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Mesmo
não tendo o charme inconfundível de outras cidades históricas de Minas,
como Tiradentes ou Ouro Preto, é impossível pensar num passeio completo
por esta região sem incluir São João del Rei. Primeiro porque ela está
logo ali no caminho de chegada, e depois porque apesar de ser uma
cidade moderna ela soube conservar com cuidado um inestimável tesouro
arquitetônico, cultural e religioso. Pode-se dizer que São João é uma
cidade com duas faces, o moderno, que nada fica a dever a qualquer
cidade brasileira de médio porte, e o tradicional. Foi este lado que
nos atraiu até lá e com certeza valeu a pena. Caminhando por seus
bairros antigos, observando as fachadas dos casarões tradicionais e
visitando suas igrejas seculares, tem-se a impressão de ter voltado no
tempo até o século 18, época das sinhazinhas, escravos e inconfidentes,
e de alguma forma os automóveis e prédios modernos parecem não
pertencer àquele mesmo lugar. |
O
antigo Arraial Novo do Rio das Mortes foi a origem da cidade, no
distante ano de 1705. Foi graças à descoberta de ouro nas Minas Gerais
que começaria uma colonização organizada, através da distribuição das
terras a vários favorecidos pela Coroa portuguesa. Somente em 1714
a localidade foi elevada a vila, tendo então recebido o nome de São
João de Rei em homenagem a Dom João V, rei de Portugal. O centro
da cidade é cortado pelo Rio das Mortes (imagem ao lado), na ocasião de
nossa visita transformado num belo gramado, mas que durante a época das
chuvas transforma-se num rio caudaloso. Ao longo do canal situam-se
diversos prédios comercias, hotéis, escolas, a estação ferroviária e um
movimento incessante de trânsito e de pedestres. Duas pontes de
pedra se destacam no centro histórico, a Ponte da Cadeia, construída em
1797 e a Ponte do Rosário, de 1900, sendo que na primeira quem olhar
com atenção poderá ver o espaço destinado aos mercadores de escravos,
pois este era um dos locais mais usados na cidade para sua compra e
venda. |
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Uma
caminhada por São João del Rei deve ser feita com olhos atentos e
máquina fotográfica nas mãos, porque a cada esquina surgem ângulos
novos e fascinantes para fazer aquela imagem perfeita. Deixe o lado
moderno para lá e vá direto ao que a cidade tem de melhor: Suas
igrejas, ruas e casarões históricos. Comece percorrendo os endereços
mais conhecidos, como o Solar dos Neves e dos Lustosa, depois vá
até o Solar da Baronesa, onde atualmente funciona o Centro Cultural UFSJ, e
então siga para o antigo asilo de São Francisco, o Solar dos
Viegas, a Casa Mais antiga da cidade, agora sede do IHG, depois vá até
a Casa de Bárbara Heliodora e o Solar do Barão de Itambé. Mas não deixe
sua caminhada ficar no óbvio, e siga em frente pelas ruelas, becos e
vielas, fundos das igrejas, praças e lugarejos, que junto com postes,
lampiões, luminárias, telhas, portais e enfeites arquitetônicos
diversos criam uma variedade infinita de ângulos, cores e perspectivas
fascinantes. |
São
João del Rei é bonita durante o ano topo, mas se existe uma época
mágica para visitar a cidade é durante a Semana Santa, quando diversas
ruas são decoradas com arranjos coloridos para a passagem da
procissões. Um dos pontos mais marcantes destas procissões são os
Passos, como são conhecidas as pequenas capelas, abertas somente
durante a Semana Santa e Quaresma. Nestes Passos, construções
demarcadas com símbolos religiosos em suas fachadas, a procissão é
suspensa durante alguns minutos para que os fiéis fazem suas orações em
cada Passo, reproduzindo os passos de Cristo durante a Via Sacra. Do
total de Passos construídos originalmente em São João del Rei, hoje
restam somente cinco. Ao lado, outro recanto do bairro histórico. |
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Na
imagem ao lado vê-se as palmeiras situadas frente à Igreja de São
Francisco de Assis. Bem perto daqui vale visitar o Museu de Estanhos
John Somers, que reúne um acervo muito variado de peças nacionais e
estrangeiras. São João del Rei e adjacências formam um dos maiores
pólos produtores de peças de estanho do país, e é quase impossível
resistir em levar para casa algumas das belas peças em exposição. Na
região existem dezenas de fábricas e lojas, oferecendo deste pequenas
peças até autênticas obras primas na forma de jogos de chá, taças,
copos, vasos, pratos castiçais e tudo mais que a imaginação dos
artistas é capaz de criar.
Saindo daqui e dobrando à esquerda vale visitar ainda o Chafariz da
Legalidade, construído em 1934 pela Câmara Municipal para registrar a
elevação da cidade à categoria de capital provisória da Província de
Minas Gerais, em 1833. E não esqueça o Museu de Arte Sacra, situado no
mesmo local onde antes ficava a Cadeia Pública da Vila de São João
del-Rei. O prédio hoje reúne um valioso acervo de peças
sacras, telas e pratarias, com destaque para a cabeça de Cristo
esculpida por Aleijadinho |
Se
toda cidade tem um ponto marcante, uma espécie de marca registrada ou
símbolo, o lugar especial de São João del Rei é este: A igreja de São Francisco de Assis,
considerada como referência obrigatória da arquitetura colonial
religiosa. Já em 1749 existia neste mesmo local uma pequena capela
dedicada à São Francisco de Assis, que acabaria sendo demolida. Com
projeto original de Aleijadinho, para sua execução seria contratado o
mestre Francisco de Lima Cerqueira. Este, após efetuar algumas
alterações, deu início aos trabalhos em 1774, e cerca de vinte anos
seriam necessários à conclusão dos trabalhos.
Ela é a
mais bela construção da cidade, visita obrigatória de qualquer turista.
Está localizada frente à um jardim ornado com palmeiras imperiais (foto
acima), no sopé de uma colina que lhe confere um ar nobre, como se
estivesse a dominar a cidade a seus pés. A porta foi esculpida com
pedra sabão enquanto o interior em estilo rococó abriga um deslumbrante
lustre de cristal Bacarat. Não deixe de pedir para algum guia local lhe
acompanhar, pois olhos de leigos (como os nossos) geralmente não tem
condições de apreciar toda a riqueza das inúmeras obras de arte em seu
interior. Se possível procure estar lá aos domingos, quando a missa da
manhã é acompanhada por música barroca, e não deixe também de visitar o
túmulo do presidente Tancredo Neves, situado nos fundos da igreja. |
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Vídeo: Em frente à Igreja
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Em
várias cidades mineiras são encontrados trabalhos de Aleijadinho, como
era simplesmente conhecido Antônio Francisco Lisboa, o maior nome das
artes plásticas em Minas e mesmo em todo o Brasil, durante o período
colonial. Em São João seus trabalhos estão em todos os cantos,
inclusive no Museu Regional da Cidade, o qual está instalado num belo
sobrado que em outras épocas pertenceu ao Comendador João Antônio da
Silva Moura, personagem muito influente na época. Lá estão diversas
peças datando dos séculos 18 e 19, como móveis, liteiras, arado,
tear e roca de fiar, além de outras curiosidades da época. Merecem
destaque entre estas peças o órgão que pertenceu a Igreja de Nossa
Senhora do Carmo, duas figuras de presépio e uma imagem de São
Sebastião atribuídas à Aleijadinho.
Entre as diversas
igrejas históricas de São João, destaca-se também a de Nossa Senhora do
Pilar, construída em 1721 por iniciativa da Irmandade do Santíssimo
Sacramento para substituir a antiga capela, incendiada durante a Guerra
dos Emboabas. A igreja é dotada de um belíssimo interior, repleto de
obras barrocas, com destaque para os altares laterais e suas lâmpadas
suspensas de prata. Em 1960 foi elevada à catedral e em 1965 recebeu o
título de basílica, passando então a ser conhecida como Basílica de
Nossa Senhora do Pilar. |
Vídeo: Na Praça
No
alto de uma escadaria, como que a desafiar a fé dos devotos, situa-se a
Igreja de Nossa Senhora das Mercês. O primeiro templo deste local foi
construído em 1751, mas não chegou até nossos dias. Em 1877, após ser
demolido a primeira construção, foram iniciados os trabalhos da nova
igreja, a mesma que vemos hoje. A Ordem de Nossa Senhora das Mercês da
Redenção dos Cativos foi fundada na Espanha, com a intenção de libertar
os cristãos vencidos pelos guerreiros oriundos do norte da África,
conhecidos como Mouros. A Ordem veio para o Brasil durante o período
colonial e em Minas Gerais cresceu muito, se transformando numa das
mais influentes da época. No altar da igreja há uma preciosa imagem de
Nossa Senhora das Mercês, que atrai multidões durante as festas
religiosas. |
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Ao lado, um trecho da rua onde está localizado o Solar dos Neves, casarão onde morou o presidente Tancredo Neves.
Este é um dos trechos mais bem conservados da cidade, com nítida
influência colonial e somente os automóveis parecem destoar do ambiente
típico de outros séculos. Turistas que compararem os dois lados de São
João, o novo e o antigo, com certeza vão considerar o lado antigo mais
bonito e chega-se à inevitável conclusão que seria ótimo se toda a
cidade fosse assim. Mas São João é como tantas outras cidades do mundo,
e mesmo guardando trechos de seu passado histórico, acabou tendo que
ceder espaço às novas construções e à vida moderna. |
Na fachada do prédio ao lado lê-se EFOM, significando Estrada de Ferro Oeste de Minas,
e esta é a estação terminal de uma das mais importantes e históricas
ferrovias brasileiras. Foi inaugurada em 1881, ligando as estações de
Sítio, Barroso, São José del-Rei (antigo nome de Tiradentes) e São João
del-Rei. Como consta dos registros históricos, no início a companhia
contava com quatro locomotivas, quatro carros de primeira classe,
quatro de segunda, um de luxo, dois de bagagens, dois de animais,
quinze vagões fechados, dez abertos e um carro guindaste. O trecho da
ferrovia que liga São João del Rei a Tiradentes é o mais famoso, e aos
fins de semana fica quase sempre lotado de turistas, ansiosos pelo
passeio de 12 km ligando as duas cidades.
O elegante
galpão de estrutura metálica de onde ainda partem os trens foi
construído nos Estados Unidos, trazido aos pedaços, e somente ao chegar
aqui a estrutura foi montada. Em frente situa-se a avenida Tiradentes,
a principal da cidade, onde estão diversos prédios históricos, como o
renomado Hotel Brasil, casarão de dois andares em estilo
colonial. Na estação funciona também um museu, e entre as peças
expostas estão peças mecânicas, diversos equipamentos, fotos de época e
também algumas locomotivas a vapor, além de carros de passageiros e de
carga. |
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Vídeo: Frente ao EFOM
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Visite depois o Memorial Tancredo Neves,
situado junto à Ponte do Rosário, onde a vida do famoso político é
contada à medida que percorremos suas salas. Conheça também a casa do
barão de são João del Rei, elegante sobrado que um dia pertenceu ao
Barão de São João del-Rei. Foi neste endereço que, em 1881,
hospedou-se o imperador Pedro II, quando o mesmo visitou Minas Gerais
para inaugurar a Estrada de Ferro Oeste de Minas. No prédio hoje
funciona uma repartição estadual.
Ao lado, um trecho
da Rua Santo Antonio, antigamente conhecida como rua Torta. Este
local foi o coração e origem da São João histórica, e por aqui passava
a famosa Estrada Real, por onde era conduzido todo o ouro extraído das
Minas Gerais rumo aos portos e a seguir para Portugal. |
De
certa forma São João del Rei nos deixou a impressão de ser um lugar
onde os casarões tradicionais e igrejas seculares do século 18 estão em
constante disputa com os modernos prédios do século 21. Uma disputa por
espaço e influência, onde somente o tempo vai demonstrar quem venceu.
Por enquanto estes dois lados da cidade convivem harmonicamente, embora
seja fácil constatar que o lado moderno vem ganhando cada vez mais
espaço. A imagem ao lado, mostrando a Igreja de São Francisco de Assis
e os modernos prédios em volta, foi feita a partir do mirante do Alto
da Bela Vista, o ponto mais elevado da cidade, onde há também um
monumento ao Cristo Redentor. É o local ideal para se ter uma vista
geral da cidade, fazer belas fotos e torcer para que o lado histórico
de São João del Rei seja preservado para sempre.
Vídeo: Alto da Bela Vista |
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Alguém aceita um pão de queijo?
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