma situação privilegiada. Desde 1977 é uma rua exclusiva de pedestres e, como gostam de dizer os 'Bordelais' (os moradores daqui) é a mais extensa rua comercial da Europa, com seus pouco mais de mil metros de comprimento.    

Ao longo da rua Sainte Catherine estão as melhores lojas (situadas principalmente ao norte da Cours Victor Hugo) e diversas lojas mais populares (entre esta rua e a Place de La Victoire, mais ao sul). O ideal é percorrer esta rua de ponta a ponta, não deixando de ir também até sua extremidade norte, onde situam-se os belíssimos prédios do Grand Hotel, da Opera Nacional, e pouco adiante, o imponente 'Monument aux Girondins'.


Rue Sainte-Catherine

Outra boa área para compras situa-se no que é conhecido como 'Triangle d'Or' (triângulo de ouro), nome dado à região compreendida entre a Cours de l’Intendance, Cours Georges Clemenceau e Allées de Tourny. No entorno do triângulo formado por estas ruas estão dezenas de boas lojas de vários tamanhos e estilos, entre as quais diversas onde se pode encontrar bons vinhos da região.   Na região do Triangle d'Or situam-se vários restaurantes, cafés e lojas chiques, e que são considerados como a parte rica de Bordeaux, ao lado norte da cidade. Por outro lado, a metade sul da cidade, é considerada como a parte pobre de Bordeaux. Esta diferença pode ser sentida com facilidade percorrendo a Rue Sainte-Catherine de um extremo a outro (norte-sul).

Próximo à Place de la Bourse

Les Quais corresponde à região da cidade situada, como o nome sugere, ao cais, ou às áreas adjacentes ao rio. Ideal para caminhadas, inclusive como ponto de partida para um passeio até a outra margem do rio, cruzando a pé a Pont de Pierre (Ponte de Pedra). Quem preferir pode embarcar no ferry e curtir um rápido passeio fluvial entre as duas margens do La Garonne. Outra sugestão: É comum encontrar, na Place de la Bourse triciclos elétricos  (Vélo Taxis), oferecendo passeios turísticos de uma hora pelos pontos mais conhecidos da cidade. Perfeitos para quem quer ter uma boa noção do centro histórico, mas não está com vontade ou não pode caminhar muito. Acomodam duas pessoas, e apesar de sacudirem um pouco, são um passeio divertido e que não é caro. E ao longo do trajeto todo mudo olha pra gente e sorri.

 

Durante o período medieval Bordeaux era uma cidade murada, e o acesso ao seu interior era feito através de diversas portas. Com o crescimento da cidade a muralha desapareceu, assim como muitas destas portas. Algumas, no entanto, permaneceram, como testemunhos daquela época tumultuada. Se as primeiras portas tinham função basicamente militares, com o passar do tempo elas assumiram funções também decorativas, e passaram a ter como finalidade dar as boas vindas a quem chegava e embelezar a cidade. Algumas foram até mesmo construídas no estilo de Arcos do Triunfo, como as portas de Bourgogne, Dijeaux, la Monnaie e Aquitaine (mostrada mais abaixo).

A Porte Cailhau ou Porte du Palais, vista ao lado, é um dos marcos arquitetônicos mais famosos da cidade. Situada bem próximo à Place de la Bourse e voltada para o rio, durante muito tempo este magnífico portão foi a principal entrada da cidade. Construída em 1495, ela tem 35 metros de altura e estilo gótico renascentista.

Embora praticamente todo comércio na cidade seja de rua, Bordeaux tem também um bom shopping, situado quase no centro, o Centre Comercial Meriadeck.


Porte du Palais

O trecho histórico da cidade, conhecido como 'La Vieille Ville', e que atrai mais turistas, situa-se no que foi, antigamente, o trecho de Bordeaux situado entre os muros da cidade, e que hoje corresponde à área compreendida entre as regiões de Verdun, Clemenceau, Place Gambetta, Cours d'Albret, Cours Aristide-Briand, Place de la Victoire, e Cours de la Marne. Todas regiões relativamente próximas e que podem ser percorridas a pé sem grande dificuldade.


Pont de Pierre, cruzando o La Garonne

Bordeaux tem três pontes cruzando o La Garonne, que são a Pont de Pierre (frente ao centro histórico, construída em 1820), Pont St Jean (um pouco ao sul) e Pont d'Aquitaine (ao norte). Dentre as três, a mais famosa e bonita é a Pont de Pierre. E um de seus atrativos é justamente a vista que ela fornece do centro histórico. Quanto à margem oposta do rio, a verdade é que não há muito a ver do lado de lá, área dominada principalmente por indústrias. Uma sugestão é atravessar a ponte a pé e depois voltar a bordo do 'Le Bus du Fleuve', como é chamada a pequena embarcação que liga as duas margens do La Garonne. A linha  fluvial tem pontos de embarque no Quai Richelieu e na Place Aristide Briand.

La Garonne, o rio que banha Bordeaux, nasce nas montanhas dos Pirineus espanhóis e percorre mais de quinhentos quilômetros em território francês. Antes de chegar a Bordeaux, ele corta também as importantes cidades de Toulouse e Agen. Através do estuário da Gironde, navios oceânicos podem subir o Garonne até a Pont de Pierre. O rio também é parte integrante do 'Canal des Deux Mers', corredor aquático que liga os oceanos Atlântico e Mediterrâneo, permitindo assim que embarcações menores levem mercadorias e produtos agrícolas desde o sul da França até o Atlântico, e evitem o longo trajeto pelo Estreito de Gibraltar. Uma característica curiosa do Garonne é a influência que o mesmo sofre das marés oceânicas, as quais, em certas ocasiões, formam ondas que chegam a avançar mais de cem quilômetros rio adentro, permitindo a prática do surf no rio.

Dizem orgulhosamente os Bordelais que a l'Esplanade des Quinconces é o maior parque urbano da Europa. Mas mesmo que eles estejam exagerando, é preciso reconhecer que o parque é grande, e principalmente, bonito. Situado praticamente no centro da cidade e voltado para o rio, ele é também um dos símbolos de Bordeaux. Embelezado por diversas alamedas, árvores, monumentos e ao mesmo tempo grandes espaços vazios, e que por isso se tornaram o local preferido pelos moradores para grandes comemorações, eventos, festas, festivais, feiras ao ar livre, manifestações, festas do vinho (claro) ou simplesmente para caminhar e curtir a natureza.


L'esplanade des Quinconces

 


Fontaine des Girondins

Dizem que monumentos permitem identificar cidades, ou seja: Diz-me quem homenageias e eu te direi quem és. Se isto é verdade, o 'Monument aux Girondins' é o monumento que define Bordeaux. Situado em plena Place des Quinconces, área nobre da cidade, e bem próximo ao Grand Théâtre, o monumento é constituído por uma grande coluna, visível de quase toda a cidade, rodeada por fontes de água cristalina e belas esculturas de cavalos junto a figuras humanas. Girondinos eram os integrantes de um grupo político do período da revolução francesa. Ganharam este nome porque defendiam os interesses comerciais e políticos da Gironde, região da qual Bordeaux faz parte, e também uma conciliação com a monarquia deposta pela revolução. Com a instauração do chamado 'Regime de Terror', sistema adotado por Robespièrre, líder da revolução francesa, foram todos executados na guilhotina, em 1793. Os Girondinos são considerados, portanto, mártires de Bordeaux.

 

O Mercado Capucins é o principal da cidade. Coberto, próximo à Igreja de Saint Michel e à Place de la Victoire, ele é na verdade a terceira geração deste marcado. Até 1880 o que existia aqui era uma estrutura em madeira, conhecida como 'Halle Des Capucins', o mais antigo mercado da cidade. Em 1880 o antigo mercado foi demolido e em seu lugar foi construída uma estrutura metálica, aproveitando-se o material que havia sido utilizado na exposição universal de Paris. Este segundo mercado durou até 1959, quando foi posto abaixo e erguida a construção que permanece até hoje no mesmo local, com algumas modificações.


Marché des Capucins

No Marché des Capucins estão instalados mais de sessenta comerciantes, entre os quais diversos restaurantes, fruterias, lojas especializadas em queijos, vinhos, carnes, flores, peixes etc. Procure visitá-lo antes das 14 horas, pois após este horário muitas bancas fecham. O Marché des Capucins é o mais popular da cidade, intimamente ligado à sua história, e por isto conhecido como o 'O Ventre de Bordeaux'.

Se antigamente o Marché des Capucins era considerado o mercado popular de Bordeaux, o 'Le Marché des Grands Hommes' era seu mercado chique. Tradicionalmente dedicado à alimentação, o Marché des Grands Hommes'  original foi substituído em 1958 por uma estrutura em concreto, a qual perdurou até 1991, quando o prédio atual, formado por uma estrutura metálica em forma de círculo, com cúpulas envidraçadas, foi inaugurado. Não tem tantas variedades ou opções como o 'Marché des Capucins', mas é sem dúvida bem mais bonito. Situa-se ao norte de Bordeaux, a poucos minutos a pé da Esplanade des Quinconces.


Le Grand Théâtre / Place de la Comédie

O prédio do 'Grand Théâtre', mostrado na foto ao lado, está localizado num dos pontos mais nobres da cidade, bem próximo à 'Place de la Comédie' e na extremidade norte da rue Sainte Catherine. Sua marca registrada mais visível é a imponente fachada ornada com doze colunas coríntias, sobre as quais doze estátuas esculpidas por Pierre Berruer representam nove musas e as deusas gregas Vênus, Juno e Minerva. Sua construção teve início em 1770 e somente sete anos após o prédio seria inaugurado.

O trecho mostrado na foto acima, situado em frente ao Grand Théâtre e ao Grand Hotel é conhecido como ‘Place de la Comédie’ e seguindo em frente, chega-se, logo depois a um agradável passeio público (sob o qual existe um estacionamento) em formato retangular, quase sempre ocupado por tendas de expositores e bares com ombrelones sobre cadeiras e mesas metálicas (aproveite para sentar e pedir uma taça de vinho ou um café com pain au chocolat). Depois siga em frente até o largo conhecido como ‘Place Tourny’ (no centro da qual há uma estátua dedicada a Tourny (Louis Urbain Aubert de Tourny, administrador de Bordeaux durante o século 18, responsável por diversas melhorias na cidade, inclusive a construção de avenidas e jardins), e então dobre à direita na ‘Cours de Verdun’. Com mais dez minutos de caminhada chega-se ao ‘Jardin Public’, outra bela área verde da cidade que merece ser percorrida.

Na extremidade oposta da rue Sainte Catherine, lado sul de Bordeaux, encontra-se a 'Place de la Victoire', que como sugere o nome, celebra a vitória dos aliados ao fim da primeira guerra mundial. Ao mesmo tempo a coluna situada em seu centro celebra a vitória do vinho e a fama mundial por ele trazida à Bordeaux. Inaugurada em 2005, a coluna de 50 toneladas e 16 metros de altura foi construída em bronze e mármore vermelho da região de Languedoc. Em sua base, uma série de baixos relevos representam a história do vinho, desde sua origem até nossos dias, com enfoque principal na região de Bordeaux. Curiosamente, a coluna helicoidal foi projetada de forma a lembrar um saca-rolhas, como homenagem adicional ao acessório indispensável à degustação de um bom vinho.

A partir da Place de la Victoire, quatro importantes vias tem seu ponto de partida: Cours de l'Argonne, Cours de la Somme, Cours de la Libération e Cours Pasteur.

Uma das características desta parte da cidade é a grande quantidade de estudantes pelas ruas, graças à proximidade com a Universidade de Bordeaux. Este é um lugar animado, bastante freqüentado por moradores locais, predominantemente da classe média, onde se encontram vários restaurantes e bares simples e de bom preço. Esta região, compreendida entre a Place de la Victoire e as igrejas de de Saint-Michel e Sainte-Croix é também bastante freqüentada por imigrantes, que podem ser facilmente identificados por sua forma característica de vestir.


Coluna da Place de La Victoire



Place de la Bourse (Place Royale)

Procure conhecer, ao menos por fora, os belos prédios do Grand Théâtre (belíssimo exemplo de arquitetura neo-clássica de 1780, com pórtico decorado por colunas gregas) e o Palais Rohan (construído para servir de residência ao arcebispo da cidade, mas que há mais de duzentos anos tem servido como sede da prefeitura. Muitos o comparam ao palácio de Versailles). E não esqueça de passear também pela 'Esplanade des Quinconces', considerada uma das maiores praças da Europa, e fazer umas fotos junto ao 'Monument aux Girondins'

 

A Tour Saint Michel é um dos principais e mais conhecidos marcos arquitetônicos da cidade. Construída entre os anos 1472 e 1492, e com 114 metros de altura e 243 degraus até o alto, ela é a segunda mais alta da França, e graças ao seu formato característico, recebeu dos moradores da cidade o apelido de ‘La Fleche’. Quem tiver disposição pode subir a escadaria que conduz ao alto da torre, de onde se tem uma vista privilegiada de Bordeaux. Ao lado da torre, merece ser visitada também a Basílica de Saint Michel, construída entre os séculos 14 e 16, maior templo religioso da cidade. 

A região conhecida como Grand Parc-Paul Doumer, situada ao norte do centro, é considerada o lado elegante de Bordeaux, pois aqui estão belas áreas verdes, formadas pelos jardins do Grand-Parc e do Parc Rivière, com amplos espaços e construções elegantes. É uma boa área para se passear, mas também onde os preços costumam são mais altos. Imediatamente ao sul e sudoeste da região central situa-se os bairros de Victor Hugo-St Augustin, ocupado principalmente por escritórios comerciais, sedes de empresas e comércio geral, e por esta razão esta não é uma área que costume interessar a turistas.

Um roteiro básico pela cidade deve incluir as margens do rio, a Place de la Bourse, rue Saint-Catherine, a cidade história (vieille ville), os bairros elegantes ao norte, com seus parques e jardins, e os bairros populares do sul, com todas suas curiosidades e surpresas. Um dia será pouco para se ver toda cidade e o ideal é ficar dois dias por lá, deixando um terceiro dia para percorrer suas vinícolas, sem o qual nenhum passeio a esta região estaria completo.


Tour Saint Michel

 


La porte d'Aquitaine

A 'Porte d'Aquitaine', mostrada ao lado, foi construída no estilo de um Arco do Triunfo, e através dela tem-se acesso à rue Sainte Catherine. Seu nome anterior era Porte Saint Julien, mesmo nome da praça. No entanto, após a primeira guerra mundial, foi decidido mudar o nome da praça para 'Place de la Victoire' e a porta também mudou de nome, passando a chamar-se 'Porte d'Aquitaine', em homenagem ao príncipe conhecido como 'Monseigneur le Duc d'Aquitaine'. Construída em 1753, ela é ornada com detalhes esculturais representando as armas de Bordeaux e as Flores de Lys, símbolo da realeza francesa.

A região no entorno da Place de la Victoire, que engloba ainda St Michel, Nansouty e St Genès é, pode-se dizer, uma das mais facetadas etnicamemente, com pequenos mercados, restaurantes e lojas de alimentação especializadas em sabores exóticos, influência da grande comunidade de imigrantes, pequenas e informais lojinhas oferecendo curiosidades, artigos de segunda mão e muitos estudantes. É um lugar sem luxos, autêntico, bom para explorar a pé, com calma, descobrindo as curiosidades que se escondem em cada esquina


 

É impossível visitar Bordeaux e esquecer que estamos no coração de uma das melhores e mais importantes regiões vinícolas da França (e do mundo). O vinho por aqui está em todo lugar, seja nas vitrines de lojas, em mercados, restaurantes ou bares. E nem é preciso procurar, porque ele vem até nós. E barato. Um bom Bordeaux para acompanhar uma refeição pode ser encontrado, com facilidade, custando menos que uma garrafa de refrigerante. Mas quem desejar ir ao encontro dos grandes vinhos, na própria fonte, a pedida é conhecer algumas das vinícolas situadas nos arredores da cidade, e que não são poucas, afinal, esta é segunda maior região produtora de vinho do planeta, e daqui saem, cerca de oitocentos milhões de garrafas, anualmente.


O vinho de Bordeaux tornou a cidade famosa em todo mundo

A lista de boas vinícolas é praticamente infinita, e desta imensa relação alguns nomes são sempre lembrados, como Château Lafite, Château Mouton Rothschild, Château Margaux... A melhor forma de ir até lá é informando-se na portaria de seu hotel sobre algumas das diversas operadoras locais as quais fazem passeios de um dia, com direito à degustação, às vinícolas locais, situadas principalmente nas regiões de Bourg, Saint Emilion, Pomerol, Médoc, Margaux, Barsac, Sauternes... Ao todo a região de Bordeaux inclui cerca de vinte e cinco regiões vinícolas diferentes, o que deixa claro que, para conhecer todas, será necessário permanecer, no mínimo, uma semana nesta região.  Os passeios geralmente são feitos em mini ônibus, incluem uma vinícola de cada região, com degustação e compras. Os preços variam bastante, mas é possível encontrar excelentes vinhos a preços aceitáveis.

Mesmo no centro de Bordeaux é possível encontrar diversos locais onde se pode comprar um bom vinho da região, principalmente nos arredores da Place Gambetta (coração da cidade histórica) e da  Place Quinconces (próxima ao rio).


Principais regiões vinícolas de Bordeaux

Appellation d'origine contrôlée (AOC) é um tipo de selo de autenticidade de um determinado produto e tem como objetivo garantir sua qualidade, origem geográfica e determinadas características de produção. No caso dos vinhos, aqueles com certificação AOC são produzidos em terroirs específicos e tem que atender a diversas condições pré-estabelecidas, tais como cepa, teor alcoólico, condições de envelhecimento.

Na região de Bordeaux existem cerca de quatorze mil produtores de vinho e mais de vinte mil hectares de vinhedos, brancos e tintos. Os tintos geralmente são produzidos a partir das cepas (tipos de uvas) de Cabernet-Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Petit Verdot, Malbec, e em menor quantidade, Carménère. Já os brancos são produzidos principalmente a partir das cepas de Sauvignon blanc, Sémillon e Muscadelle. Os vinhedos de Bordeaux estão situados em cinco regiões, conhecidas como Entre-Deux-Mers, Libournais, Bourgeais-Blayais, Graves et Médoc.  Veja ao lado, um mapa esquemático mostrando as grandes regiões vinícolas do entorno de Bordeaux

Ao mesmo tempo, os 'Terroirs' (determinada extensão de terras dotadas de características particulares à produção vinícola) mais prestigiados são Saint-Émilion, Pauillac, Saint-Estèphe, Sauternes e Pomerol. Todas produzindo vinhos de consumação imediata, destinados ao dia a dia, e de qualidade superior, para grandes eventos, e que podem atingir preços bem elevados. Portanto quem estiver degustando duas garrafas de diferentes Bordeaux, estará desfrutando de dois  vinhos de qualidade superior, mas que mesmo assim, podem ter vindo de cepas diferentes, terroirs diferentes, possuir qualidades e características diferentes e ter preços muito diferentes, embora os dois sejam autênticos Bordeaux.

Como seria de esperar, a cidade tem uma festa especialmente dedicada ao vinho e às uvas, a Fête du Vin, que é comemorada durante quatro dias, na Place des Quinconces, somente nos anos pares e que acontece sempre nos últimos dias do mês de junho.  Vale ressaltar ainda que, embora a indústria vinícola seja a mais conhecida da cidade, desde os anos 60, Bordeaux viu surgirem e se instalarem aqui diversas indústrias, atuando principalmente nas áreas de aeronáutica, química, automóveis e eletrônica.

Mas de todos os locais que visitamos em Bordeaux, um ficou especialmente gravado em nossa memória, e ele é praticamente uma unanimidade. O local mais deslumbrante da cidade é o conjunto arquitetônico da Place de la Bourse, projetado pelo arquiteto Jacques Ange Gabriel e construído entre 1730 e 1775. Dois conjunto imponentes e simétricos, situado frente a um espelho de água, emolduram a estátua eqüestre do rei Luis XV. Impossível não lembrar da grandeza e eloqüência do Palácio de Versalhes e a beleza deste local à noite chega até a emocionar. Ao chegar, sente num banco junto ao espelho dágua e simplesmente fique em silêncio, absorvendo toda beleza em volta e procurando guardar tudo que for possível deste local em sua memória. E claro, com uma taça de Bordeaux nas mãos. E claro, torcendo para o tempo passar bem devagar....

Place de la Bourse à noite

Veja um conjunto de fotos em alta resolução de Bordeaux

 

Lema de Bordeaux: "Lilia sola regunt lunam undas castra leonem"

( A Flor de Lys reina soberana sobre a Lua, as Ondas, o Castelo e o Leão)