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Muito
antes de surgir a fama de Porto Alegre ou de falarem tanto nos encantos
de Gramado, antes das missões de Santo Ângelo se tornarem patrimônio
universal ou dos rochedos de Torres virarem badalados points
turísticos, enfim muito antes de tudo que hoje é procurado pelos
turistas no sul, Pelotas já estava lá, ocupando uma posição de destaque
como centro econômico e cultural do sul do país. E na esteira deste
sucesso vieram palacetes, mansões, teatros, e belas histórias que
merecem ser contadas e preservadas.
Mas eu
não sabia nada disso quando tinha seis anos. Pelotas para mim era
apenas uma cidade bonita onde as vezes eu ia passear, e onde meu
avô Mário trabalhava como gerente de banco, num prédio de esquina que
para mim era enorme. |
Meu
avô se aposentou, deixou Pelotas, e eu também nunca mais voltei lá.
Somente agora, décadas mais tarde, surgiu a chance de rever a cidade, e
foi com o coração acelerado e os olhos bem abertos que, depois de
algumas horas de viagem pela BR116 pegamos o acesso rumo ao
centro. E à medida que chegávamos à Pelotas da minha infância meus
olhos, quase instintivamente procuravam alguma imagem familiar, algo
conhecido, mas era inútil, pois tudo que víamos era novo. As emoções de
reencontros estavam reservadas para o dia seguinte. Por enquanto o que
Pelotas nos revelava é que tinha crescido sem ter se transformado numa
floresta de espigões. Tinha se modernizado sabendo preservar sua
história. E tinha se popularizado, mas mantendo uma aura de
nobreza. Praças bucólicas, modernos prédios de apartamentos e palacetes
históricos aparentavam conviver bem, como nos demonstrava a histórica
praça Coronel Osório, vista na imagem ao lado. |
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Entre
os ícones arquitetônicos do período áureo da cidade destaca-se o Grande
Hotel (prédio amarelo atrás das palmeiras, na imagem logo acima),
construído entre 1925 a 1928. Em estilo art noveau, o imóvel de quatro
andares tem 76 quartos, 6 suites, salão de chá, restaurante, escadaria
de mármore, corrimãos de ferro trabalhado e uma grande clarabóia
executada com vidros trazidos de Paris. No Grande Hotel eram
organizados grandes banquetes e os principais eventos públicos de
Pelotas. Sim, Pelotas era chique! Mas como uma cidade situada tão no
extremo sul do Brasil e afastada dos grandes centros, chegou a este
ponto de riqueza?
Bem,
tudo começou com as Charqueadas. Elas deram início à tudo por aqui. Nas
Charqueadas era produzida a carne de gado salgada, conhecida na região
sul como charque, na região norte como carne de sol e por outros nomes
em diferentes regiões. O charque era algo que podia ser armazenado com
facilidade, não estragava, era fácil de transportar, e indispensável
para a alimentação de populações inteiras, Brasil afora. Ou seja, era
ouro puro.
Na
época o Rio Grande do Sul já possuía imensos rebanhos e a região de
Pelotas situava-se próxima ao oceano, ligada ao mar através de um
arroio e da Lagoa dos Patos, o que garantia facilidade para escoamento
da produção. Tudo isto fazia da região um ponto ideal para implantação
de charqueadas e foi com esta aguçada visão empresarial que o português
José Pinto Martins, recém chegado do Ceará, estabeleceu no local a
primeira charqueada, em 1779.
Sua
idéia foi um sucesso e em pouco tempo José Martins estava rico. Tal foi
o sucesso econômico de sua charqueada que nos anos seguintes diversos
outras foram estabelecidas na região, às margens do arroio Pelotas. E
graças ao dinheiro proveniente das charquedas logo surgiriam também
hotéis, mansões, teatros, palacetes, prestigiadas instituições de
ensino, cresceria o comércio, apareceriam estradas, surgiria uma elite
econômica e nasceria uma cidade: Pelotas.
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A
elite pelotense tinha dinheiro para construir uma bela cidade e não
poupou despesas para contratar grandes arquitetos e renomados artistas,
fossem do Brasil ou do exterior. Havia mesmo uma certa competição entre
esta elite, onde cada um procurava construir algo mais vistoso ou
imponente. Surgem então prédios belíssimos, catedrais e imensos
teatros, algo nunca visto naquela remota região ao sul do Brasil e
fazendo com que Pelotas logo ganhasse o apelido de "Princesa do Sul"
enquanto outros mais empolgados apostavam que a cidade neste ritmo iria
tornar-se uma Paris dos Pampas.
Ao lado dois prédios
clássicos da Pelotas histórica. À direita (em rosa) a Biblioteca
Pública Pelotense, imóvel de 1878, onde está o segundo maior acervo de
livros técnicos, didáticos e de ficção do estado. A seu lado (em
amarelo) o prédio da prefeitura, construção de 1880, projetada
obedecendo às linhas estéticas do ecletismo histórico, e adornado com
elementos neoclássicos. |
Em frente a estes prédios
situa-se a Praça Coronel Osório, considerada o coração histórico de
Pelotas. Uma curta caminhada pela praça nos conduz ao imponente
chafariz central (As Nereidas, importado da França em 1873), e mais
adiante até os monumentos As Três Idades do Trabalho e Monumento à
Mãe, obras de Antônio Caringi. Não deixe de conferir também o
interessante Relógio Solar e a coluna homenageando Yolanda Pereira,
primeira brasileira a ganhar o título de Miss Universo, em 1930. Fora
isto, a praça é o lugar ideal para sentar um pouco, e observar a
pessoas e simplesmente observar o movimento em volta.
Impossível
falar em Pelotas sem também lembrar de seus doces. E porque os doces de
Pelotas são especiais? Bem, conta-se que as receitas foram trazidas
ainda pelas primeiras colonas portuguesas, alemãs e italianas,
incorporaram segredos dos vizinhos uruguaios, receberam alguns retoques
regionais e foram passando de geração em geração, É claro que nós
experimentamos diversos deles, e com toda sinceridade, concluímos que
sua fama é justa, porque eles são mesmo divinos. E olha que já provamos
doces de muitos lugares! Nesta imensa relação, onde constam doces
refinados e caseiros, pequenos e grandes, trabalhados, decorados e
ornamentados, destacam-se alguns clássicos sempre lembrados, como as
famosas passas de pêssegos, um autêntico ícone pelotense. |
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Assim, dê uma pausa na
caminhada turística para curtir um bom café ou chá acompanhado de
alguns quitutes pelotenses. A cidade tem alguns endereços tradicionais
para estes momentos e entre os mais agradáveis estão a exclusiva
Doçaria Pelotense (Rua 15 de novembro, centro) e a concorrida
Cooperativa Doceiras de Pelotas (Rua Andrade Neves, centro). Mesmo que
não tenha nenhuma mesa vaga ao chegar lá não desista, e espere um
pouquinho porque valerá a pena. Ah, e quando for saindo e disser
Obrigado para a moça que lhe atendeu, não estranhe se em vez de ouvir
"de nada" ela lhe disser "merece". Assim é por aqui.
Agora, se você é um autêntico
doçólogo (apaixonado por doces) imperdível é visitar Pelotas durante o
período de realização da Fenadoce - Feira Nacional do Doce - evento
anual realizado para promover a cultura doceira da região. Desde o ano
2000 o coração da festa acontece num mega-pavilhão construído
especialmente com esta finalidade, batizado de Centro de Eventos
Fenadoce e situado num dos trevos de acesso ao centro. Para saber
mais detalhes sobre o mais importante evento turístico de Pelotas
visite o site da Festa Nacional do Doce: Fenadoce.
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Nas
Charqueadas que resistiram à passagem do tempo as atividades atualmente
desempenhadas são muito diferentes daquelas praticadas há quase 200
anos. Hoje elas estão voltadas para o turismo ou hospedaria. Não
deixe de visitar, por exemplo, a Charqueada São João, muito bem
preservada interna e externamente. O ambiente é tão autêntico que a
rede Globo usou o casarão como locação para as gravações da mini-série
"A Casa das Sete Mulheres". A propriedade situa-se às margens do Arroio
Pelotas e pertenceu ao português Antônio Gonçalves Chaves. O lugar está
aberto à visitação pública e oferece tours diários acompanhados, onde a
história do casarão, das charqueadas e das importância deste ciclo
no desenvolvimento de Pelotas é relatado em detalhes. |
O interior do imóvel guarda
diversos objetos usados no dia a dia das atividades desempenhadas nas
charqueadas, além de móveis e objetos de uso pessoal de várias épocas.
No terreno existem ainda resquícios da senzala e um jardim ornado com
estátuas, figueiras e fontes. Auguste de Saint-Hilaire, o conhecido
naturalista francês, também esteve aqui, e em sua obra descreveu o
casarão como sendo "dividido em grandes peças, que se comunicam, umas
com as outras, e ao mesmo tempo, se abrem para fora", ou seja, "gênero
de distribuição adotado em todo o Brasil".
Depois da visita já deve ser
quase hora do almoço. Sugerimos então ir ao agradável e saboroso
restaurante e churrascaria Cruz de Malta (Av. Bento Gonçalves) que além
de dispor de um ambiente descontraído, tem garçons simpáticos e bons de
papo, como o que nos confessou que adoraria um dia poder conhecer o Rio
de Janeiro. Ou então a badalada Galeteria Lobão, quase em frente.
Já Quem prefere bufês com opções light pode ir sem susto no agradável Mariahs.
Ou quem sabe, já que estamos tão perto da fronteira sul, porque não
curtir um churrasco ao estilo dos nossos vizinhos uruguaios? Neste caso
vá direto ao El Paisano, que serve carnes especiais e receitas tradicionais de nossos vizinhos, inclusive a famosa Parillada uruguaia.
Vídeo: Pelotas vista do alto
Quando
o pessoal de Pelotas quer ir à praia tem duas opções: Pegar a estrada e
percorrer os sessenta quilômetros até o mar e curtir a Praia do
Cassino, ou então ficar mesmo aqui por perto e aproveitas as águas da
Lagoa dos Patos e a tradicional Praia do Laranjal (imagem ao lado). O
local compreende os balneários de balneários Santo Antônio, Valverde e
Prazeres, e durante os meses quentes de verão costuma ficar
animadíssimo. Conta-se que o nome faz referência à primeira ocupação
destas terras, quando teria sido feita tentativa de implantar um
laranjal por aqui, mas que acabou não indo em frente.
A
praia do Laranjal situa-se a dez minutos do centro e foi uma das
primeiras áreas povoadas de Pelotas, graças aos habitantes da vila de
Rio Grande, que buscando refúgio dos invasores espanhóis, começaram a
ocupar esta região às margens da Lagoa dos Patos.
O
famoso trapiche, passarela que avançava centenas de metros água
adentro, e que acabou se tornando um símbolo do Laranjal, foi
interditado, pois estava recebendo mais visitantes do que havia sido
previsto e projeto. Mas esperamos que em nossa próxima visita ao
Laranjal, a prefeitura já tenha providenciado uma nova passarela, que
comporte com segurança todos os visitantes e que esteja à altura do que
este badalado balneário merece. |
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Quem gosta de ser acompanhado
por um bom guia turístico, capaz de mostrar o melhor da cidade e
relatar aspectos históricos e curiosidades locais, como nenhum livro
consegue fazer, sugerimos pedir à portaria de seu hotel para contatar a
Terrasul Pelotas, que indicou a simpática Lucinda para nos acompanhar, e que deu um show de conhecimento sobre tudo relacionado à Pelotas.
Não deixe de incluir no roteiro
o Cine Teatro Guarany, inaugurado em 1921 com a apresentação da ópera O
Guarani de Carlos Gomes, por uma companhia lírica italiana. Durante
setenta e cinco anos, com suas 920 poltronas e 65 camarotes, o Guarany
esteve à frente da cena cultural do Rio Grande do Sul, apresentando
inúmeras produções cinéfilas e teatrais. Como diversos outros salas do
gênero no Brasil, o Guarany mudou de funções e nos últimos anos e
passou a abrigar principalmente espetáculos de música, dança e
solenidades diversas. Seu exterior aguarda ainda por reformas que
deverão deixá-lo com a aparência à altura de sua importância histórica,
mas seu interior já foi reformado e merece ser visitado com calma.
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Foi
das sacadas deste prédio, quando criança, que por diversas vezes
assisti aos famosos desfiles de carnaval em Pelotas. Reencontrar o
mesmo imóvel que marcou minha infância foi o momento sentimental de
nosso retorno à cidade. Na época meu avô era gerente do Banrisul e
residia com a família no andar superior da agência. O prédio histórico,
sede do Banco Pelotense a partir de 1916, foi construído para
desempenhar funções administrativas, bem como para servir de residência
ao gerente e funcionários graduados. Obedecendo a um projeto de linhas
clássicas, o prédio tem subsolo e térreo ricamente ornados, enquanto o
segundo pavimento, recuado em relação à fachada, tem uma monumental
sacada ponteada com colunas gregas. |
Durante o período de esplendor
econômico de Pelotas, o Banco Pelotense foi um dos mais ricos do país,
com dezenas de agências, inclusive em outros estados. Interesses
políticos e financeiros diversos, aliados à recente revolução de 1930
se uniram, fazendo com que o Banco Pelotense tivesse sua falência
decretada em 1931, passando então o imóvel a ser ocupado pelo recém
criado Banrisul.
Outro imóvel histórico de
Pelotas é o Clube Caixeral, prédio de três andares, com diversos
elementos decorativos externos, colunas, platibandas frontões e figuras
mitológicas representando os deuses Hermes (do Comércio) e Hefesto (da
Indústria). Não deixe de observas as cornucópias, de onde jorram ouro,
espigas de milho e cachos de uva (representando produção e riqueza) e
as palavras gravadas em relevo: Economia, Actividade e Prudência.
Importante também na história
da cidade é o Teatro Sete de Abril, primeira casa de espetáculos a
funcionar no estado, comumente freqüentado por companhias teatrais de
outras regiões do país e até mesmo do exterior, assim que chegavam ao
estado, através do porto de Rio Grande. As arquitetura art-decô é
resultado da remodelação ocorrida em 1916, já que pelo projeto original
(1833), de autoria do engenheiro alemão Eduardo Kretschman, o Sete de
Abril ostentava dois pavimentos, platibandas vazadas, colunas e balcões
com parapeitos de ferro trabalhado. Por três vezes o Sete de Abril
recebeu a família imperial brasileira: 1846, 1865 e 1885, quando o
Conde d'Eu e a Princesa Isabel visitaram Pelotas. Num dos momentos mais
dramáticos de sua história, o teatro foi ocupado pelas tropas de Bento
Gonçalves, no período em que estourou a Revolução Farroupilha.
Marcante
e muito conhecida em Pelotas é a Catedral da Igreja Episcopal Anglicana
do Brasil, conhecida por aqui como Igreja Cabeluda, devido às
heras que recobrem suas paredes externas. Foi construída em 1892, e sua
torre tem 27 metros de altura, sendo que os vitrais, com citações
bíblicas foram especialmente encomendados e trazidos de New York.
Graças às heras, conforme a estação do ano, as paredes da igreja mudam
de cor. Na Primavera, o tom é verde claro, no verão, perde despe-se das
folhas e recobre-se somente das raízes cinzas e em maio fica
respectivamente rosa e marrom. |
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O vocábulo Pelotas, na
linguagem dos indígenas locais, era usado para designar pequenas
embarcações, geralmente feitas de varas de madeira forradas com couro,
puxadas por uma pessoa e usadas para a travessia de cursos d’água. Como
os primeiros colonos da região também costumavam usar estas embarcações
para transpor o arroio junto às suas terras, o nome acabou sendo
utilizado para designar aquele riacho, surgindo então o Arroio Pelotas.
Com o tempo a palavra passou a ser usada também para designar a cidade
que iria surgir ao sul do arroio Pelotas.
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A
principal avenida da cidade é a Bento Gonçalves, onde estão diversos
restaurantes, lojas comerciais etc. Perpendicular à mesma, correm
paralelas na direção do porto diversas ruas, alternando casarões
históricos, simples residências, modernos prédios de apartamento,
hotéis e estabelecimentos diversos. As principais atrações do centro
histórico situam-se nesta área, que pode ser percorrida a pé sem
qualquer dificuldade. Como vantagem adicional, Pelotas é uma cidade
plana, poucos metros acima do nível do mar, sem qualquer colina ou
elevação, o que torna caminhadas um programa fácil e agradável.
Passeios alternativos na região incluem uma visita à quase vizinha
cidade de Rio Grande (57 km de distância) e à praia oceânica de Cassino
(trecho da maior praia ininterrupta do mundo, o litoral gaúcho), e que
serve também como rota até o extremo sul do Brasil, o Chuí (230 km),
fronteira com o Uruguai.
Vídeo: Balneário Cassino |
Se as "Estâncias" eram os
criadouros de gado, as Charqueadas eram seu local de extermínio e nas
duas extremidades desta cadeia grandes fortunas foram feitas e
importantes cidades surgiram. No apogeu deste ciclo cerca de quarenta
charqueadas funcionavam nos arredores de Pelotas, todas operando com
mão de obra escrava, sendo que o número de cabeças de gado abatidas
chegava a quase meio milhão por ano. Durante os picos de produção,
entre os meses de novembro a abril, conta-se que o arroio Pelotas
ficava vermelho, graças ao sangue derramado nas charqueadas. Vísceras e
outras partes não aproveitáveis dos animais também eram lançadas no
arroio, causando mal cheiro e trazendo sérios problemas sanitários à
região.
O
principal templo religioso de Pelotas é a Catedral São Francisco de
Paula (ao lado), construída a partir de 1832. A Catedral guarda uma
imagem de São Francisco de Paula, padroeiro de Pelotas. O primeiro
templo foi destruído por um raio, e somente em 1846, após visita do
Imperador D. Pedro II, foi lançada a pedra fundamental para a
construção de uma nova catedral, que seria ainda decorada com belos
vitrais e afrescos de autoria do renomado pintor italiano Aldo
Locatelli. O artista tem trabalhos diversos em cidades gaúchas, como no
Palácio Piratini (sede do governo gaúcho) e Igreja Santo Pelegrino
(Caxias do Sul), mas considera-se que algumas de suas mais
representativas obras estão em Pelotas. A Catedral ganhou a aparência
atual somente em 1948, com a construção da imensa cúpula (projeto de
1847 do arquiteto Roberto Offer ) e de sua cripta. |
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Diversos fatores contribuíram
para o fim do ciclo das charqueadas, a começar pela abolição da
escravatura, que acabou com a mão de obra dos charqueadores. Depois
surgiram os grandes frigoríficos, permitindo armazenar e
transportar carne não salgada. E completando o ciclo vieram as
geladeiras domésticas, permitindo à populações inteiras ter acesso à
carne fresca. O charque não era mais ouro.
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Outra
visita que não pode faltar em seu roteiro é ao Museu da Baronesa, que
preservou através do tempo alguns aspectos do luxo e riqueza em que
viviam as famílias abastadas de Pelotas durante o século XIX. A
propriedade ocupa área de 7 hectares, tendo como centro o belo casarão
de 800 m2, distribuídos em vinte e duas peças, pátio interno, jardins,
grutas e diversos outros recantos agradáveis. No local podem ser
apreciados belas peças de mobília, enxovais bordados, vestuário de
época, baús, tapetes, louças, esculturas, pinturas e tudo aquilo que
decorava os lares da fina flor pelotense. |
Casarões deste tipo são um
retrato fiel das residências de famílias abastadas da época, sendo que
o Solar da Baronesa foi comprado em 1863 por Aníbal Antunes Maciel,
como presente de casamento para seu filho com Amélia Hartley de
Brito, carioca de ascendência inglesa. O casal deixou o Rio de Janeiro
e se estabeleceu em Pelotas, sendo que durante os vinte e três anos de
matrimônio, implementou diversas melhorias e embelezamentos na
propriedade.
Aníbal Maciel tornou-se famoso
por ter concedido liberdade a seus escravos muito antes da promulgação
da Lei Áurea, o que lhe fez ganhar o título de Barão, concedido por D.
Pedro II, notório abolicionista. Sua viúva, Amélia Harthey Antunes
Maciel tornou-se também notória por sua bondade e altruísmo, sendo que
graças à ela a propriedade passou a ser conhecida como Solar da
Baronesa.
Esta rica parcela da população
surgiu primeiramente com a indústria do charque e posteriormente
trouxe desenvolvimento à Pelotas graças aos negócios e ao dinheiro que
orbitavam em torno do charque. Surgiram então importantes centros
comerciais, bancos, clubes, sociedades, teatros, e formou-se uma elite
politicamente influente e de vida cultural intensa. Era comum famílias
enviarem seus filhos para estudar na Europa. Importantes capitais, como
Rio, São Paulo e Buenos Aires, também eram rotineiramente freqüentadas
por esta camada privilegiada da população, que por sua vez era
influenciada pelos hábitos destas grandes cidades, copiava seus
modismos e os trazia para Pelotas. Títulos de nobreza eram concedidos
pelo Imperador às figuras mais proeminentes, e Pelotas teve seus
barões, viscondes e condes, fazendo surgir, o que na época ficou
conhecido como "Aristocracia do Charque".
Como seria de esperar, o
sucesso de Pelotas começou a incomodar e causar inveja a outras regiões
do Rio Grande do Sul. Gaúchos da Campanha, acostumados a lidar quase
que exclusivamente com cavalos e vacas, vinham a Pelotas e encontravam
barões, baronesas, homens e mulheres bem vestidos, perfumados, cultos e
falando francês. Para o homem rude do interior, Pelotas passou então a
ser vista como uma cidade diferente. Unidas, ignorância e preconceito
fizeram surgir a lenda que Pelotas era "cidade de gente diferente e
esquisita". Estereótipo que, mesmo após o termino do ciclo de ouro da
cidade, ainda é ouvido em nossos dias.
Ao
lado imagem de singelas residências situadas na pracinha frente à
Catedral São Francisco de Paula. Em 1929, somente cinco charqueadas
sobreviviam em Pelotas. Atualmente não há mais nenhuma economicamente
ativa. Em seu lugar surgiram outras indústrias, notadamente a de arroz
(uma das mais renomadas no Brasil, Tio João, é de Pelotas) e a de
aspargos e pêssegos para indústria de conservas, na qual Pelotas é a
maior produtora do país. Outras atividades econômicas importantes são o
agronegócio, industria têxtil, laticínios, curtimento de couro e
reflorestamento para produção de papel e celulose. Ainda assim, a
cidade não foi capaz de transformar a totalidade do vigor econômico das
charqueadas em outros empreendimentos igualmente lucrativos e entrou
num período de depressão econômica. |
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Nos últimos anos atividades
relacionadas ao turismo, comércio, prestação de serviços e eventos como
a Fenadoce, tem atraído cada vez mais visitantes a Pelotas, terceira
cidade mais populosa do estado. Em nossa visita à cidade ficamos
hospedados no Jacques Georges Hotel, impecável em conforto e
atendimento. Mas quem quiser curtir as origens de Pelotas e entrar de
cabeça no clima das antigas charqueadas tem a opção de hospedar-se numa
delas, a Pousada Charqueada Santa Rita.
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Pelotas
é um dos municípios mais antigos do Rio Grande do Sul. Sua elevação à
cidade ocorreu em 1835, poucos meses antes de ser deflagrada a
Revolução Farroupilha. No passado chegou a ser considerada como a
verdadeira capital econômica do estado, mas hoje é lembrada
principalmente como a principal metrópole do extremo sul brasileiro,
terra de doces deliciosos e de pêssegos sem igual. Para nós esta visita
foi um reencontro e ao mesmo tempo uma redescoberta. Enquanto a Pelotas
de meus seis anos viverá para sempre em minha memória, a Pelotas de
agora avança em novos caminhos, cresce e exibe orgulhosa uma silhueta
elegante, espelhada nas águas que conduzem à Lagoa dos Patos. Merece. |
Veja diversas fotos em alta resolução de Pelotas
Típicos doces de Pelotas
Veja este vídeo |
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