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Durante
muito tempo, quando era criança e saía de férias, visitava Caxias do
Sul todos os anos. Ou melhor, passava por um trecho de Caxias do Sul.
Ou melhor ainda, permanecia dez minutos num restaurante de Caxias do
Sul. Aquela era a última parada no trajeto entre Rio e Porto Alegre e
os passageiros do ônibus da Penha tinham direito a alguns minutos para
esticar as pernas antes de seguir viagem. Depois que deixei de
enfrentar estas maratonas rodoviárias nunca mais voltei a Caxias, e a
cidade permaneceu em minha memória como que parada no tempo, com o
mesmo restaurante em frente à mesma praça. Somente há pouco tempo
voltamos a Caxias, e quando chegamos a impressão que tivemos foi que
nunca tínhamos estado naquela cidade. Nada era reconhecível, nada era
igual. Caxias do Sul não era mais um belo projeto. Era uma fascinante
realidade |
Tudo
bem, a gente já sabia que Caxias é a segunda maior cidade do Rio Grande
do Sul, importante pólo industrial e econômico, onde estão cerca de
sete mil indústrias, responsáveis por grande parte do PIB estadual,
terra onde todos os anos acontece a famosa Festa da Uva. Sabíamos que
ela está situada em plena serra gaúcha, rodeada por castelos de pedra,
cascatas, museus, cânions, montanhas, grutas, ponto de partida para uma
infinidade de roteiros turísticos, e famosa por oferecer todos os
sabores da culinária gaúcha e italiana, embalados pelos bons vinhos de
suas dezenas e dezenas de vinícolas, desde as simples e caseiras até as
de fama internacional. Mas mesmo sabendo de isso tudo a chegada foi uma
surpresa. Após deixarmos as malas no irrepreensível hotel Blue Tree
Tower fomos conhecer melhor aquela cidade que não tinha mais nada
a ver com nossas antigas memórias. |
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Todo
roteiro turístico em Caxias do Sul deve começar pela Igreja de São
Pelegrino (ao lado), cuja história data do início da colonização da
cidade. Tudo começou com Rafael Buratto, que recebeu de presente uma
imagem de São Pelegrino, santo de sua devoção. Decidiu então construir
uma pequena capela em seu terreno, que daria origem à famosa igreja.
Mas a fama do templo religiosos deve-se sobretudo às obras de arte que
lá estão, cobrindo teto e paredes, de autoria do genial Aldo Locatelli.
Também as portas da igreja, em bronze fundido, são obras primas do
italiano Augusto Murer. Pesam sete toneladas e representam,
respectivamente, a Paz, o Amor e a Justiça. Reserve um bom tempo para
percorrer Igreja de São Pelegrino, e conhecer as diversas obras primas
que lá estão.
Sugestão: Se você está viajando por conta
própria, considere arranjar um guia de turismo local para lhe
acompanhar por algum tempo. Temos feito isto em diversas cidades e
podemos garantir que vale a pena. Estes profissionais fazem a gente
ganhar tempo, conhecer direto o melhor de cada lugar, dão dicas de
atrações especiais, restaurantes de bons preços e nos permitem
aproveitar ao máximo a visita. Geralmente na portaria de seu hotel é
possível conseguir boas indicações, com horários e preços a combinar.
Foi assim que fizemos em Caxias, acompanhados pelo eficiente guia Élbio
Paolino (artedoturismo). |
Falar
em Caxias do Sul é falar da imigração italiana no sul do Brasil.
Inevitável perguntar porque eles vieram para cá, um lugar de
acesso difícil, no alto da serra. Eles se estabeleceram nesta região
simplesmente porque as áreas de topografia e acesso mais fácil já
haviam sido ocupadas por levas anteriores de colonos, quase todos
alemães. O governo imperial brasileiro, em conjunto com o governo da
então Província do Rio Grande, tinha interesse em ocupar a região entre
o norte do estado e os vales do sul, e providenciou a vinda de quase
dois mil colonos, quase todos provenientes da região do Vêneto, ao
nordeste da Itália. Os primeiros chegaram em 1875 e um ano depois já
eram cerca de dois mil colonos na localidade conhecida como Colônia
Caxias, em homenagem à Duque de Caxias. Ao lado uma imagem da Av. Júlio
de Castilhos, situada no centro. |
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Um
dos mais importantes testemunhos da história de Caxias é a pequena
construção que aparece na imagem ao lado, conhecida como Casa de Pedra,
erguida por Giuseppe Lucchesi no final do século 19. A casa resiste ao
tempo graças ao material utilizado na obra, simplesmente pedras
rústicas unidas com argamassa de barro. Depois de ter servido a
atividades diversas, como residência, armazém, ferraria e abatedouro de
suínos, ela foi aberta à visitação pública em 1974. Atualmente a Casa
de Pedra oferece aos visitantes uma boa oportunidade de voltar ao
século 19, como se em seu interior o tempo tivesse parado, graças aos
diversos objetos que lá estão. Visitantes conhecem a sala de estar,
despensa e cozinha no térreo e quartos no andar de cima, com diversos
utensílios de época. |
Entre as indústrias de Caxias
do Sul, destaca-se, como já era de esperar, a vinícola. A cidade tem
cerca de 60 diferentes vinícolas, como a renomada Aliança, ou ainda a Château Lacave, Piagentini, Zanrosso e Velho Museu.
As melhores áreas comerciais da cidade situam-se no centro, ao longo
das avenidas Júlio de Castilhos e rua Sinimbú. Quem prefere shoppings
pode ir direto ao Shopping Iguatemi Caxias,
situado junto à saída da cidade em direção à Farroupilha, e que não
fica nada a dever aos shoppings das grandes capitais brasileiras.
Mesmo
quem não visita Caxias durante o principal evento turístico da cidade
- a Festa da Uva - não deve deixar de conhecer os pavilhões
onde a festa acontece, na imagem ao lado, nem que seja somente para
desfrutar da melhor vista da cidade. Agora, se você vai curtir de perto
a Festa da Uva
prepare-se, porque a programação é intensa e super animada, desde os
concursos para escolher a rainha e princesas das festividades até os
desfiles com carros alegóricos ao longo das principais avenidas,
passando pelos diversos eventos de música e dança e a animação do
gigantesco pavilhão, onde temos pela frente a difícil tarefa de
degustar centenas de uvas, sucos e vinhos e decidir qual é o
melhor, e ainda por cima arranjar jeito de experimentar todas as
delícias gastronômicas que se oferecem à nossa frente. Ah, como é
difícil a vida de um turista... |
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Diversas fotos em alta resolução de Caxias do Sul
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Ao
lado um trecho da réplica de Caxias do Sul, tal como era a cidade em
1885. Fazem parte deste interessante grupo de construções em madeira,
residências, lojinhas e uma igreja, em destaque na imagem ao lado. O
conjunto, erguido de acordo com os padrões construtivos vigentes na
época da imigração, é bastante rústico, e nos dá uma idéia da vida
simples que levavam os primeiros colonizadores de Caxias. Atualmente a
moderna Caxias esparrama-se sobre uma grande área e diversas colinas,
bairros diversos e zonas residenciais e comerciais bem demarcadas.
Graças à estas ladeiras (não esqueça que por aqui estamos na serra
gaúcha), caminhadas por Caxias devem ser planejadas com atenção para
não cansar as pernas. |
Bem na entrada da réplica de
Caxias do Sul, não deixe de fazer uma foto ao lado do Monumento à
Naneto Pipeta, como é conhecido o criativo monumento erguido em
homenagem ao típico colono nascido na Itália e vindo para o Rio Grande.
A bem humorada obra, de autoria do artista Roberto Mugnol
simboliza a saga da imigração italiana, e foi inspirada num antigo
conto local.
Após um período de crescimento
acelerado, em que infelizmente grande parte da história arquitetônica
da cidade foi abandonada, Caxias vem, já há alguns anos, promovendo uma
gradual recuperação de seu legado arquitetônico. Nesta relação
destacam-se os prédios históricos do Palacete Eberle,
Casa Scotti, Livraria Saldanha, Metalúrgica Abramo e Banco Mercantil,
bem como a Casa de Pedra citada acima, e também a Capela São Roque e
Capela do Santo Sepulcro. Procure conhecê-los, pois cada um deles tem
para contar um pedacinho da história de Caxias do Sul.
Ao
lado, vista da praça Dante Alighieri. Bem ao fundo, outro prédio
histórico, o do Banrisul. No passado, durante o inverno, não era
incomum esta praça amanhecer coberta de neve. Atualmente, graças ao
aquecimento global, a neve é rara e quando ocorre vem em pouca
quantidade. Mesmo assim as temperaturas médias da cidade são baixas,
oscilando em torno dos 16 graus, e o inverno costuma ser rigoroso, com
temperaturas caindo abaixo de zero.
Ladeando a praça
estão as principiais vias da cidade, a Av. Júlio de Castilhos e rua
Sinimbú, e mais ao lado a Pinheiro Machado e 18 do Forte. Por aqui
estão diversos bons hotéis, restaurantes, bares e as principais redes
comerciais. Tire também um tempinho para percorrer esta praça, e quem
sabe,sentar num banco e observar a vida correndo em volta.
Freqüentemente há eventos ou exposições temporárias montadas nesta
praça que é o coração de Caxias. |
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Curiosidade: Quando estiver
visitando a praça, eleve os olhos na direção da rua Sinimbú com Mq. do
Herval e talvez consiga ver, no alto de um prédio e acima de sua
cobertura, uma pequenina e humilde casinha de madeira, ao estilo
colonial. Ninguém mora naquela casa, mas a construção de madeira, ao
estilo das primeiras construções coloniais de Caxias, foi colocada
naquele ponto tão improvável como um marco, apenas uma lembrança que,
antes de surgirem todos os prédios de Caxias a pequena construção era o
padrão construtivo predominante por aqui. Infelizmente a pequena casa
não é aberta à visitação pública.
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À
esquerda mais uma vista da praça Dante Alighieri, considerada o coração
de Caxias. Nesta imagem vê-se também o campanário e a catedral da
cidade, erguida num estilo gótico inspirado na Basílica de S. Antônio
de Pádua, Itália. Ao percorrer seu interior atente para o altar, bela
obra de Francisco Meneguzzo e o conjunto de janelas laterais do andar
superior, decorado com vitrais belíssimos, trazidos da Alemanha. Quando
chegar a hora do almoço a pedida certa é um prato típico da região, que
não poderia ser outro senão O "Galeto al Primo Canto". que geralmente é
servido no sistema de rodízio, acompanhado de muitas massas, saladas,
radicci, sopas de capelettis e de agnolini, costelas assadas, arroz de
carreteiro, salada de batatas com maionese e bacon, entre outros
pratos, sempre com muita polenta frita e um bom vinho. Existem dezenas
de bons galetos em Caxias, e entre os melhores, num ambiente agradável,
destaca-se a Casa di Paollo. |
Como a economia local
desenvolveu-se a partir da cultura da uva, atividades de outras áreas
também foram beneficiadas, principalmente as madeireiras e mecânicas,
ambas relacionadas ao processamento e armazenamento de vinho.
Atualmente Caxias constitui o segundo pólo-mecânico do Brasil, com
indústrias fabricando desde ônibus e caminhões até talheres e lâmpadas.
Isto permitiu à cidade serrana um desenvolvimento excepcional,
suplantando até mesmo diversas outras cidades do sul do país.
O Monumento ao Imigrante,
ao lado, homenageia, como o próprio nome diz, todos os imigrantes que
atravessaram o oceano e vieram forjar novas comunidades e vidas no sul
do Brasil. Inaugurado em 1954 e situado numa das entradas da cidade o
monumento tem na base as estátuas de um casal e uma criança. O homem,
com uma enxada nos ombros, protege os olhos com uma mão enquanto
estende os olhos à frente, como se tentasse ver o futuro. Ao seu lado,
a mulher com o filho no colo transmite a idéia de segurança e união
familiar. A porta da cripta, em bronze, traz a imagem de Luiz Antônio
Feijó recebendo os imigrantes, emoldurada por versos gravados de
autoria de Cassiano Ricardo, enquanto o obelisco por trás das figuras é
ornado com baixos relevos e guarda uma cripta sob a qual foi instalado
um espaço cultural destinado a abrigar exposições diversas.
Curiosidade:
Ainda é possível encontrar, entre os mais velhos de Caxias do Sul, quem
fale o dialeto usado pelos colonos italianos ao chegar, o qual é uma
mistura de vêneto e português. |
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Para conhecer mais da história
de Caxias vale ainda visitar também o Museu Municipal de Caxias do Sul,
que tem um acervo dedicado à história da colonização da cidade e
utensílios diversos da época colonial. Outro local que não pode ser
esquecido é o Museu da Uva e do Vinho,
que relata de uma forma muito interessante o processo de fabricação do
vinho, bem como dos diversos objetos relacionados ao tema, inclusive
tanoaria (montagem de vasilhames de madeira para o armazenamento) e
cestaria (técnica de fabricação de cestos e arte de trabalhar fibras).
O museu funciona no prédio histórico da Cooperativa Vitivinícola
Forqueta.
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Além
das atrações da cidade, todas situadas numa área próxima e de fácil
acesso, turistas não devem deixar de conhecer as atrações vizinhas,
relacionadas à colonização inicial de Caxias. Um dos programas mais
agradáveis é conhecido como o "Caminho da Colônia".
O percurso de aproximadamente 40 km de extensão, entremeando asfalto e
terra batida, passa por diversos cenários bucólicos, serpenteando entre
as encostas da serra gaúcha, e dependendo da época do ano, você verá um
mar de parreirais cobertos de uvas. Inevitável sentir neste momento
vontade de parar à beira da estrada, colher e experimentar na hora
alguns cachos daquela variedade surpreendente de uvas verdes, claras e
negras, rosadas, de todos os tamanhos. Mas mesmo que sua visita não
seja na época da colheita, não deixe de conhecer as outras atrações do
Caminho da Colônia, como museus, pequenas igrejas erguidas pelos
colonos, parques, cascatas, vales, tudo entremeado por diversas
cantinas e restaurantes servindo comida típica, queijos, salames, copas
e uma imensa variedade de delícias coloniais típicas. Vídeo: Caxias do Sul |
Outro roteiro recomendado na
região é a "Estrada do Imigrante", em meio à belas paisagens e
arquitetura típica. Ao longo do roteiro podem ser apreciados diversos
pontos turísticos ligados à colonização local, como a Casa do
Imigrante, Museu Zinani, Vinícola Grutinha, Igreja de Pedra Sacro
Cuori, Gruta Nossa Sra. de Lourdes e a Casa Bonnet, que também serve
como ponto de partida para passeios em carroças típicas. Lojinhas
oferecendo produtos típicos, artesanato e produtos coloniais também
merecem uma parada.
Sugerimos reservar uma tarde
completa para conhecer com calma cada um dos dois roteiros, parando à
vontade onde desejar, tanto no "Caminho da Colônia", como na "Estrada
do Imigrante". Ao longo dos caminhos e de suas pequenas localidades
visitantes encontrarão ainda pousadas e hotéis-fazenda que constituem
uma boa alternativa de hospedagem para quem quiser realmente fazer
uma imersão cultural na região.
Lembre também que Caxias está
muito próxima de Bento Gonçalves, outro destacado ponto turístico da
Serra Gaucha, portanto na hora de montar seu roteiro considere também
uma visita até esta outra cidade. Existe mesmo uma saudável rivalidade
entre Caxias e Bento Gonçalves no que diz respeito à fabricação de
vinhos, onde cada uma alega que seus vinhos são os melhores. Cabe a nós
turistas, ver quem tem razão. Ah, como é difícil a vida de um
turista....
Ao
final de nossa visita à Caxias aquela imagem antiga que tínhamos da
cidade já havia evaporado de nossas cabeças. A imagem que agora ficou é
a de uma cidade agradável, com bom padrão de vida, um friozinho
gostoso, ruas que sobem e descem, com um jeitinho de cidade pequena e
uma indústria de cidade grande, misturada à um povo simpático e
orgulhoso de suas origens e tradições, que oferece ótimas cantinas,
galeterias memoráveis, festas animadas, tudo regado a suculentas
polentas e bons vinhos. Uma cidade que em pouco mais de cem anos
cresceu, apareceu e merece ser incluída em qualquer bom roteiro pela
Serra Gaúcha. |
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