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Ninguém que more no Brasil pode deixar de visitar Ouro Preto, ao menos uma vez na vida. Na verdade, ninguém, more onde morar, pode deixar de visitar Ouro Preto uma vez na vida. Nascida Vila Rica, a mais famosa e bem conservada cidade histórica brasileira surgiu com a colonização do interior, cresceu e tornou-se importante graças ao ouro que brotava em quantidade de suas minas, e findo o ciclo de explorações, transformou-se, devido aos seus inúmeros tesouros artísticos, históricos e religiosos, num autêntico museu ao ar livre, retrato do Brasil colônia e de sua sociedade. Este conjunto de Igrejas, museus, casarões, ruelas, becos e ladeiras formam um painel impossível de igualar, criando como um tipo de portal de acesso ao século 18. Na imagem ao lado, uma das vistas mais famosas de Ouro Preto, mostrando a Igreja de N. Sra do Carmo e o Museu da Inconfidência.

Chegamos a Ouro Preto num domingo, vindos de Belo Horizonte, num dia frio de céu cinzento. Depois de deixarmos nossas coisas na confortável Pousada do Arcanjo, fomos direto para o centro. Quem chega à cidade por este lado passará ao lado da Igreja de São Francisco de Paula. Em 1804 foram iniciadas as obras para sua construção, e ela seria a última a ser construída na cidade. Mesmo pobre em detalhes, ela já fornece uma boa vista da cidade e do que vem pela frente. Ao mesmo tempo, turistas que estejam viajando por conta própria e desejarem um guia para lhes acompanhar durante a visita à Ouro Preto encontrarão frente ao prédio vizinho da rodoviária guias turísticos credenciados, geralmente se oferecendo para acompanhar os visitantes. Peça para ver suas credenciais de guia autorizado, acerte o preço e a duração do programa, e depois é só deixar que ele lhe acompanhe pelo resto do dia, pois esta é a melhor forma de curtir o passeio e aprender tudo sobre cada local histórico.

O coração de Ouro Preto é a Praça Tiradentes, em cujo centro ergue-se um monumento à Joaquim José da Silva Xavier. Rodeado por prédios que abrigam lojas e um estacionamento que nunca deveria estar ali, destaca-se o imponente prédio do Museu da Inconfidência, na imagem ao lado. Sua obra foi iniciada em 1785, e tinha como objetivo principal abrigar a Casa de Câmara e a cadeia municipal. Os trabalhos foram executados por sentenciados, escravos e um grande contingente de pedreiros e carpinteiros. O museu reúne um valioso acervo relacionado à luta dos Inconfidentes pela independência, com obras de Aleijadinho, Xavier de Brito e Mestre Ataíde. Destacam-se o Panteão dos Inconfidentes, onde estão gravados os nomes de todos Inconfidentes e um trecho da forca de madeira onde Tiradentes foi executado. Completando o cenário da Praça Tiradentes está o Museu de Ciência e Técnica, diversas construções coloniais, a Câmara Municipal e um centro de informações turísticas.

Vídeo: Praça Tiradentes

Prepare suas pernas, pois como em quase todas cidades históricas de Minas, Ouro Preto também foi construída sobre colinas que sobem e descem e sobem de novo, portanto é necessário um certo vigor físico para percorrer as ruas da cidade. A diferença de nível entre os trechos mais altos e baixos da cidade ultrapassa os cem metros e há até quem prefira percorrer a cidade de carro, estacionar junto à cada local histórico, fazer a visita, entrar no carro e seguir até o próximo (desde que, é claro, você consiga vagas). Embora as distâncias na cidade sejam pequenas os declives são muito acentuados. Um dos pontos imperdíveis é a Igreja de São Francisco de Assis, cuja construção foi iniciada em 1766 e é considerada a obra prima de Aleijadinho, responsável por diversos de seus elementos. Depois aproveite para visitar a agradável feira de artesanato montada no largo bem em frente à igreja, onde estão em exposição centenas peças de pedra sabão, trabalhos com pedras preciosas e muito mais.

 

Partindo da Praça Tiradentes, não deixe de percorrer a Rua das Flores e a rua Direita, ambas bastante íngremes. Ao término da descida chega-se à praça Reinaldo de Brito, onde está situado a Casa dos Contos. Este casarão serviu para abrigar a Intendência do Ouro das Minas Gerais, recebendo por isso a denominação de Casa dos Contos, e destaca-se como um dos mais belos exemplares da arquitetura colonial. Serviu também como prisão para os Inconfidentes e como prefeitura e é uma das poucas casas da cidade onde ainda existe uma senzala. Seguindo em frente, chega-se à rua São Jose (imagem ao lado), uma das poucas ruas niveladas da cidade, onde estão restaurantes, cafés, lojas, bancos, o tradicional Hotel Toffolo, todos em prédios históricos.

Depois visite o Museu Escola de Minas, instalado onde funcionava o Palácio dos Governadores, construído a partir de 1741. Nele residiram os governadores de Minas (Ouro Preto foi a capital estadual até 1897, quando a capital foi transferida para Belo Horizonte). Fazem parte do complexo os museus de Mineralogia, Ciência e Técnica, Historia Natural e o Observatório, construído em 1911

Em 1705 surgiu em Ouro Preto a importante freguesia de Nossa Senhora da Conceição, mas apenas em 1727 é que seus habitantes iriam construir um templo maior, onde várias irmandades religiosas surgiriam, como as de N. Sra do Rosário, N. Sra das Dores, S. José dos Bem Casados e outras. A partir de 1727 ela seria modificada, de acordo com projeto de Manuel Francisco Lisboa, pai de Aleijadinho e as obras duraram até 1746. Na imagem ao lado vê-se Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Em sua sacristia funciona o Museu Aleijadinho, homenageando o gênio do barroco mineiro. Lá também está seu túmulo. Apesar destas fotos mostrarem pouca gente pelas ruas (talvez devido ao clima frio que fazia naqueles dias) não se iluda: Ouro Preto fica cheia de gente em temporadas turísticas e seu carnaval é um dos mais famosos e concorridos de Minas.

 

Após a independência do Brasil Vila Rica passou a chamar-se Ouro Preto e praticamente tudo por aqui remete os visitantes àquele período colonial. Até mesmo em nosso hotel os funcionários se vestiam à moda da época, como no tempo de Tiradentes, o que já fez a gente entrar no clima da cidade. Inclua em seu roteiro uma visita à simpática estação de trens, situada num dos níveis mais baixos da cidade, frente à pracinha Cesário Alvin e seu coreto. E quando chegar a hora do almoço sugerimos fazer sua refeição na rua São José, que concentra diversos restaurantes (alguns no sistema de quilo), como por exemplo o Café e Cia, Chafariz ou o Toffolo.

 

Outro endereço famoso na cidade é a Casa Guignard (rua direita), onde morou Alberto da Veiga Guignard, um dos grandes pintores brasileiros do século passado. Em sua antiga residência estão diversos objetos pessoais e uma galeria de arte. Depois prossiga até a Casa de Tomás Antônio Gonzaga, que ocupou o cargo de ouvidor de Vila Rica a partir de 1782, passando a residir neste endereço. Mais tarde ele seria preso, acusado de participação na Inconfidência Mineira e condenado ao degredo na África. Mas na verdade, não somente as casas famosas são dignas de nota. Ao percorrer as ruas e ladeiras de Ouro Preto cada construção, cada rua, beco e ladeira, cada janela, balcão ou sacada parece compor uma gravura do período colonial, e nos fazem divagar, voltar no tempo e ficar imaginando quem andaria por estas ruas, quais seriam seus pensamentos, preocupações e sonhos.

Mas fazendo jus ao seu passado de Vila Rica, quando era um dos principais pólos de extração de ouro do país, vale a pena também conhecer o lado subterrâneo da cidade, onde os escravos trabalhavam muitas vezes em condições sub-humanas, à procura de ouro. Entre as minas abertas à visitação estão a mina Chico Rei, a mina Fonte Meu Bem Querer e a Mina Velha. Quase todas possuem quilômetros de túneis penetrando terra a dentro, sendo que a maior parte está interditada. Mesmo assim, os pequenos trechos abertos à visitação dão uma visão fantástica de como deveria ser a vida dos que lá trabalhavam. 

Vídeo: Mina Jejê (assim ela era chamda pelos escravos)

Ao lado a fachada da Igreja N. Sra. do Carmo, e sua imponente escadaria. Seguindo projeto de Manoel Francisco Lisboa, ela foi erguida entre 1766 e 1772, e costumava ser freqüentada pela aristocracia de Ouro Preto. Outros artistas da época, também contribuíram para seu embelezamento, como Aleijadinho e Manoel da Costa Ataíde. Situa-se na rua Brigadeiro Musqueira, quase atrás do Museu da Inconfidência. Ao lado da mesma vale visitar também o Museu do Oratório, que possui uma coleção única no mundo de oratórios (quase cento e setenta), de diversos tipos, tamanhos e materiais - e trezentas imagens sacras dos séculos 17 ao 20.

Além das igrejas, outra marca registrada do período barroco eram os chafarizes, que tinham como função não somente abastecer a cidade de água, mas também embelezá-la. Em Ouro Preto eram diversos, com destaque para o Chafariz dos Contos (1760), considerado como verdadeira obra prima arquitetônica e que por estar situado próximo à Casa dos Contos, ganhou este nome. Já o chafariz Marília de Dirceu (1758) situava-se junto à casa de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília de Dirceu imortalizada nas Liras de Tomás Antônio Gonzaga. Outros importantes chafarizes da cidade são o da Glória (1752), do Museu da Inconfidência (Pça Tiradentes) e do Alto das Cabeças (junto à igreja Bom Jesus de Matozinhos 1763). O bairro Cabeças ganhou este nome pois lá eram expostas as cabeças dos enforcados.

A uma curta distância da Igreja N. Sra do Carmo situa-se a Casa de Ópera (Teatro Municipal), mais antigo teatro das Américas e o primeiro do Brasil, inaugurado em 1770, e onde a rica sociedade de Vila Rica se reunia para ver e ser vista. Mesmo quando não há espetáculos é possível visitar o belo salão principal, e geralmente causa espanto aos turistas ver que por trás de uma fachada tão modesta há um teatro tão grande e bonito.

 

Quem procura por lembranças ou artigos típicos em Ouro Preto pode ficar tranqüilo, pois opções é que não faltam e a será o que escolher. O artesanato da cidade destaca-se como um dos mais variados e ricos do Brasil, e inclui trabalhos em pedra-sabão, taquara, madeira, metais e muitas pedras preciosas, vendidas não somente em casas especializadas, mas também em feiras de artesanato e até mesmo pelas ruas. A grande variedade de gemas e pedras preciosas permitiu o surgimento de jóias finas, bem trabalhadas e de grande qualidade. A Mina do Vermelhão e a de Capão transformaram Ouro Preto na capital do topázio imperial. E muitas famílias dedicam-se, há várias gerações, à manufatura de objetos artísticos e utilitários de pedra-sabão, exportados para diversos países. Na imagem à esquerda, outra das muitas fontes da cidade.

 

Ao lado, fachada da igreja N. Sra do Rosário, que destaca-se entre as outras por sua forma circular. Construída a partir de 1785, seu interior, em contraste com a aparência externa, é bastante simples. Tradicionalmente conhecida como Rosário dos Pretos, é uma das irmandades mais antigas de Vila Rica, surgida em 1715. A escultura de Santa Helena, em seu interior, é creditada à Aleijadinho e as esculturas de Santo Antônio e São Benedito à seu irmão, padre Félix. 

Para fugir um pouco ao lado histórico-religioso da cidade, tão presente em cada esquina, experimente um dos passeios mais concorridos de Ouro Preto, a simpática viagem de Maria Fumaça até a vizinha Mariana. O trenzinho liga as duas cidades históricas mais importantes de Minas e funciona às sextas feiras, fins de semanas e feriados. O percurso de dezoito quilômetros é percorrido em cerca de uma hora e costuma ficar lotado durante o período de férias.

Outros programas fora do estilo barroco são a Gruta da Lapa, a Cachoeira das Andorinhas e o Parque do Itacolomi, ideais para quem quer apreciar a rica natureza da região.

 

Visitar Ouro Preto é ao mesmo tempo empolgante e frustrante, porque a impressão que se tem é que os dias programados, mesmo que sejam muitos, nunca são suficientes para ver o que merece ser visto. Não que a cidade seja grande, na verdade é até de tamanho reduzido, mas a questão é que são tantos tesouros artísticos e históricos, tantas igrejas, museus, casarões, e ainda tem o comércio super variado, as feirinhas, os restaurantes de comida típica, as minas antigas, os mirantes e principalmente sua gente, que sem pressa alguma, bem ao estilo mineiro, tem prazer em conversar com os visitantes, mostrar sua cidade, contas histórias, causos, tradições, dar dicas e fazer a gente se sentir em casa.

 

Entre os eventos turísticos mais concorridos de Ouro Preto estão a Semana Santa, uma tradição da cidade que vem desde o século 18. Durante as comemorações a famosa procissão do Enterro de Cristo atravessa a madrugada, percorrendo diversas ruas ornamentadas com um tapete colorido, confeccionado com flores e serragem. O trajeto da procissão cobre um percurso de aproximadamente dois quilômetros, entre as matrizes de Antônio Dias e do Pilar. Outros eventos concorridos em Ouro Preto são a Semana da Inconfidência (21 de abril) e o Corpus Christi, quando as ruas são novamente embelezadas com flores e serragem para a procissão. Igualmente importante para a cidade é a Semana do Aleijadinho, evento cultural onde é comemorado o aniversário do nascimento de Antônio Francisco Lisboa (29 de agosto).

Durante as comemorações acontecem apresentações de corais e peças teatrais. Como é sabido, Aleijadinho era o apelido de Antônio Francisco Lisboa, escultor, entalhador, desenhista e arquiteto, considerado o maior nome nas artes do estilo barroco do Brasil, nascido em Ouro Preto, então Vila Rica. Em 1777, quando trabalhava nas obras de arte da Igreja de São Francisco de Assis, contraiu lepra e sífilis, que lhe deformaram os membros, comprometeram os movimentos das mãos e causaram a parda dos dedos.

Para continuar trabalhando, Aleijadinho amarrava as ferramentas aos membros. Mesmo seriamente deformado e sentindo fortes dores ele continuou a trabalhar, produzindo obras primas como as esculturas dos personagens das cenas da Paixão de Cristo e o doze profetas em pedra-sabão, expostos em Congonhas do Campo. Cego, Aleijadinho faleceu em 1814, sendo sepultado na Igreja Matriz N. Sra da Conceição, junto às suas obras.

A Matriz de N. Sra do Pilar, ao lado, é considerada como uma das obras primas do barroco, graças ao projeto de Pedro Gomes Chaves, e teve a talha de sua capela mor executada por Francisco Xavier de Brito. Construída a partir de 1731, a obra foi iniciativa associada das irmandades do Santíssimo Sacramento e a de Nossa Senhora do Pilar, ambas fundadas em 1729. Tratavam-se de irmandades de homens brancos (na época as irmandades adotavam segregação racial e social) e com muito dinheiro em caixa e decidiram trabalhar juntas para construir uma igreja. O acervo do templo inclui uma belíssima talha coberta de ouro com centenas de anjos esculpidos, e para sua ornamentação foram utilizados mais de quatrocentos quilos de ouro e outros tantos de prata. Veja também, na sacristia, o Museu de Arte Sacra do Pilar.

 

Ouro Preto tem lugares de onde se pode ter uma vista praticamente completa da cidade, lugares onde são feitas as imagens que enfeitam os catálogos turísticos. E se você aprecia visuais incríveis não deixe de ir até os adros das igrejas São Francisco de Paula ou São Francisco de Assis, de onde foi feita a imagem ao lado. De resto, o que sugerimos a mais é simplesmente aproveitar ao máximo cada momento de sua visita a esta cidade única. Aliás, Ouro Preto é um daqueles lugares que não deveria simplesmente ser chamado de 'cidade', pois ela é muito mais do que isso. Não sabemos se a palavra certa para descrevê-la seria 'monumento' ou 'história viva', ou 'museu a céu aberto' ou ainda 'pura emoção'. O fato é que, por mais que se tente, nenhuma palavra parece ser suficientemente adequada para descrever com precisão o que é Ouro Preto, assim como nenhum texto consegue transmitir o encantamento que ela deixa na memória de quem já teve a sorte de conhecê-la.

 

 


A imagem acima é de uma amostra com menos de 1 cm de altura do mineral popularmente
conhecido como 'Ouro Preto', e que deu nome à cidade.