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Conhecida, graças a seus inúmeros canais e pontes, como Veneza Brasileira, Recife na verdade é muito mais do que isso. Assim como as pessoas bonitas, ela tem uma face cativante, que encanta logo à primeira vista. Como as pessoas agradáveis, oferece uma companhia que não dá para enjoar. Como as pessoas cultas, tem histórias que dão prazer em ouvir. E como as pessoas boas, é impossível ela não ganhar o coração da gente. Em resumo, é um daqueles lugares onde a vida merece ser vivida, e onde muitos turistas se perguntam, meio frustrados: Porque eu não fui nascer aqui?

   

Para começar sua visita à capital do Frevo, ritmo que embala todas as festas da cidade, nada melhor que visitar o Ponto Zero. Este local representa a posição exata onde a cidade foi fundada, e sua localização está demarcada na pavimentação próxima ao porto por um círculo colorido, que serve também com ponto inicial de todas as rodovias do estado de Pernambuco (foto ao lado). Ao fundo, casarões históricos exibem, orgulhosos, as origens nobres da cidade, e parecem nos contar alguma coisa sobre as lendas e histórias de Recife, envolvendo holandeses e portugueses. Já quem gosta de modernidades e shoppings não vai ficar sem opções.

Comece pelo Shopping Recife, um dos maiores do país. Mais ao sul, no município vizinho de Guararapes, encontra-se o Shopping Guararapes. E aproveite ainda para visitar depois o Shopping Tacaruna, situado entre Recife Antigo e a cidade de Olinda. 


 

A recuperação da área histórica próxima ao Ponto Zero, conhecida com Recife Antigo, foi um projeto bem sucedido, sendo que o melhor ponto para apreciar o belo resultado deste trabalho é a Rua do Bom Jesus (foto ao lado), antiga Rua dos Judeus, onde foi construída a primeira sinagoga das Américas. Abriga diversos bares, e aos sábados à noite é um lugar muito animado. Nesta mesma área situa-se a Torre Malakof, construção de 1855 que serviu como observatório astrológico.

Conheça a Catedral Madre de Deus, que data de 1709. Entre na antiga Sinagoga Kahal Zur Israel, primeira sinagoga das Américas, construída em 1637, desativada 17 anos depois, e reaberta ao público como espaço cultural. E embarque num dos catamarãs que partem do Ponto Zero para ver Recife Antigo de outro ângulo, não esquecendo de fazer uma foto quando passar em frente à imensa escultura metálica de Brennand em forma de totem, que muitos afirmam ter um significado fálico.

O principal cartão turístico de Recife é a Praia da Boa Viagem, onde estão situados modernos prédios residenciais (foto ao lado), os melhores hotéis, bares, restaurantes e um comércio muito diversificado. Ao longo da orla de Boa Viagem (foto inicial desta página) são diversos quilômetros de praia, e a melhor forma de apreciar as belezas deste litoral é percorrendo seu agradável calçadão, largo e bem disposto, entremeado por muita vegetação, onde as palmeiras predominam. Para quem não sabe, o nome da cidade foi motivado pelos Arrecifes, um cordão de pedras que acompanha toda a orla, a cerca de 100 metros da areia, e que tem como vantagem formar um tipo de piscina, entre a areia e os arrecifes. Ah sim, estes arrecifes também protegem a gente contra ataques de tubarões....

Chegou a hora do almoço e não sabe por onde começar? Pois as opções são muitas, desde o Caruru, preparado com camarão, azeite de dendê, quiabo e castanha de caju, até a Buchada de Bode, à base de arroz com miúdos de bode. Ou então que tal deliciar-se com uma Moqueca, ensopado de peixes condimentado, ou ainda um Xinxim de Galinha, delícia regional que incorpora abóbora, caju, camarões e carne de galinha?

 

Ao lado, foto tirada na entrada do Forte do Brum, situado a pouca distância do Recife Antigo. Este forte teve sua construção iniciada pelos portugueses, em 1629, e foi batizado com o nome de Forte Diogo Paes. Seu objetivo era reforçar a entrada da barra do porto do Recife contra invasões. Mas ao que parece, os planos dos portugueses não deram muito certo, porque mesmo assim a cidade foi invadida e tomada pelos Holandeses no ano seguinte. Estes gostaram tanto da fortificação que decidiram ampliá-la ainda mais, somente mudando seu nome para Fort Bruyne, em homenagem ao chefe do conselho holandês.

Atualmente, o Forte do Brum apresenta interessantes exposições abertas ao público sobre armas, vestimentas históricas, bandeiras antigas e aspectos da cidade, sua história, geografia, além de informações sobre batalhas e conquistas de holandeses, portugueses e brasileiros nas terras de Pernambuco e do nordeste brasileiro.

Recife é banhada pelos rios Capibaribe e Beberibe e um trajeto pelas ruas da cidade com certeza vai levar você a cruzar muitas pontes. Nesta região, que constitui o centro administrativo e comercial da cidade, valem ser conhecidos o Palácio das Princesas, construção de 1841 que serve com residência do governador estadual, e está situado no mesmo local onde encontrava-se o Palácio de Friburgo, construído pelo conquistador holandês Maurício de Nassau. Visite também o Teatro Santa Isabel, datando de 1850, e assim denominado em homenagem à Princesa Isabel.

Conheça ainda os belos prédios do Palácio da Justiça e Liceu de Artes e Ofícios. Tire alguns momentos também para conhecer a Praça da República, antigo Campo de Honra da Província, onde foram enforcados os líderes da Revolução Pernambucana de 1817, e por último não esqueça de aproveitar para fazer uma foto em ao lado do majestoso Baobá (Você leu o livro O Pequeno Príncipe?). Quem desejar ainda conhecer a principal artéria nervosa da cidade, com pessoas apressadas pelas calçadas e trânsito intenso, deve passar pela Rua da Boa Vista.

Turistas costumam ficar fascinados ao chegar na Oficina de Cerâmica Brennand, situada numa antiga olaria. No atelier deste renomado artista estão em exposição permanente centenas de peças, desde azulejos decorados até telhas em estilo colonial passando por objetos diversos saídos de sua imaginação, como as famosas esculturas gigantes. A Oficina de Brennand está situada no Engenho São João, bairro da Várzea.

Quem vai a Recife tem um passeio obrigatório por fazer, situado a pouca distância: Tire um dia para visitar a cidade de Caruarú, maior pólo comercial do interior, famosa principalmente por sua feira, onde encontra-se de tudo para todos. Percorrer as barraquinhas e lojas da feira de Caruarú é com certeza uma experiência fascinante, pois aqui estão representadas todas as facetas artísticas e culturais de Pernambuco.

Lá estão peças de artesanato, esculturas, calçados, vestimentas, bolsas, redes, artigos para decoração doméstica, eletrônicos, etc, etc. Os melhores dias para visitar esta feira são quintas e sábados. Em Caruarú não deve deixar de ser visitado também o Museu de Barro, onde fizemos a foto ao lado.

O Museu do Barro é dedicado à memória de Mestre Vitalino, gênio das artes, que apesar da infância difícil, foi autodidata, e estabeleceu as bases de uma escola de modelagem de barro que iria ganhar com o tempo inúmeros adeptos, e tornar-se um dos maiores símbolos da arte nordestina. Hoje em dia, ninguém que visite o nordeste volta para casa sem uma daquelas pequenas esculturas representando retirantes, cangaceiros, padeiros, músicos, mulheres rendeiras, meninos brincando, e tantas outras personagens do dia a dia nordestino.

Perguntado certa vez porque começou a fazer estas esculturas, ele simplesmente respondeu: Eu fazia estas figuras de barro representando as coisas que eu via. Mas sua simplicidade não impediu que a fama de Mestre Vitalino corresse o mundo. Completam o Museu do Barro, salas dedicadas a trabalhos de outros artistas influenciados por Mestre Vitalino. Na entrada do museu, nada melhor para homenagear Vitalino, do que dois bonequinhos gigantes, iguaizinhos aos milhares que ele fez durante toda sua vida, embora num tamanho bem menor.

 

Vista dos casarões históricos frente ao rio. Recentemente reformada, a recuperação deste trecho da cidade a transformou numa fotogênica Promenade, integrada ao projeto de revitalização do centro histórico da cidade. O lado cultural religioso de Recife pode ser conhecido em várias localidades do centro. Comece pela Capela Dourada da Ordem Terceira de São Francisco, construída em 1697, seu interior dourado costuma deixar os turistas emocionados. Depois siga até o Convento Nossa Sra. do Carmo, de 1687, situado no histórico palácio de Maurício de Nassau, onde Frei Caneca fez seus votos religiosos. 

 

Entre os passeios turísticos ais recomendados na orla pernambucana está uma visita a Porto de Galinhas, situada a setenta quilômetros ao sul de Recife. Devido às suas águas claras e transparentes, as areias límpidas, as jangadas à espera dos turistas para passeios pelo mar, Porto de Galinhas é considerada como um das localidades mais paradisíacas do litoral brasileiro.

No caminho para lá, aproveite para visitar também o Engenho Massangana (situado na estrada PE60, entre Cabo e Ipojuca, próximo ao acesso para Suape), local histórico agora restaurado, onde é possível aprender muito sobre como era a vida nestes antigos engenhos, e do que eles representaram para a economia de Pernambuco, como por exemplo a produção de açúcar, a vida dos escravos, e ainda conhecer a capela nos fundos do engenho, que aos domingos atraía todos os fiéis de quilômetros em volta (foto ao lado). O Engenho Massangana foi um lugar à frente de seu tempo, e aqui a abolição foi decretada bem antes de passara vigorar no resto do país

Foi também no Engenho Massangana que viveram e casaram-se minha (Regina) avó, bisavó e trisavó, e outras tantas gerações até onde o tempo permite lembrar. Posso dizer que foi muito emocionante conhecer pessoalmente o lugar sobre o qual ouvi falar toda minha vida, e estar no mesmo lugar onde viveram meus antepassados.

Quase todo turista gosta de levar para casa lembranças, curiosidades e artigos típicos de cada lugar visitado. Em Recife, o lugar certo para estas compras é na Casa de Cultura, antiga Prisão da cidade. Este imenso prédio em forma de cruz e com quatro andares ainda preserva as celas que no passado guardavam os prisioneiros, mas com a diferença que no lugar deles agora estão, depois da reforma a que o prédio foi submetido, muitos artesãos, artistas e comerciantes oferecendo redes, redes, camisetas decoradas, lanchonetes e muito mais. A foto ao lado foi clicada numa das celas desta antiga prisão, naqueles painéis onde se enfia a cabeça, e representa as figuras míticas de Lampião e Maria Bonita, os reis do Cangaço.

Como se sabe, o Cangaço foi um movimento social, onde grupos armados percorriam as terras do interior, saqueando propriedades, raptando mulheres, fazendo justiça com as próprias mãos, pilhando, roubando, enfrentando tanto a polícia como os Coronéis e poderosos latifundiários. O Cangaço surgiu em fins do século 19, e espalhou-se por todo nordeste brasileiro. 

No imaginário popular os cangaceiros eram justiceiros, e roubavam dos ricos para dar aos pobres, mas na verdade eles eram nada mais que ladrões e assassinos que lutavam em causa própria, distribuindo migalhas de seus saques entre a população carente, tentando angariar simpatia e cumplicidade. A influência cultural do Cangaço foi tão forte, que seus nomes mais conhecidos são até hoje reverenciados e cantados em prosa e verso, como sinônimos de coragem e heroísmo.

Dentre todos os cangaceiros que fizeram história, e foram milhares, nenhum deles tornou-se mais temido e respeitado que Lampião, nascido em Pernambuco, e sua mulher Maria Bonita, conhecidos até hoje como osReis do Cangaço.

 

Outra visita imperdível não muito distante de Recife e logo depois de Caruarú é Nova Jerusalém, maior teatro ao ar livre do mundo e certamente o único construído para encenar somente uma única peça, no caso, a Paixão de Cristo. Todos os anos, durante os 10 dias da semana santa, mais de dez mil turistas vem assistir de perto e ao vivo a reconstituição das últimas horas da vida de Jesus Cristo. Certamente você já assistiu reportagens sobre este lugar, mas mesmo assim é difícil não se surpreender com a grandiosidade dos cenários. Quando lá estivemos até as nuvens escuras e ameaçadoras pareciam contribuir para tornar ainda mais autêntico e dramático o cenário do dia da Crucificação.

Cobrindo uma área imensa, Nova Jerusalém tem cenários permanentes, representando as muralhas da cidade, os palácios de Herodes, Pilatos, os templos, torres e neles a multidão vai, de um em um, acompanhando os atores, à medida que se sucedem as cenas representando cada fato histórico.

Em Nova Jerusalém, cada detalhe, não somente dos cenários, mas também as luzes, sons, mobiliários, bandeiras, atores e atrizes, são cuidadosamente planejados como uma produção de Hollywood. Nada é deixado ao acaso. Tudo é elaborado com o objetivo de dar ao público a nítida sensação de ter voltado dois mil anos e estar presenciando de fato as últimas horas da vida de Jesus.

São freqüentes até mesmo casos de turistas que chegam a passar mal, tomados pela emoção de presenciar a história ao vivo. Nova Jerusalém tem ainda uma simpática pousada, onde turistas podem se hospedar e até participar como figurantes da montagem teatral. Mesmo fora da semana Santa é possível visitar o local, conhecer os cenários, almoçar no restaurante dos atores, e tirar fotos junto aos empregados, todos eles sempre vestidos como romanos e galileus, tal como eram as coisas há dois mil anos. Veja mais detalhes nos sites Pousada da Paixão e Nova Jerusalém. A cidade-teatro está situada no município de Fazenda Nova. Sua idealização e construção foram obras de um homem de visão como poucos, o saudoso Plínio Pacheco.

Entre as pontes mais conhecidas do Recife estão a Maurício de Nassau. Construída em 1643, ela não apresenta mais o antigo arco, conhecido com Arco da Conceição, o qual foi demolido em 1917. Uma das curiosidades de Recife é observar como o nome Maurício de Nassau parece estar presente em todos os lugares. Ao conhecer a história dessa cidade, percebemos, no entanto, que nada poderia ser mais justo, pois este holandês teve uma influência decisiva na formação de Recife. Outra ponte histórica da cidade é a Ponte Velha, que liga o bairro de Santo Antônio ao bairro do Coelho. Destaca-se ainda na relação de pontes da cidade a Ponte da Boa Vista, que com elegantes treliças metálicas une a rua Nova à rua Imperatriz. Ao lado, imagem do calçadão da praia de Boa Viagem.

Além de seus pratos típicos e de Maurício de Nassau, Recife tem outra marca registrada muito conhecida, o Frevo, ritmo contagiante que impera durante o carnaval, e ao qual é impossível resistir. Dizem que o frevo surgiu no final do século 19, e logo caiu no gosto popular. Tem suas origens na capoeira trazidas pelos escravos africanos, misturados ao balé clássico e danças holandesas e portuguesas.

A palavra Frevo originou-se na linguagem simples do povo, que pronunciava frever no lugar de ferver, significando que ia se agitar, dançar e se divertir muito. Existem várias modalidades deste ritmo, mas os mais conhecidos são o frevo-canção, frevo de Rua e Frevo de Bloco. Passar o carnaval em Recife é garantia de ouvir muito frevo pelas ruas, principalmente se você ver passar o Galo da Madrugada, reconhecido como o maior bloco de carnaval do mundo. E se quiser entrar no clima de verdade, não abra mão de levar uma sombrinha colorida, considerada o símbolo da alegria do frevo.

 

As Carrancas que decoram os jardins da praia da Boa Viagem remetem às antigas embarcações que cruzavam o rio São Francisco, e que tinham por finalidade afastar os demônios das águas e fornecer uma viagem segura aos navegantes. Mesmo que sua função agora seja apenas decorativa, pode-se dizer que elas cumprem bem seu trabalho, pois Recife é uma cidade de astral positivo. Nada mesmo poderia representar melhor a vivacidade de Recife do que o Frevo, pois ele não é uma música de saudades, mas de alegria e de coisas positivas.

E depois de partir, quando for contar para seus amigos sobre esta cidade tão alegre e especial, por favor lembre de falar da forma correta: Você não esteve em Recife. Você esteve no Recife!

Vídeo: Decolagem do Recife