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Quando
o alemão Hermann Otto Blumenau veio para o sul do Brasil, decidido a
fundar uma cidade no interior de Santa Catarina, provavelmente não
tinha idéia que aquela futura localidade seria não somente uma cidade,
mas também uma atração turística capaz de rivalizar com muitos parques
temáticos que existem por aí. Sim, porque a verdade é que Blumenau é
vista atualmente quase como uma "AlemanhaLand", ou seja, um pedacinho
da Alemanha muitas de suas belezas tão conhecidas, como a arquitetura e
gastronomia, prosseguindo pela natureza e música típica e completando
com uma variedade única de deliciosas cervejas artesanais e festas o
ano inteiro. Nossa visita à cidade durou três dias, mas logo percebemos
que isto não seria suficiente para conhecer tudo que Blumenau tinha
para mostrar. |
No
mesmo dia que chegamos à cidade, depois de deixar as coisas no
confortável Viena Park Hotel fomos até o centro, para conhecer um dos
principais cartões postais da cidade, a rua XV de Novembro. Sua
principal atração são os prédios em estilo Enxaimel, técnica de
construção cujas características mais visíveis são a estrutura
executada com peças de madeira encaixadas entre si, e telhados de
grande inclinação, tendo os espaços livres preenchidos por pedras ou
tijolos artesanais. Geralmente as peças estruturais são escuras e as
paredes pintadas com cores claras, resultando numa construção de linhas
harmônicas, bela estética e agradável aos olhos. Durante a época
colonial a XV de Novembro era uma rua estreita e de traçado sinuoso, o
que lhe valeu o apelido, entre os colonos alemães, de Wurstrasse
(rua da lingüiça). Somente em 1890 ela teve seu traçado modificado,
perdendo algumas curvas e ganhando o nome atual. Ainda assim, sua
importância história permanece a mesma, o que é comprovado pelas quase
50 construções cadastradas como patrimônio histórico. A imagem acima é
de um trecho desta rua, assim como a ao lado, mostrando a fachada da
Havan, uma das mais tradicionais lojas de departamentos Catarinenses. |
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O
prédio da imagem acima, que sedia a Havan, tem uma história
interessante. Sua construção data de 1978, quando um morador de nome
Udo Schadrack decidiu erguer uma casa homenageando as origens
germânicas de Blumenau. Conta-se que ele viajou à Alemanha, quando teve
oportunidade de conhecer a mais antiga prefeitura daquele país, situada
na cidade de Michelstadt. De volta à Blumenau Udo Schadrack decidiu
construir algo inspirado pelo que tinha visto em Michelstadt, e que até
1999 abrigou a sede das lojas Moelmann. Em 2007, já completamente
revitalizado de acordo com o projeto original, o imóvel foi
reinaugurado como sede da Havan. Não deixe de ir até a choperia do
andar superior, para desfrutar de uma vista incrível do vale do
Itajaí-Açú.
Outro
ponto marcante do centro da cidade, e que sempre aparece nos postais de
Blumenau, é a catedral São Paulo Apóstolo, projetada por Gotfried Boehm
e construída com pedras de granito vermelho, a moderna catedral
estabelece um contraste com a típica arquitetura Enxaimel dos prédios
vizinhos, mas logo transformou-se no principal ícone arquitetônico de
Blumenau, principalmente devido ao campanário de 45 metros (primeira
imagem desta página), em cujo topo situam-se três sinos e um relógio de
480 quilos, trazido da Alemanha em 1930.
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Também
na rua XV de Novembro situa-se o famoso Teatro Carlos Gomes, mostrado
na imagem ao lado. Sua construção teve início em 1935, quando a
sociedade Teatral Frohsinn lançou sua pedra fundamental, de acordo com
projeto do alemão Erwin Bruner. No teatro situam-se um dos únicos
quatro palcos giratórios existentes no Brasil. Tem duas platéia, que
juntas comportam 1.100 pessoas e nele sãos regularmente apresentados
espetáculos de balé, teatro e eventos diversos.
Viste depois o Museu do Cristal (GlassPark), inaugurado em 1997, e que
oferece aos visitantes uma interessante aula interativa sobre os
processos de fabricação do cristal, começando pela produção e suas
matérias primas, passando pelo beneficiamento, pintura, lapidação até o
resultado final e acabamentos artísticos. Também podem ser apreciadas
as etapas de fabricação de uma peça de cristal, desde a bolha de vidro,
logo que sai do forno até a moldagem pelo sopro, o corte, lapidação e
polimento. O museu situa-se na rua Rudolf Roedel |
Ao
lado, fachada de alguns prédios comerciais situados no centro da
cidade. Mas além da beleza arquitetônica, o que chamou
nossa atenção foi a amabilidade e cordialidade das pessoas daqui.
E ainda os pequenos mas importantes detalhes, como as flores e gramados
ornamentando calçadas, jardins e fachadas de prédios, presentes em
diversos pontos da cidade. Considerando que em alemão Blumen significa
flores, pode-se até mesmo dizer que a cidade merece mesmo o nome que
tem. A pouca distância deste trecho, situa-se, na rua XV, o mausoléu do
fundador da cidade, Hermann Otto Blumenau. Seus despojos foram trazidos
da Alemanha por ocasião do sesquicentenário da imigração alemã para o
Brasil, e o local está aberto à visitação. |
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Dica para uma boa refeição: Vá
ao restaurante Frohsinn, situado na rua Gertrud Sierich. Em estilo
Enxaimel o prédio é especializado em culinária germânica e tem uma
ótima vista panorâmica da cidade. Visite depois o Museu Ecológico Fritz
Muller, que conta com um acervo dedicado à história natural.
Originalmente o prédio serviu como residência do alemão Fritz Müller,
colaborador de Charles Darwin. Situa-se na rua Itajaí 2195.
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Não
deixe de visitar o Museu da Cerveja, único museu do Brasil
dedicado à esta bebida. O gosto pela cerveja foi trazido também pelos
colonos alemães, e seu profundo conhecimento no assunto fez com que em
pouco tempo mais de 20 cervejarias artesanais surgissem na região.
Embora hoje elas sejam em menor número, o apego às tradições germânicas
e cuidado com o preparo do precioso líquido ainda é o mesmo. Conforme
determina a Reinheitsgebot, norma alemã que estabelece parâmetros de
pureza na fabricação de cerveja, são apenas quatro os ingredientes
utilizados na produção de cerveja: água, lúpulo, malte de cevada ou
trigo, e fermento, sendo proibida a utilização de qualquer conservante
ou cereal não maltado. Estes cuidados conferem à cerveja local uma
qualidade e principalmente um sabor difícil de ser igualado. No museu
da Cerveja é contado um pouco deste artesanal processo de fabricação
com mais de 400 anos de idade. |
O Museu da Cerveja situa-se na
Praça Hercílio Luz. Entre as cervejarias tradicionais de Blumenau,
todas abertas à visitação, destacam-se a Eisenbahn, Bierland, Heimat,
Das Bier, ZeHn Bier, Borck e Schornstein (esta última na
cidade de Pomerode).
Você sabia que uma das maiores
indústrias têxteis brasileiras, a Hering, é de Blumenau? Hering, em
alemão, significa "arenque", um tipo de peixe parecido com a sardinha.
Os dois peixinhos representam os irmãos Bruno e Hermann Hering, que
fundaram a empresa em 1880.
Mesmo
uma cidade de arquitetura típica como Blumenau tem suas marcas do
século 21, no caso o Shopping Neumarkt. A imensa torre com relógio
destaca-se na rua 7 de setembro, ao lado do shopping e surpreende aos
turistas que esperavam encontrar por aqui somente prédios típicos
e pequenos. Mas esta construção, bem como os grandes prédio
residenciais que já se espalham por diversos bairros não chegam
comprometer as características da cidade. Um aspecto em que Blumenau
ainda pode melhorar é no setor de hospedagem, pois sentimos que a
cidade merece mais e melhores hotéis. Já no setor têxtil Blumenau dá um
show. Na cidade estão diversas indústrias importantes, a começar pela
famosa Hering e a Sulfabril.
As duas empresas tem
outlets juntos às fábricas, onde os turistas podem escolher à vontade,
embora os preços não seja necessariamente mais baratos que no comércio
em geral. A melhor opção local para compras é no CIC Blumenau, que
conta com quase 100 lojas reunidas no mesmo local e preços bem mais em
conta. O CIC situa-se a poucos quilômetros do centro, na rua 2 de
Setembro 1395, bairro Itoupava Norte e dispõe também de
restaurantes para atender aos turistas. Mas se você estiver com fome
mesmo é preferível deixar para almoçar na Churrascaria do Ataliba, um
dos melhores restaurantes da cidade, situada na rua Porto Rico 51,
bairro Ponta Aguda. Fomos super bem atendidos no local, a comida é
ótima e os preços bem camaradas. |
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Depois do almoço no Ataliba
atravesse a rua e aproveite para visitar uma das regiões mais bonitas
da cidade, onde situa-se o restaurante e choperia Moinho do Vale, cuja
marca registrada é um típico moinho de vento, dominando o bairro de
Ponta Aguda sobre o rio Itajaí-Açu, e mais abaixo a réplica da
embarcação Blumenau, que trouxe os primeiros colonos para a cidade.
Visite também o Museu da
Família Colonial, que tem como função preservar a cultura daquelas
primeiras famílias que vieram para Blumenau. O primeiro dos três
módulos do museu serviu como residência do cônsul da Alemanha, Victor
Gaertner. O segundo módulo, construída em 1858, é a mais antiga
residência no Vale do Itajaí e serviu como residência do imigrante
Hermann Wendeburg, secretário do fundador de Blumenau. O terceiro
módulo data de 1920 e foi residência de Reinoldo Gaertner, sobrinho do
fundador da cidade e serve como local de exposições ocasionais. O
conjunto de três prédios traça um interessante retrato da cidade e de
sua época, com milhares de peças históricas, como mobiliários,
vestimentas e utensílios domésticos. O museu situa-se na Alameda Duque
de Caxias 64.
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Blumenau
é banhada pelo rio Itajaí-Açu e bem próximo ao local onde fizemos esta
imagem situa-se a Praça Hercílio Luz. Nesta praça, em setembro de
1900, quando era comemorado o cinqüentenário da fundação de Blumenau,
foi lançada a pedra fundamental do monumento comemorativo à chegada dos
fundadores da cidade. Junto à praça encontra-se uma tradicional
choperia, de onde se tem excelente vista da outra margem do rio. Neste
mesmo local encontra-se o porto, que foi durante muitos anos serviu
como local de embarque e desembarque de viajantes e mercadorias com
destino ao resto do país e exterior. |
Para quem quiser fazer um
passeio nas redondezas uma boa dica é visitar Vila Itoupava, situada a
menos de 30 km de Blumenau. Esta pequena localidade conserva com
fidelidade ainda maior diversos aspectos da colonização alemã, não
somente em sua arquitetura de estilo Enxaimel entremeada com jardins e
floreiras bem cuidadas, mas também no aspecto gastronômico, graças às
deliciosas cucas, doces, tortas e geléias, uma pedida certa para se
levar pra casa.
Quem aprecia caminhadas e curte
a natureza vai encontra uma atração adicional no Parque Ecológico
Spitzkopf, situado a 15 km do centro da cidade. Lá estão diversas
trilhas, sendo que uma delas conduz até o ponto de maior elevação do
parque, situado a quase mil metros de altitude. Não esqueça de levar um
bom casaco e calçados não derrapantes.
O
principal evento da cidade, e que mais atrai turistas é a Oktoberfest.
A tradição desta festa teve início na Alemanha, em 1810 quando Max
Joseph, rei da Bavária, decidiu dar uma grande festa para comemorar o
casamento de seu filho, o príncipe Ludwig I, formando uma tradição que
iria se repetir todos os anos. A festa tem início em setembro e termina
duas semanas mais tarde, no primeiro domingo de outubro, o que deu
origem ao nome do evento, já que em alemão Oktoberfest significa "Festa
de Outubro". Na Alemanha as principais cervejarias e bares da cidade
montam pavilhões num parque especialmente destinado a receber os
eventos e quando vieram para Blumenau, os colonizadores trouxeram junto
esta importante tradição e todos os anos Blumenau organiza a maior e
mais animada Oktoberfest do Brasil. Na imagem ao lado, uma imagem da
Vila Germânica, núcleo principal das comemorações em Blumenau. |
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Erguida de forma a
lembrar uma pequena cidade alemã, é inevitável considerar o parque
Vila Germânica quase como uma Disneyworld ao estilo alemão, pois
além dos restaurantes e bares lá estão também diversas lojinhas
oferecendo todo tipo de produtos locais e tradicionais, com destaque,
logicamente, para as tradições germânicas, entre os quais as famosas
canecas gigantes de chope, tulipas, chapéus, tirantes, bonecas e,
porcelanas. Video: Vila Germânica
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Estivemos
na Vila Germânica pouco antes de começar a Oktoberfest e sabíamos que a
calma que o lugar exibia na ocasião iria sumir em poucos dias, assim
que os festejos começassem. Enquanto caminhávamos pela simpática
ruazinha os preparativos para a festa estavam a mil, com novas
construções sendo erguidas num ritmo frenético e muita gente dando os
retoques finais na decoração. Durante a Oktoberfest este parque recebe
a todos com muita música, dança e diversão, enquanto os
restaurantes capricham nos pratos típicos, como costeleta de porco
(kassler), joelho de porco (eisbein), wurst (lingüiças e salsichões) e
o famoso marreco recheado com purê de maçã, logicamente, tudo regado a
muito chope artesanal. Ao mesmo tempo, no centro da cidade acontecem
desfiles com grupos vestindo roupas típicas e distribuição grátis de
chope pelo Bierwagen (carro da cerveja) e pelo Choppmotorrad (moto do
chope) enquanto bandinhas percorrem as ruas executando canções
tradicionais germânicas. |
Durante
a Oktoberfest é comum mais de 600 mil pessoas visitarem Blumenau,
consumindo mais de 300 mil litros de chope e uma quantidade não
especificada de kassler, eisbein, wurst e muita kartoffeln salat.
Grupos folclóricos regionais fazem apresentações pelas ruas e concursos
de chope a metro animam ainda mais a festa. Com tanta animação não
é de estranhar que a cidade receba muitos turistas, portanto se você
pretende participar da festa e não quer dormir em seu carro,
certifique-se se fazer reserva de hotel com bastante antecedência. Na
imagem ao lado, alguns restaurantes da Vila Germânica. |
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Por
diversas vezes desde sua fundação a natureza tem sido inclemente com
Blumenau, trazendo grandes enchentes à cidade, como se quisesse
testar a determinação de sua gente. Mas com muita vontade, esforço e
contando sempre com a solidariedade de todos os brasileiros Blumenau
continua vencendo estas provas, tornando-se cada vez mais forte e
ainda mais bonita.
Assim, se você tem vontade de
curtir um jeitinho de Alemanha, lembre que não é preciso atravessar o
oceano. Existe uma cidade ao estilo germânico bem pertinho, mais
barata, adaptada ao sabor verde-amarelo e ainda por cima onde todo
mundo fala português direitinho. Prosit Blumenau! |
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