|
Ela
é fria, alta, não é muito chegada a baladalações exageradas e
nem costuma freqüentar a primeira página dos jornais. Tem muita
educação e ótima qualidade de vida. Tem antecedentes italianos,
alemães, poloneses e ucranianos. É discreta, bonita e está sempre bem
arrumada. Quando era criança ninguém reparava muito nela, mas aos
poucos foi crescendo, se aprumando, se enfeitando e hoje em dia quase
sempre causa admiração em todos que são apresentados à ela. Sim,
Curitiba é uma cidade que, correndo por fora, ultrapassou muita gente
boa, firmou-se como capital com um alto padrão de vida e que, apesar de
ter visto sua população duplicar nos últimos 25 anos, vem conseguindo
evitar as freqüentes mazelas de outras grandes capitais. É uma cidade
que merece ser visitada com calma e dedicação. |
Logo
que chegamos em Curitiba descobrimos que ainda não tínhamos chegado em
Curitiba. Como o aeroporto fica no município vizinho de São José dos
Pinhais, precisamos percorrer mais de 20 quilômetros até chegarmos
ao centro. Em compensação, o trajeto já serviu como apresentação da
cidade e ao mesmo tempo como primeiro city tour. Descobrimos, por
exemplo, que a avenida Comendador Franco, a qual conduz ao centro, tem
dezenas de restaurantes e lojas tentadoras que merecem ser conferidas,
mas como era noite, isto ficou para outro dia. Depois de deixar nossas
coisas no hotel, o ótimo Deville Rayon,
seguimos pela rua Comendador Araújo procurando um lugar para jantar.
Neste particular, o bairro onde estávamos - Batel - é o lugar certo
para ir, porque concentra diversas opções de restaurantes, pizzarias,
churrascarias etc. Nessa primeira noite escolhemos por acaso o
espaçoso Grimpa Steak House, e justiça seja feita, foi um jantar de boas vindas para ninguém botar defeito.
No
dia seguinte fomos na direção oposta, atravessando a Praça General
Osório, rumo ao centro da cidade. Bem agasalhados, com luvas e
cachecóis (era final de inverno e mesmo assim fazia oito graus às 10
horas da manhã), chegamos à Praça General Osório, que aparece na imagem
ao lado. A praça foi construída em 1874, quatro anos depois ganhou o
nome de Largo Oceano Pacífico e em 1879 recebeu o nome atual. Ela tem
alamedas bem tratadas, árvores frondosas, uma fonte de águas
cristalinas e um relógio histórico, que ainda hoje tem a honra de
continuar marcando a hora oficial de Curitiba. |
|
|
Mais
dez minutos de caminhada e chegamos à famosa Rua das Flores (ao lado),
um dos recantos mais centrais e históricos de Curitiba. Sim, existem
flores na Rua das Flores, mas esta via de pedestres destaca-se mesmo
pelo movimento das pessoas, comércio variado, restaurantes diversos e
também pelo simpático bondinho
de cores vivas, remanescente de épocas passadas, agora permanentemente
estacionado no calçadão, e que por isso ganhou o apelido de
"estacionamento de crianças". Além disso, quem tiver olhos mais atentos
poderá apreciar também ao longo da rua diversos prédios históricos,
muitos deles recuperados e com nova pintura, valorizando ainda mais o
patrimônio histórico do centro. Observe ainda os postes metálicos em
estilo art-noveau e sua belas luminárias, que felizmente foram
preservadas.
A rua das flores recebeu seus
primeiros lampiões a gás em 1880, e desde então sua principal função
tem sido servir de ponto de encontro para os moradores de Curitiba, ao
longo de diversas gerações. Flores, bancos, um grande relógio no alto
de um mastro e diversos endereços famosos, como o popular Boca Maldita,
ponto de encontro de personagens importantes da cidade, em épocas
diversas. Outros locais também lembrados são a rua Luiz Xavier, que aos
sábados sedia uma boa feira de artes plásticas, o tradicional Cine
Groff, e a deliciosa Confeitaria Schaffer. |
Grande
parte dos bairros de Curitiba tem origem nos núcleos estabelecidos
pelos primeiros imigrantes europeus. Dentre esta relação destacam-se o
Batel, sobre o qual nos referimos acima. Um ícone deste bairro é o
Castelo do Batel, construção de 1920 inspirada nos castelos do Loire,
mais tarde tombada e atualmente um renomado centro de eventos. Já o
bairro das Mercês é dominado pela Torre de Telecomunicações, que, além
destes serviços fornece os melhores visuais da cidade. Champagnat é uma
região agradável, com boas residências, assim como também são os
bairros de Jardim Social e Água Verde. Mas para quem está visitando a
cidade a passeio a pedida certa é Santa Felicidade, o bairro dos
Italianos, com diversas tradições e opções culinárias.
O
transporte entre as diversas regiões da cidade é fácil e inteligente.
Na verdade Curitiba notabilizou-se como primeira cidade brasileira a
criar um sistema integrado de transportes. O projeto foi tão bem
sucedido que hoje é responsável pelo transporte da maior parte da
população, além de ter servido de modelo para diversas outras cidades,
até mesmo no exterior. Os ônibus de Curitiba são longos, articulados,
transitam em vias exclusivas, e a passagem é comprada antes de embarcar
em estações modulares, conhecidas como Tubo. Ao lado, imagem de alguns
prédios da avenida Visconde de Nácar, situada entre o centro e o Batel. |
|
Vídeo: De taxi pelo centro
|
Curitiba tem diversos shoppings, sendo o maior e mais novo o Park Shopping Barigüi, situado a oeste do centro. Mas o mais simpático e que foge às linhas arquitetônicas usuais deste tipo de construção é o Shopping Estação
, erguido no mesmo local onde antigamente situava-se a estação de trens
de Curitiba. Um setor do complexo foi preservado, e agora uma das
locomotivas está sempre estacionada na plataforma de embarque. O
complexo forma o Museu Ferroviário de Curitiba, e tem exposições
que nos fazem retroceder no tempo até a época em que viajar de trem era
um evento especial. |
Outra
construção histórica de Curitiba, especialmente em destaque na época de
Natal, é o prédio do Palácio Avenida. Esta construção de 1927 já
abrigou o primeiro cinema do Paraná, o tradicional Bar Guairacá, a
salsicharia Krause Schlacht e o Cine Avenida. Submetido recentemente a
ampla reforma, o Palácio Avenida hoje é famoso também como cenário de
uma das mais belas apresentações de Natal do país, e frente à sua
fachada iluminada todos os anos são apresentados corais infantis e
músicas típicas.
Uma
caminhada pelo centro histórico com certeza vai lhe conduzir à Praça
Tiradentes, marco inicial de Curitiba. Esta praça é a mais antiga da
cidade, e inicialmente foi conhecida como Largo da Matriz, por abrigar
a pequena capela em torno da qual surgiu a pequena Vila Nossa Senhora
da Luz e Bom Jesus dos Pinhais. Hoje, no mesmo local, ergue-se a
Catedral Metropolitana de Curitiba, mostrada na imagem ao lado. Em
1880 a praça passou a chamar-se Largo D. Pedro II e em 1889, após a
proclamação da república assumiu o nome que mantém até hoje. É um lugar
bastante movimentado, cercado por terminais de ônibus e pontos de táxi,
floristas de rua, comércio variado, e muitos restaurantes.
Na
praça também situa-se o marco zero de Curitiba e um monolito com a
inscrição "Este marco assinala o chão sagrado onde os homens povoadores
dos campos de Curitiba elegeram as primeiras autoridades públicas e
fundaram a vila, sob a égide do seu patriarca, o capitão povoador
Matheus Martins Leme, em 1693". |
|
A praça Tiradentes é um bom
ponto de partida para uma caminhada pelo centro, conhecendo os núcleos
histórico e comercial da cidade. Ao alcance de uma curta caminhada
estão as movimentadas Av Mal. Floriano Peixoto e Barão do Rio Branco,
as praças Garibaldi e João Cândido, o calçadão da Rua XV de Novembro, o
Passeio Público, diversos shoppings menores e um comércio bastante
variado. Não deixe de dar uma paradinha na deliciosa Confeitaria Lancaster, situada na praça Zacarias, centro.
Vídeo: Praça Tiradentes
|
O prédio da Ópera de Arame
é um dos principais cartões postais da cidade desde 1992, quando foi
inaugurado. A ópera circular foi construída com policarbonato, material
de extrema resistência, apoiada em estrutura tubular, num projeto
revolucionário de Domingos Bongestabs. O local tem capacidade para
receber mil espectadores, e apresenta espetáculos diversos. Visto de
longe lembra uma imensa estrutura de arame, o que acabou lhe conferindo
o criativo nome. Mas o teatro é somente a atrações mais famosa do
Parque das Pedreiras, já que o próprio parque também merece ser
percorrido com tempo, para apreciar seus lagos, cascatas e matas de
araucárias, a vegetação típica da região. Ainda falando de verde, não
deixe de visitar também o Jardim Botânico,
que tem uma bela estufa inspirada nos típicos palácios de cristal, tão
comuns na Inglaterra Vitoriana. Na propriedade estão ainda jardins e
trilhas diversas, onde podem ser apreciadas os típicos Pinheiro do
Paraná (Araucária angustifolia), única espécie do gênero nativa do Brasil, além de diversas árvores frutíferas típicas da região. |
O Memorial Ucraniano,
situado no Parque Tingüi, é outro local que atrai muitos turistas. Lá
estão as réplicas de uma igreja ortodoxa e de uma típica casa
ucraniana, erguidas em 1995 com madeiras encaixadas, como é comum na
Ucrânia. Foram construídas por ocasião da comemoração dos cem anos da
vinda dos imigrantes daquele país, e em datas especiais festas típicas
e apresentações folclóricas são organizadas no local. As principais
festas acontecem no Sábado de Aleluia (quando é feita a Benção dos
Alimentos), em 24 de agosto (festa nacional da Ucrânia), a Festa da
Colheita (outubro) e Festa de São Nicolau (novembro). Já o Parque
Tingüi, onde situa-se o memorial, abriga em seus 500 mil m2 um centro
de convenções, pistas esportivas, lagos, parque de diversões e
principalmente muito verde. |
|
|
A
praça Garibaldi é outro dos pontos históricos de Curitiba que não pode
ficar de fora de seu roteiro. No local estão diversas construções
históricas, como o Palácio Garibaldi, a sede da Fundação Cultural de Curitiba,
a Igreja do Rosário, a Igreja Presbiteriana Independente e o Solar do
Rosário. No centro da praça, em posição de destaque, sobressai a Fonte
da Memória, obra de Ricardo Tod. Esta fonte, encimada por uma escultura
representando a cabeça de um cavalo homenageia os primeiros imigrantes
e tropeiros que passavam por Curitiba, e que paravam neste ponto - o
Largo da Ordem - para descansar e dar de beber aos seus animais. Na
imagem ao lado vê-se a igreja de Nossa Senhora do Rosário de São
Benedito, construção de 1946 em estilo barroco, erguida no mesmo local
onde anteriormente situava-se a primeira igreja do Rosário. Vídeo: Frente à Igreja do Rosário
Nos
arredores da praça Garibaldi estão ainda diversos casarões históricos,
alguns deles comercializando produtos típicos e artesanato local. Logo
adiante, descendo a rua Claudino do Santos, encontra-se o Bar do Alemão,
que mais parece um pedaço da Bavária encravado em Curitiba, pedida
certa para um bom chope com einsbein ou outras delícias
germânicas. A praça Garibaldi também abriga um ícone da cidade, o
famoso Relógio das Flores, com seis metros de diâmetro e decoração
renovada periodicamente, de acordo com as flores de cada estação.
Vídeo: Praça Garibaldi |
Outras construções do setor histórico de Curitiba que merecem destaque são a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco (1737), a Casa Vermelha (construída em 1891 pelo alemão Wilhelm Peters), que abrigou lojas e sedes de diversas empresas, e a Casa Romário Martins
(construída no século 18 em estilo colonial português), considerada
como a casa mais antiga de Curitiba, tendo servido como residência e
armazém até 1973, quando foi restaurada e recebeu o nome do historiador
Alfredo Romário Martins. Também neste largo é organizado aos domingos
uma Feira de Arte e Artesanato.
Nenhum passeio nos arredores de Curitiba é mais famoso que o roteiro ferroviário até Paranaguá.
Reserve ao menos um dia inteiro para esta jornada e esteja preparado
para desfrutar de visuais incríveis, à medida que o trem desce a serra
e despenhadeiros cinematográficos se sucedem à sua frente. O trajeto
cruza 14 túneis, 30 pontes e inúmeros viadutos de grande vão, inclusive
o Viaduto Carvalho, construído sobre cinco grandes pilares vencendo um
grande vão livre, e que ao ser transposto dá aos viajantes a sensação
de estar solto no ar. As passagens para o passeio ferroviário
devem ser compradas na estação ferroviária de Curitiba, situada na Av.
Presidente Affonso Camargo 330. |
|
Mas não pense que este passeio
ferroviário é uma novidade, pois sua origem data de 1880, quando o
imperador D. Pedro II autorizou a construção de uma ferrovia ligando
Curitiba ao porto de Paranaguá. O relevo era tão acidentado e com
desníveis tão grandes que o projeto chegou a ser considerado impossível
por diversos engenheiros europeus, mas cinco anos depois as obras
estavam concluídas e o trem fazia sua viagem inaugural. A linha tem 110
km de extensão e vence um desnível de 900 metros. Informações
detalhadas podem ser obtidas na Estação Ferroviária de Curitiba, com a
empresa Serra Verde Express.
Para quem faz este passeio a
primeira parada é na estação de Marumbi, onde pode ser apreciada a
vegetação do Parque Nacional do Pico do Marumbi, incluindo o Morro do
Leão e também o Pico Marumbi, muito procurado por montanhistas. A
estação seguinte é em Morretes, ponto ideal para algumas comprinhas e –
se já for hora do almoço - experimentar também um Barreado, o prato
típico do Paraná. O Barreado é um cozido à base de carne bovina
fibrosa, sem osso e sem gordura, tradicionalmente temperado com
condimentos tropicais, preparado em panela de barro, com os
ingredientes colocados em camadas e cobertos com folhas de bananeira. O
cozimento se dá em fogo de lenha brando ao longo de 18 horas.
Conta-se que o Barreado tem
propriedades estimulantes e até mesmo afrodisíacas, pois desde o
período colonial os caboclos do Paraná atravessavam os dias de festas
se alimentando somente de Barreado, com vigor e energia sempre
renovados. O pessoal daqui garante até mesmo que quem experimentar
Barreado nunca mais vai esquecer a sensação. O que nós sentimos? Rá
rá.. Não vamos entrar em detalhes, mas acredite, não deixe passar a
oportunidade de experimentar esta delícia.
Outra alternativa para ir à Morretes é percorrer a Estrada Graciosa,
que segue a antiga rota dos tropeiros até o litoral, e atravessa
diversas regiões bonitas, matas, riachos, e dispõe de sete recantos
turísticos de onde se pode apreciar a bela vista deste trecho da Mata
Atlântica.
|
Santa
felicidade não é somente o bairro italiano de Curitiba, na verdade
Santa Felicidade é uma festa para os olhos e os sentidos. Surgida em
1878, esta parte de Curitiba teve o nome inspirado em Felicidade
Borges, a rica latifundiária que doou estas terras para a colônia
italiana se estabelecer, com a condição que o bairro recebesse seu
nome. Destaca-se no bairro a igreja Matriz de São José e seu grande
campanário, de acordo com a tradição religiosa italiana. Para chegar lá
basta seguir toda vida a Av. Manoel Ribas. Ao longo desta rua e da Via
Veneto estão construções históricas do bairro, como a Casa dos Gerânios
(1891), a Casa dos Painéis (início do século 20), a Casa das
Arcadas (100 anos de idade) e a Casa Culpi (erguida em 1897), além de
lojinhas, padarias, restaurantes diversos e vinícolas. |
No
início os colonos de Santa Felicidade se dedicavam à produção de vinhos
e queijos, à plantação de erva mate e produtos granjeiros. Atualmente o
grande atrativo do bairro é seu pólo gastronômico, onde logicamente a
culinária italiana é o destaque. Diversos restaurantes disputam a
clientela local e as centenas de turistas que visitam o bairro
diariamente, e o ideal é ir lá quando você já estiver com bastante
fome, porque a comida é farta, apetitosa e barata. Sugerimos os
tradicionais galetos italianos, que não tem nada a ver com aqueles
galetos servidos em todo lugar da mesma forma. Aqui eles vem
acompanhados de radicci, polenta frita, sopa de capeletis, massas de
todos os tipos, costelinhas, saladas, lasagnas, gnocchi e bons
vinhos... Mama mia! Dentre todos os restaurantes da região o mais
tradicional é o Restaurante Madalosso
(ao lado) que além do bom atendimento é famoso também pelo tamanho
(mais de sete mil m2, com capacidade para atender cinco mil pessoas ao
mesmo tempo) o que lhe deu o título de maior restaurante das Américas. |
|
Não deixe de visitar também
algumas das tradicionais vinícolas e cantinas de vinho (imagem acima),
as lojas de artesanato e de móveis de vime, e tire uma fotografia junto
ao Portal de Santa Felicidade, que homenageia os imigrantes italianos e
sua cultura. E para completar o dia, no caminho de volta passe também
no bairro Mercês e aproveite para visitar a Torre panorâmica da Brasil Telecom (de onde fizemos a imagem abaixo). Vídeo: Mirante da Torre Telecom
|
Em resumo, o que vimos em Curitiba é que esta pode ser, realmente, uma
cidade fria, com freqüentes neblinas e sem praias, mas de alguma
forma, a cidade irradia um certo calor de origem desconhecida. Vem das
pessoas que vivem aqui? Talvez. Ou talvez isto seja somente poesia ou
ainda empolgação de turistas bem impressionados. O fato é que em
Curitiba sentimos um astral positivo, proveniente de seus habitantes,
quem sabe por viverem numa cidade bonita, agradável e principalmente
bem resolvida, tipo aquelas pessoas legais que a gente encontra de vez
em quando. Curitiba é uma cidade de bem com a vida, onde as pessoas não
somente sobrevivem, mas vivem. Sem baladações exageradas e sem
primeiras páginas, mas de bem com a vida. |
|
|